Diálogo inédito

O PSDB passou os últimos 30 anos apanhando do PT, inclusive através de estudos fajutos dessa tal fundação Perseu Abramo.

Agora, que o PT está na lona e prestes a desaparecer do mapa eleitoral, os tucanos vão alegremente discutir “o futuro do país” com os petistas. Como se pudesse haver algum diálogo honesto com petistas.

O PSDB merece sumir do mapa junto com o PT.

Discurso hegemônico

“Para os entrevistados […] todos são ‘vítimas’ do Estado que cobra impostos excessivos, impõe entraves burocráticos, gerencia mal o crescimento econômico e acaba por limitar ou “sufocar” a atividade das empresas.”

Trecho do estudo da Fundação Perseu Abramo, em que este instituto do PT “descobriu” o que pensa o cidadão da periferia de São Paulo. Segundo a Fundação, este pensamento é fruto do “discurso hegemônico da mídia e das elites”.

A julgar pela votação do PT ontem, inviabilizando os aplicativos de transporte individual, o tal do “discurso hegemônico” tem algum respaldo na realidade.

Lista dos deputados que votaram contra o Uber

Para ler e guardar para 2018: lista dos deputados de São Paulo que votaram pelo fim do Uber e assemelhados.

Marcelo Aguiar – DEM

Orlando Silva – PcdoB

Paulo Freire – PR

Tiririca – PR

Antônio Bulhões – PRB

Celso Russomano – PRB

Roberto Alves – PRB

Sérgio Reis – PRB

Vinícius Carvalho – PRB

Goulart – PSD

Herculano Passos – PSD

João Paulo Papa – PSDB

Mara Gabrilli – PSDB (abstenção)

Vitor Lippi – PSDB

Ivan Valente – PSOL

Luiza Erundina – PSOL

Ana Perugini – PT

Andres Sanchez – PT

Arlindo Chinaglia – PT

Carlos Zarattini – PT

José Mentor – PT

Nilto Tatto – PT

Paulo Teixeira – PT

Valmir Prascidelli – PT

Vicente Cândido – PT

Vicentinho – PT

Arnaldo Faria de Sá – PTB

Dr. Sinval Malheiros – PTN

Renata Abreu – PTN

Major Olímpio – SD

Paulo Pereira da Silva – SD

Deputado precário

“Ele (o Uber) usa pessoas desempregadas sem proteção social e faz precarização do trabalho”.

Deputado Silvio Costa (PTdoB-PE), direto do seu gabinete refrigerado em Brasília, ganhando R$33 mil/mês + regalias, afirmando que é melhor um pai de família permanecer desempregado do que ter um trabalho precário.

O governo americano deve estar por trás

A Tesla, hoje, ultrapassou o valor de mercado da Ford ($49 bi x $46 bi)

Não sabe o que é Tesla? É a empresa do Elon Musk (o criador do PayPal) dedicada a fabricar carros elétricos.

A Tesla contou com muita isenção de IOF e empréstimos subsidiados do BNDES para chegar aonde chegou.

Ah, não teve nada disso?

Impossível! Todo mundo sabe que é impossível criar tecnologia sem a ajuda e o direcionamento do Estado. O governo americano deve estar por trás disso, deve ser um programa secreto para derrubar os países árabes produtores de petróleo. Esses zamericanu são muito espertos!

As vantagens da TLP

Para quem ainda não sabe, o governo vai trocar a TJLP pela TLP, como taxa de juros de longo prazo praticada pelo BNDES. Vou poupá-los de tecnicalidades, e vou apenas listar a seguir 7 benefícios que a nova taxa trará para a economia brasileira, segundo a MCM, respeitada consultoria do mercado financeiro:

(i) Contribuirá para a queda sustentada da taxa de juros estrutural da economia, pois haverá uma queda no estoque de crédito direcionado;

(ii) Ampliará a potência da política monetária, tornando o controle da inflação menos custoso para a sociedade;

(iii) Estimulará o financiamento privado de longo prazo, com efeitos positivos no emprego e investimentos;

(iv) Ajudará na dinâmica da Dívida Pública Federal, pois reduzirá os subsídios implícitos do Tesouro para o BNDES, que impactam no déficit nominal por conta do diferencial existente hoje entre o custo de captação do Tesouro Nacional e o retorno dos empréstimos do BNDES;

(v) A vinculação da TLP a uma taxa de mercado, no caso o cupom da NTN-B de cinco anos, que é conhecida e visível, aumenta a previsibilidade e segurança dos contratos.

(vi) Permite o BNDES securitizar os créditos vinculados à TLP, o que aumentará sua capacidade de financiamentos e ampliará sua participação de forma mais integrada ao mercado;

(vii) Como resultado desses pontos, deve melhorar a alocação de recursos na economia.

Bem, poderá pensar o arguto leitor, se é tão bom assim, por que não foi feito antes????

