Existe uma “demanda” pela preservação ambiental. Mas, pasmem, essa demanda não se traduz na eleição de deputados ligados à “pauta verde”.
Bem, talvez a tal “demanda” só exista, de fato, na imaginação daqueles que tentam pautar o país.
Não vou aqui entrar no mérito da discussão, se é ou não importante cuidar do meio-ambiente, da floresta, da água, do ar, etc etc etc. Isso parece meio óbvio. Afinal, ninguém em sã consciência quer viver em um planeta inabitável. Meu ponto é outro: em um país pobre e desigual como o nosso, falar de preservação do meio-ambiente é quase como recomendar alimentação orgânica pra morador de rua. A mensagem simplesmente não faz sentido.
A imensa maioria da população brasileira tem problemas mais urgentes para resolver, tipo comer três refeições por dia, beber água potável e dormir sob um teto. Cuidar da Amazônia e desenvolver fontes limpas de energia certamente estão distantes de serem prioridades. E isso se traduz na hora do voto. Aliás, a coisa é ainda pior: o nó górdio de toda essa questão é que preservar o meio-ambiente custa dinheiro. Energias renováveis são mais caras no curto prazo (se fossem mais baratas não precisariam de incentivos governamentais), ainda que possam ser mais baratas em uma análise de custo-benefício de longo prazo. Para um país pobre e endividado, que vive da mão para a boca, investir na preservação do meio-ambiente é um luxo.
Além disso, a pauta ecologista muitas vezes se confunde com uma pauta anticapitalista. A busca pelo lucro seria incompatível com a preservação do meio-ambiente, o que cria um ranço contra esses movimentos. Fica, assim, difícil a eleição de representantes políticos identificados com a causa, a não ser com votos de nichos específicos. O atual movimento do mercado financeiro de privilegiar investimentos ESG (socialmente responsáveis) pode quebrar um pouco essa identificação. Mas, no final do dia, o que vai mandar é a lógica capitalista, aquela que ergue e destrói coisas belas: se esses investimentos “socialmente responsáveis” não gerarem lucros, serão abandonados pelos investidores, assim como os deputados verdes foram abandonados pelos eleitores.
A “pauta verde” é importante, não se discute isso. O que talvez falte é um pouco de sensibilidade para sacar as reais necessidades do povo que vota. A discussão precisa sair do Leblon e da Vila Madalena e ganhar o país. Mas, para isso, a estratégia precisa ser outra. Esse discurso do “fim do mundo” pode ganhar manchetes, mas pouco toca quem precisa batalhar pelo sustento cotidiano. Fica o desafio.