1) Não, o mercado não entrou em pânico por causa da notícia da contaminação do presidente.
2) Aliás, fosse verdade, digo nada se esse tal de mercado não tivesse uma reação surpreendente.
Apenas um repositório de ideias aleatórias
1) Não, o mercado não entrou em pânico por causa da notícia da contaminação do presidente.
2) Aliás, fosse verdade, digo nada se esse tal de mercado não tivesse uma reação surpreendente.
As medidas de contenção do coronavírus estão exageradas? Pela própria natureza da coisa, nunca saberemos ao certo.
Se as medidas de contenção derem certo, ou seja, não enfrentarmos um crescimento vertiginoso do número de casos da doença a ponto de pressionar o sistema de saúde nacional (como está ocorrendo na Itália), não saberemos se foi por causa das medidas ou se seria assim mesmo, mesmo sem as medidas.
O inverso não é verdadeiro: se não forem adotadas medidas de contenção, saberemos com certeza se essas medidas eram necessárias ou não, a depender do resultado desta não-ação.
Tenho lido por aí que esta decisão funciona como um seguro. Em termos. No caso do seguro, se adquirido, sabemos com certeza, ao final do período segurado, se jogamos dinheiro fora ou não. Aconteceu o sinistro, o seguro valeu a pena. Não aconteceu, “perdemos” dinheiro.
Já no caso das medidas de contenção, se o sinistro não ocorrer, nunca saberemos com certeza se foram essas medidas as responsáveis pelo “não-sinistro”. Por um motivo simples: o próprio “seguro” interfere no resultado final. Trata-se de uma espécie de “seguro de Schrödinger”.
Tenho ouvido algumas pessoas defenderem que está tudo muito exagerado, porque, afinal, trata-se de uma gripe e, como tal, seria muito mais virulenta no inverno, como está acontecendo no hemisfério norte. Aqui, no país tropical abençoado por Deus, o coronavírus não teria a mínima chance.
Pode ser, faz até sentido. Se adotarmos medidas de contenção, discutiremos até o fim dos tempos se esta hipótese era verdadeira ou não. Por outro lado, se não adotarmos medidas de contenção, descobriremos, na prática, se a hipótese era verdadeira. Seria o Brasil servindo como um imenso laboratório científico. Vale o risco?
Das duas uma: ou o doutor nunca foi a um jogo de futebol, ou torce para o Juventus da Rua Javari.
Um vírus não é mais forte que um mundo inteiro.
(ou é?)
Hoje topei com este site (GHS Index). Trata-se de uma parceria entre a Economist e a Johns Hopkins Center, que estuda essa questão de epidemias.
Foi uma surpresa para mim. Entre 195 países, o Brasil está em 22o lugar no ranking total de segurança contra epidemias, à frente de países como Itália, Áustria, Nova Zelândia e Israel.
O ranking é formato por 6 quesitos, e o Brasil se sai muito bem ou relativamente bem em 4 deles:
– Prevenção de surgimento ou de liberação de patógenos: 16o lugar.
– Detecção e comunicação rápidas de epidemias com potencial de preocupação global: 12o lugar
– Resposta rápida a e mitigação da propagação de uma epidemia: 9o lugar
– Suficiente e robusto setor de saúde para tratar os doentes e proteger os trabalhadores da saúde: 33o lugar
Nos outros dois quesitos, nossa posição é a de sempre:
– Compromisso de melhorar a capacidade nacional, financiamento e aderência a normas: 135o lugar
– Risco ambiental e vulnerabilidade a ameaças biológicas: 94o lugar
De qualquer forma, trata-se de uma boa notícia de maneira geral: o Brasil tem um sistema de prevenção e resposta a epidemias que se compara com os melhores do mundo, segundo o ranking. O que significa que algo aprendemos com a dengue, chicungunha e zika.
Nenhum especialista, até o momento, afirmou que a epidemia de coronavírus foi causada pelo aquecimento global.
Estou perplexo.
É realmente inacreditável a capacidade de Bolsonaro arrumar briga que, no final, só vai prejudicá-lo. O último caso é o dos preços dos combustíveis.
O preço do petróleo no mercado internacional está despencando por conta do coronavírus, refletindo uma queda pontual do consumo chinês. A Petrobras está aproveitando para diminui os preços da gasolina em suas refinarias. Seria uma ótima notícia, que seria surfada por qualquer governo. Mas não, Bolsonaro arrumou um jeito de transformar uma boa notícia em uma briga de rua.
Ocorre que a diminuição dos preços nas refinarias não está chegando nas bombas. Alguém soprou para o presidente que o problema é a forma de cálculo do ICMS: como os Estados consideram a base de cálculo fazendo uma média de 15 dias, a queda dos preços demora um pouco para afetar essa média. O resultado é o aumento da incidência do imposto, pois a base de cálculo é maior do que o preço na ponta. O efeito inverso também ocorre: quando há um aumento dos preços nas refinarias, a base de cálculo demora um pouco a ser recalculada, e a incidência do imposto fica proporcionalmente menor. Não sei porque existe essa metodologia de cálculo, suponho que seja para facilitar a administração dos impostos.
Enfim, seria apenas uma questão de dias para que os preços começassem a diminuir nas bombas, como sempre. Mas Bolsonaro viu aí uma oportunidade de estocar os que ele vê como inimigos políticos: os governadores, principalmente Doria e Witzel. Começou uma discussão extemporânea sobre impostos, justamente às vésperas de começar a tramitação pra valer da reforma tributária.
Como sabemos, essa reforma é complicadíssima, e não sai se não houver um alinhamento com os Estados. Qual o objetivo de Bolsonaro ao arrumar briga com os governadores? Arrumar uma desculpa para o eventual fracasso da reforma? Enfraquecer seus adversários políticos de 2022? Posar de defensor dos caminhoneiros às custas dos governadores? Ou se trata apenas de um ato irrefletido de um presidente que não está preparado para enfrentar questões desta complexidade? Qualquer que seja a explicação, nenhuma justifica esse bate-boca ginasial.
Estamos todos ansiosamente aguardando a proposta de reforma tributária do governo desde a aprovação da reforma da previdência. Já lá se vão 6 meses. O máximo que saiu do Planalto foram ensaios de uma CPMF natimorta e agora o “imposto sobre o pecado”. E, além de não ter proposta, Bolsonaro destrói as pontes que vai precisar para aprovar uma reforma digna do nome. Vamos depender, mais uma vez, do Congresso para fazer a lição de casa.