Era o governo do PT, lembra? A TJLP é discricionária, ou seja, deixa todo o poder na mão do Estado, que tem decisão de vida ou morte sobre as empresas. Tá explicado?

PS: a TJLP foi criada por FHC, que também adora um dirigismo econômico.

Interlocutor construtivo

“Esse Tarso Genro, que é do PT e prefeito de Porto Alegre, me parece que é um dos melhores do PT, se não for o melhor. Quero ter uma conversa com ele […], porque acho que ele pode ser um interlocutor mais construtivo dentro do PT.”

FHC, setembro 1996

FHC é o principal culpado pelo fato de termos sofrido 13 anos de governo do PT.

É feio roubar?

Estou lendo Anatomia de um desastre, dos jornalistas Cláudia Safatle, João Borges e Ribamar Oliveira, contando a história da maior recessão brasileira de todos os tempos.

Logo no início tem um capítulo chamado “Momento mágico”, em que os autores contam o ápice do governo Lula, o ano de 2010, quando o Brasil cresceu 7,5%, e tudo parecia ser possível. Mal se sabia que ali estava se plantando a semente da maior recessão da história.

Mas não é este o ponto agora. Chamou-me a atenção outro aspecto levantado pelos jornalistas: o fato de Lula usar recorrentemente a expressão “momento mágico” em seus discursos. Lula é um grande comunicador, e sabe o poder das palavras, dos slogans. Obviamente, devem se basear em fatos, caso contrário não se sustentam. E era um fato que o Brasil estava crescendo, e a renda dos trabalhadores estava aumentando. Mas Lula também sabia que precisava capitalizar em cima daquilo, e usou e abusou do slogan “momento mágico”, embalando os brasileiros em um clima de ufanismo, que se somava à melhora econômica. Não bastava a renda maior. Era preciso que o brasileiro soubesse quem era responsável por aquilo. E a repetição do slogan “momento mágico” ajudava a criar essa aura de “podemos tudo”, que persiste até hoje. É essa a imagem que o brasileiro guarda do governo Lula, com nostalgia.

O contraste com o governo atual é gritante. Temer é a antítese de Lula em termos de comunicação pessoal e, além disso, a comunicação do governo é inexistente. Fosse Lula, estaria martelando na cabeça do povo a “herança maldita” que recebeu. Por muito menos, fez isso com FHC do início ao fim do seu mandato.

Qual o único político que tem feito isso com maestria? Sim, ele, João Doria. O único tema nacional que ele toca é lembrar a todos que o PT é uma quadrilha que pilhou o Brasil, e que Lula é o chefe da quadrilha, sem vergonha e cara de pau. Não importa se as pessoas sabem disso ou não, se concordam ou não. Ele repete, repete e repete. É seu slogan. Aquele que vai usar na sua campanha presidencial.

Nada é mais importante, nada mexe tanto com o imaginário da população, nada desmonta de maneira mais humilhante o discurso de Lula, a ponto de obrigar militantes do PT a defender uma certa leniência moral, como se roubar fosse algo relativo, justificável em alguns casos (para quem não sabe sobre o que estou falando, leia o artigo do Bresser Pereira na Folha hoje). Lula ainda não respondeu pessoalmente. Ainda. Quando o fizer, saiba que Doria ganhou.

Lembro da campanha para governador de 1998, quando Covas enfrentou Maluf no 2o turno. Covas espalhou outdoors pela cidade, com a foto de um menininho, e a frase: “Papai, é feio roubar?”. Ganhou a eleição.

Para quem quer entender o Brasil

Acabo de ler “O ópio dos intelectuais”, do filósofo francês Raymond Aron, presente de aniversário de meu querido irmão Marcos Guterman.

Top 10 do universo. O cara escreve na França da década de 50, e parece estar descrevendo o Gregório Duvivier ou a teologia da libertação.

Em algumas passagens o livro fica chato, porque Aron entra nas minúcias dos debates intelectuais de seu tempo e lugar. Mas vale perseverar na leitura, para encontrar pensamentos como os seguintes:

“É sempre espantoso ver um pensador parecer indulgente com um universo que não o toleraria e implacável com aquele que o honra.”

“O marxismo é uma filosofia de intelectuais que seduziu uma parte do proletariado, e o comunismo se serve dessa pseudociência para chegar ao seu objetivo específico, a tomada do poder. Os operários não acreditam espontaneamente que foram eleitos para a salvação da humanidade. Muito mais forte neles é o desejo de uma ascensão à burguesia.”

“Os alunos da École Normale Supérieure (aqui seria a FFLCH-USP ou qualquer outra faculdade pública da área de humanas) pensam os problemas políticos, em 1954, em termos de filosofia marxista ou existencialista. Hostis ao capitalismo como tal, ansiosos para ‘libertar’ os proletários, pouco conhecem do capitalismo e da condição operária. (…) guardadas as devidas proporções, aos professores também se aplicam as mesmas observações.”

Esta é uma pequena amostra. Recomendo para quem quer entender o Brasil deste início do século XXI.