Pés de brownies

Estudando História com meu filho, que está no 7º ano e vai ter prova na semana que vem.

O assunto: Idade Média. Estávamos na parte do livro que descrevia a vida nos feudos, descritos como autossuficientes, praticamente sem comércio exterior.

– O que é “autossuficiente”, pai?

– É que não precisa de ninguém para viver. Seria como se não precisássemos mais ir ao supermercado, pois plantaríamos tudo em casa.

– Legal! Um pé de Hershey’s, um pé de pizza…

Demos boas gargalhadas só de pensar nos pés de Hershey’s e de pizzas na varanda de casa. Depois pensei: nesta pequena sacada, meu filho de 12 anos de idade desmontou o tal de “projeto Brasil” do Bresser Pereira, e todo o chamado “pensamento desenvolvimentista”. Explico.

A sociedade atual é muito, mas muito mais complexa que a sociedade medieval. O feudo podia ser autossuficiente, pois o mais rico lá vivia uma qualidade de vida imensamente inferior em comparação ao mais pobre do mundo atual. Não havia eletricidade. Não havia banheiro. Não havia livro. Não havia vacinas nem antibióticos. A comida era aquela plantada e criada no feudo, e só. A expectativa de vida ao nascer era pouco mais de 30 anos. Dava para ser autossuficiente.

Hoje não dá. Seria impossível o acesso à quantidade de bens e serviços que temos à disposição sem comércio. E o comércio só existe com preços livres. Preços controlados tornam o comércio disfuncional, até, em alguns casos, torná-lo impossível. O sistema de preços livres faz com que a alocação de capital seja a melhor possível, a menos de distorções localizadas e não permanentes.

Todo sistema econômico que tentou controlar preços, de uma maneira ou de outra, acabou por tornar a economia um caos. Estes controles podem ser explícitos (congelamentos de preços) ou implícitos (controle de taxa de câmbio, de taxa de juros, subsídios dos mais diversos tipos, etc). Vivemos, aqui mesmo, o congelamento de preços de quatro planos heterodoxos, que resultaram em desabastecimento e, no final, não controlaram a inflação. Também vivemos a tentativa de controlar o câmbio, no governo FHC, com o resultado sabido. E vivemos os diversos subsídios na era Lula/Dilma, com as distorções que levaram à maior recessão da história brasileira.

O ideario “desenvolvimentista” tem como pressuposto o Estado ditando os preços da economia. O empresário é visto como um sanguessuga, que deve ser trazido com cabresto curto, senão acaba acumulando toda a riqueza da sociedade. A burocracia estatal teria este condão de acertar o “preço justo” dos juros, o “preço justo” do câmbio, o “preço justo” da eletricidade, etc, etc, etc. No fim, temos a destruição do sistema de preços.

Uma sociedade que destrói o sistema de preços volta a ser medieval. Não é à toa que Maduro tem estimulado o plantio de hortaliças nas casas de seus compatriotas (ele próprio cria galinhas em seu palácio). A economia medieval é autossuficiente, e a Venezuela caminha célere nesta direção. Os padeiros já estão proibidos de produzirem brownies, somente podem produzir pães básicos, pois falta matéria-prima, em função dos controles cambiais. Resta aos venezuelanos plantarem pés de brownies em suas casas.

Os fanáticos do profeta

Há algum tempo venho querendo escrever sobre isso, mas outros assuntos mais urgentes atropelaram.

Trata-se da pergunta de Eugênio Bucci a João Doria no Roda Viva. Foi a primeira pergunta do programa. Mais do que uma pergunta, Bucci tirou satisfação de Doria. Será que o prefeito de São Paulo não tem sido muito duro com Lula e com o PT? Afinal, apesar de seus erros, têm também os seus acertos, e representam (ou representaram) a esperança de milhões de brasileiros.

A resposta de Doria foi a óbvia, e o vídeo está rodando por aí. Nada justifica a roubalheira e a maior recessão do Brasil.

Eugênio Bucci retomou o assunto em artigo no Estadão na quinta-feira, reforçando o argumento com a publicidade das delações da Odebrecht. Afinal, se todos roubaram, menos justificado ainda o ódio dirigido especificamente a Lula e ao PT. Todos mereceriam a execração.

O argumento estaria correto, a menos de um detalhe, que não tem nada de pequeno: Lula e o PT se auto-proclamam os porta-vozes dos pobres, os únicos que buscam os verdadeiros interesses do povo. No dizer de Doria, na sua resposta a Bucci, “pretendem deter o monopólio da virtude”.

Quem não se lembra? Bastava criticar alguma política pública, e você era acusado de não gostar que pobre “andasse de avião”, ou que “o filho da empregada frequentasse a mesma universidade que os ricos”, ou ainda, que “a elite ficou incomodada com a ascenção dos mais pobres”.

Pior do que esse discurso, no entanto, é o tratamento de profeta que Lula recebe. Pessoas supostamente inteligentes, diante de evidências cada vez mais evidentes, preferem atacar a Lava-Jato a admitir que seu profeta talvez não seja, assim, tão santo.

