Ontem acompanhei a apuração na NBC. A cobertura incluiu várias pequenas entrevistas com eleitores. Em uma delas, a repórter estava em uma casa de latinos. Havia legalizados e “undocumented”, como chamam os clandestinos lá. A entrevista era com uma menina de 16 anos, colombiana, absolutamente fluente, mostrando que já estava há muitos anos no país. Os pais haviam sido deportados há um ano, e ela estava acompanhada de uma tutora, que arranhava algo parecido com o inglês. A repórter pergunta à garota se estava preocupada com o andamento da apuração (naquela altura, o cheiro de arroz queimado já estava forte). Sim, muito, estavam rezando por uma virada, porque ela queria muito voltar a viver com os pais, e um governo de Hillary Clinton poderia facilitar a imigração. A tutora, também entrevistada, informou que cuidava de mais de 100 menores na mesma situação, e um governo Trump seria um desastre para essas crianças.
Pois bem. Não vou aqui entrar no mérito da questão, de que esta jovem poderia voltar para a Colômbia para viver com os pais. Longe de mim insinuar que, talvez, para esta menina, continuar morando nos EUA seja um desejo mais forte do que voltar a viver com os pais.
Meu ponto é outro. Os pais da moça foram deportados PELO GOVERNO OBAMA. Sim, o governo Obama, aquele que respeita as minorias e os imigrantes, sensível às demandas dos excluídos do capitalismo, e do qual o governo Clinton seria uma continuação natural. Foram deportados pelo governo Obama, mas é Trump o monstro insensível. A voz embargada da garota e da tutora, diante das perguntas dirigidas da repórter, faziam o cenário perfeito do Trump racista e xenófobo.
Assim, temos a verdade do politicamente correto: Obama e Clinton fazem o discurso do acolhimento e, por serem democratas (aqui seriam petistas), têm a licença dos intelectuais, artistas e imprensa para deportar a população latina inteira dos EUA. Já Trump, por ser republicano, e falar sobre o problema da imigração ilegal de maneira clara, é o monstro racista e xenófobo.
O resultado da eleição mostrou que o americano médio não caiu nessa mistificação.