Neymar, em um desabafo pouco comum, diz que não entende porque a seleção brasileira não desperta mais o interesse do brasileiro médio. Segundo o craque do PSG, os jogos são pouco comentados, as pessoas nem sabem quando vai ser. Ele reconhece que não sabe porque isso está acontecendo e nem quando começou.
Eu tenho uma hipótese. E, como toda a hipótese, pode estar certa, parcialmente certa ou totalmente errada. Ei-la.
Tirando os aficcionados por um esporte, o brasileiro médio (não sei se isso acontece em outros países) vive de ídolos. Acompanhamos um esporte quando há um ídolo brasileiro se destacando. As corridas de F1 são uma sombra do que eram, em termos de audiência, de quando podiam contar com Nelson Piquet e Ayrton Senna. Felipe Massa foi o último suspiro. Desde então, só os aficcionados acompanham. O mesmo com o tênis depois de Guga. Precisamos de ídolos para nos interessar por esportes.
Alguém dirá que no futebol é diferente. Sendo o país do futebol, a seleção deveria chamar a atenção por si só. Mas não é bem assim. O futebol também é um esporte de aficcionados. No Brasil, claro, há muito mais aficcionados por futebol do que por todos os outros esportes juntos. Mas não deixa de ser um esporte de aficcionados. E estes, até por serem aficcionados, costumam prestar muito mais atenção aos seus clubes de coração do que na seleção brasileira. A seleção precisa atrair a atenção dos não-aficcionados pelo esporte, senão não funciona. E estes dependem de ídolos. E é aqui que chegamos ao problema.
A última bola de ouro que um jogador brasileiro recebeu foi no longínquo ano de 2007, com Kaká. Antes dele, uma geração de ouro do futebol brasileiro foi agraciada com o prêmio: Ronaldo em 1997 e 2002, Rivaldo em 1999 e Ronaldinho Gaúcho em 2005. Desde então, apenas Neymar chegou na lista final e, mesmo assim, ficou longe de ser eleito.
Vivemos uma longa entressafra de craques. Quando, em 2020, Marinho foi cogitado pela imprensa esportiva para compor a seleção, pensei com meus botões: é, estamos realmente precisando de craques. O que vemos na seleção é uma sucessão de nomes pouco conhecidos, que, como Marinho, brilham durante uma temporada para depois voltar ao ostracismo. As convocações de Tite nos últimos quatro anos são de chorar. E o pior: não haveria nomes melhores mesmo.
A distância de nossos jogadores do país (alguns deles quase não jogaram por aqui) só piora a situação. Não que seja imprescindível. Os craques citados acima jogavam, todos, na Europa. Mas eram craques, o que facilita tudo. Quando se é um jogador mediano, estar distante o torna um ilustre desconhecido para a parte não aficcionada da torcida brasileira.
E, como cereja do bolo, chegamos a Neymar. Depois da temporada no Santos em 2010/2011, Neymar pouco fez para justificar sua fama de craque, essa é a dura realidade. Um acidente o tirou do vexame contra a Alemanha, em 2014, fazendo-nos crer que, com ele em campo, as coisas seriam diferentes. Esquecemos do angustiante jogo contra o Chile, nas oitavas, em que a trave nos salvou da desclassificação humilhante, e o sofrível jogo contra a Colômbia nas quartas. Em 2018, um apagado Neymar não foi suficiente para nos livrar da desclassificação contra uma Bélgica aplicada. Enfim, o nosso fora de série, aquele que deveria ser o atrativo dos não aficcionados, além de tudo, tem uma imagem pública questionável, parecendo mais interessado em marketing do que em jogar bola.
Talvez Neymar pudesse encontrar a resposta para a sua angustiante pergunta no deserto em que se tornou o futebol brasileiro, em que ele mesmo é o símbolo máximo.