Se um dia Aécio Neves ou Alckmin forem depor ao juíz Sergio Moro, juntarão, quando muito, meia dúzia de curiosos. Já Lula e o PT estão convocando os seus discípulos para defender o seu profeta. Tudo bem que está cada vez mais difícil de encontrar discípulos que atendam ao chamado sem um pão com mortadela, mas me refiro aqui aos intelectuais de miolo mole, que fazem de graça.

Esta é a diferença: o problema de Aécio ou de Alckmin com a justiça é problema deles. O problema de Lula com a justiça é problema de seus discípulos. Discípulos do profeta, que o defendem como se defendessem suas próprias vidas. Imagine se Aécio consegue subir hoje em um carro de som na Paulista e ser aplaudido. Mas Lula consegue. Esta é a diferença.

Eugênio Bucci termina o seu arrazoado com uma chamada ao diálogo. Sim, o diálogo é possível entre duas pessoas racionais, que concordam em respeitar algumas regras básicas, como a honestidade intelectual e o respeito aos fatos. Não é o caso, quando o outro lado é formado não por pessoas racionais, mas por fanáticos do profeta.

Pizza em 3 simples passos

Talvez este seja o texto mais claro que li sobre a tese da pizza geral. A pizza é feita em 3 passos:

1) Confundir (propositalmente, pois não admito que uma pessoa inteligente como Bresser Pereira não tenha entendido esse ponto) o modo de doação (caixa 1 ou caixa 2) e o motivo da doação (desinteressada ou como compra de vantagens na administração pública). Para quem quer saber a diferença, sugiro ouvir o depoimento de Marcelo Odebrecht, que explica direitinho, de maneira didática.

2) Afirmar que o crime de que os políticos estão sendo acusados (todos) é de receberem doações ou “presentes” (sim, Bresser-Pereira usa o termo “presente”) via caixa 2.

3) Afirmar que a Lava-Jato somente vai condenar porque a lei (?!?) considera o caixa 2 como crime, quando, na verdade, trata-se dos usos e costumes do brasileiro (você é empresário ou profissional liberal? Tente fazer ou receber pagamentos por fora, e depois explicar para a Receita que se trata de “usos e costumes”).

Pronto! Agora é só levar ao forno, deixar por 50 minutos, e servir!


O acordo necessário (por Luiz Carlos Bresser-Pereira)

O indiciamento de mais 120 políticos, inclusive Fernando Henrique e Lula, mostra que a Operação Laja Jato tende a destruir toda a classe política brasileira. Muitos dirão que isto é “ótimo”, porque os políticos brasileiros são “todos”, ou “praticamente todos”, corruptos. E porque não há dificuldade em substituí-los. Mas estas duas crenças são falsas.

Primeiro, não é verdade que os políticos possam ser facilmente substituídos. Seria bom que muitos o fossem, mas será péssimo que os melhores políticos brasileiros, independentemente de sua cor ideológica, sejam desmoralizados e excluídos da vida pública. A profissão política é a mais importante das profissões, porque são os políticos que fazem as leis e conduzem o Estado; porque são eles que governam. Não se fazem políticos de um dia para outro. Um dia destes vi a entrevista de uma página inteira na Folha de um homem de televisão muito bem-sucedido, sr. Huck, que dizia que estava na hora de pessoas de sua geração assumirem o poder. Concordei com a afirmação, que estava no título, e decidi ler a entrevista. Uma coisa patética. Não havia uma ideia sobre o Brasil; uma ideia sobre o mundo. Apenas autoelogios e considerações vazias sobre a hora de sua geração.

Segundo, não é verdade que todos os políticos são corruptos. Pelo contrário, estou convencido que a grande maioria é honesta, inclusive alguns políticos já condenados pelo Mensalão, como José Genoíno (que conheço bem e admiro) e João Paulo Silva (que não conheço). Agora, no quadro do Lava Jato, é ridículo afirmar que políticos como Fernando Henrique, Lula, e Alckmin são corruptos. E, no entanto, o Judiciário, aplicando a lei, tende a também condená-los.

Por que condenar inocentes? Porque, segundo a lei, o ato receber doações para campanha ou como presente, sem oferecer em troca obra ou emenda – não sendo, portanto, propina –, é, não obstante, ilegal e pode ser entendido como corrupção. Mas não é, não é crime, porque a prática de se receberam doações e presentes sem que o político e a empresa fizessem o devido registro do fato fazia parte dos usos e costumes do país. A partir do Lava Jato e do susto que está causando nos políticos, não fará mais. E será preciso definir um limite para o valor dos presentes, como acontece em outros países. Mas não faz sentido agir retroativamente, considerar políticos eminentes como corruptos, e condená-los.

A imprensa hoje informou que os principais políticos dos principais partidos brasileiros estão se organizando para enfrentar o problema. Isto é mais do que necessário. A solução é a anistia do caixa 2 e regulamentar os presentes. É dar ao Judiciário uma lei que lhe permita não causar uma violência contra o Brasil.

Seria folclórico se não fosse trágico

O que os “intelectuais e artistas” propõem para nos tirar do buraco em que o modelo clepto-desenvolvimentista nos meteu? A mesmíssima fórmula que nos meteu nesse buraco.

Seria folclórico se não fosse trágico. Este texto é a sinopse da desgraça do Brasil e dos hermanos latino-americanos. Nada sintetiza tão bem a obtusidade ideológica que nos trouxe até aqui. A demonização dos rentistas combinado com o desejo de que haja investimentos privados, a convivência de taxas de juros baixas com câmbio desvalorizado na medida certa, e mais um sem-fim de baboseiras e incongruências anacrônicas, que somente colocam a nu o viés ideológico ou a desonestidade intelectual dos signatários.

A maior recessão da história não foi suficiente pra esse pessoal. Eles somente descansarão quando o Brasil tornar-se uma imensa Venezuela.

O próximo presidente da República

Nenhum nome da lista do Fachin tem condições de chegar à presidência da república em 2018.

Tomando essa premissa como verdadeira, o próximo presidente está entre os seguintes nomes (em ordem alfabética):

Ciro Gomes

Henrique Meirelles

Jair Bolsonaro

João Doria

Joaquim Barbosa

Marina Silva

Ronaldo Caiado

Já vai se acostumando com a ideia.

Aventura irresponsável

Este documento já virou histórico, é para ouvir e guardar.

Mas queria chamar a atenção para o que vai de 1h10 a mais ou menos 1h25 do depoimento, quando MO descreve a saga das sondas da Petrobras e a constituição da Sete Brasil. É, sem dúvida, um dos maiores testemunhos do que acontece quando os destinos de um país são entregues a obtusos ideológicos.

MO descreve como Dilma queria porque queria que as sondas para exploração do pré-sal fossem construídas no Brasil, e com conteúdo nacional. Os coreanos são, de longe, os mais eficientes construtores deste tipo de equipamento, mas Dilma propôs compensar a nossa falta de eficiência com capital subsidiado. MO perguntou várias vezes a vários acionistas da Sete Brasil como aquela conta fechava. Como se viu, não fechava.

Por um lado, Dilma e o PT aumentam o custo Brasil ao defender uma legislação trabalhista retrógrada. De outro, subsidiam o capital para os grandes grupos empresariais, tirando dinheiro de outras necessidades urgentes, como educação e saúde. Assim, posam de defensores dos trabalhadores, quando, com a outra mão, tiram dinheiro desses mesmos trabalhadores para alimentar delírios desenvolvimentistas.

A roubalheira revelada por MO é grave. Mas é apenas uma fração do que o país perdeu com essas aventuras irresponsáveis.

Métodos pré-históricos

Overbooking é um risco calculado assumido pelas companhias aéreas. A prática é justificável do ponto de vista de gestão da ocupação das aeronaves, pois há um número considerável de cancelamentos e mudanças de voos.

A forma de mercado de lidar com o overbooking é a realização de um leilão: oferecer descontos em próxima passagem ou mesmo reembolso em dinheiro para voluntários a desistirem do voo. Em determinado nível de reembolso, algum voluntário aparecerá, com certeza.

A United, que utiliza mecanismos de mercado quando se trata de overbooking, resolveu usar métodos pré-históricos para lidar com seus efeitos secundários.

Decepção

Doria no Roda Viva.

De maneira geral, muito bom, escapou bem das cascas de banana.

O único senão foi a resposta com relação ao Uber. “Precisa ter igualdade de condições com os táxis”. Ou seja, vai se tornar um serviço mais caro. Decepção.

Parabéns, Temer!

O ENEM não vai mais publicar a média da nota por escola.

O que vai acontecer?

1. Vazamentos. A nota continua existindo, só não vai ser divulgada “oficialmente”.

2. Cada escola vai divulgar a “sua” média, sem um auditor externo, que era o próprio ENEM.

3. As escolas medíocres poderão continuar em sua mediocridade sem serem mais incomodadas.

Parabéns governo Temer, por desmontar uma das raras iniciativas positivas do governo do PT.

O sentimento anti-PT

Ambulante no trem da CPTM.

Não entendi direito porque ele começou uma conversa com uma passageira (depois de oferecer amendoim bolinha e twix “1 por 2, 2 por 3”). Talvez porque ela estivesse com algum símbolo do PT, mas não consegui ver.

O papo era o seguinte:

“Foge desse pessoal do PT. Conheço bem. PT, PCdoB, CUT. Você vira massa de manobra. Vai lá na manifestação, apanha da polícia, enquanto o Lula tá lá no triplex dele em São Bernardo. Eu já disse pra minha mulher, não quero bolsa de nada, prefiro trabalhar, ganhar meu próprio dinheiro. Já fui militante do PT, trabalhei em 4 eleições, conheço esse pessoal. Mataram o Celso Daniel. Foge.”

Ambulante no trem da CPTM.

Alguma dúvida de porque Doria vai ser presidente do Brasil?