Show de graça

Praia de Copacabana. Manifestação contra Temer e as reformas, e por eleições diretas. Desfilaram no palco Mano Brow, Otto, Mosquito, Cordão da Bola Preta, Maria Gadu, Martn’ália, Pretinho da Serrinha, Teresa Cristina, Digitaldubs & Bnegão, Pedro Luis, Milton Nascimento e Caetano Veloso, além de vários artistas globais, liderados por Wagner Moura. Balões da CUT e deputados e senadores do PT, PSOL e Rede também marcaram presença.

Os organizadores estimam em 100 mil pessoas o público. Procurei uma foto aérea, mas não encontrei em nenhum site noticioso. Deve ter sido o primeiro caso de protesto com 100 mil pessoas reunidas sem foto aérea de que se tem notícia.

Pessoal da esquerda, permitam-me dar uma dica: aquela gente no Congresso só começa a se coçar quando vê multidões acima de 1 milhão na Paulista, sem artista, sem político e sem vale-mortadela. O resto é show de graça em uma tarde de domingo.

PS.: caso raro, um protesto com balões da CUT que não terminou em baderna. Deve ter sido exigência dos artistas.

“Problema estrutural”

Os usuários de crack são os novos pichadores. Os auto-proclamados “defensores dos direitos humanos” usam os pobres coitados para emplacar sua agenda política.

Na verdade, esse pessoal não quer resolver o problema. Interessa-lhes que a cidade fique suja, que haja moradores de rua e fumadores de crack. Assim, fica mais claro e evidente que o capitalismo degrada o ser humano, e somente com o advento do socialismo, regime da solidariedade e da paz, esses problemas todos serão resolvidos.

Quando você ouvir que o problema é “estrutural”, que não dá para ser resolvido “da noite para o dia”, não se engane: é disso que se trata.

Viu como é fácil?

A 99 Táxis recebeu aporte de US$ 100 milhões para a sua expansão.

Não foi do BNDES.

Foi da japonesa SoftBank.

Viu, FIESP? Viu, Joesley? Dá pra crescer sem a ajuda do governo. Basta ter um projeto que pare em pé.

O estadista de que precisamos

“Separe a economia da política.” João Doria, hoje, no Estadão.

Uma visão tecnocrática da economia, como se as decisões de alocação de recursos públicos pudessem ser feitas por uma espécie de Conselho de Sábios.

Doria é o que temos para o momento, mas está longe do estadista de que precisamos.

O primeiro passo

Joesley Batista e Marcelo Odebrecht são exemplos acabados do ambiente empresarial brasileiro.

O dono do restaurante que molha a mão do fiscal sanitário.

O dono da pequena empreiteira, que molha a mão do fiscal trabalhista.

O dono da escola, que molha a mão do fiscal da secretaria da educação.

Por que isto acontece? São 4 fatores: 1) gente disposta a ser corrompida, 2) gente disposta a corromper, 3) um ambiente de negócios extremamente complexo e 4) baixo nível de punição (ou, custo de oportunidade baixo para o crime).

Os dois primeiros fatores existem em qualquer lugar do mundo onde existam seres humanos. Há pessoas honestas e pessoas desonestas. Há pessoas fortes e pessoas fracas. Não há anjos. Portanto, sempre haverá pessoas dispostas a serem corrompidas e pessoas dispostas a corromper.

Rios de tinta já foram gastos demonstrando que o atual sistema eleitoral efetua uma seleção adversa, pois são eleitos aqueles que conseguem mais doações. E mais doações vêm somente por parte de gente disposta a corromper pessoas dispostas a serem corrompidas. Então, uma primeira medida urgente é tornar o sistema eleitoral mais barato.

Mas não é só isso. Há a pequena corrupção do dia a dia. Joesley e Marcelo fizeram em grande escala o que o empresário é obrigado a fazer em pequena escala todos os dias. Obrigado? Ninguém é obrigado a nada.

A este respeito, Joesley conta uma história bastante significativa em sua delação. O seu grupo tem uma usina termoelétrica no Mato Grosso, que depende do gás da Bolívia. No entanto, a Petrobras detém o monopólio do gás, e ele não conseguiria o fornecimento sem molhar a mão de alguém. Um grupo norte-americano era sócio do empreendimento, e se recusou a participar do esquema. Joesley comprou a parte dos americanos, e tocou a vida daquele jeito mesmo.

Claro, os americanos podem ir embora, e fazer negócios em um país decente. Os empresários brasileiros não. Mas, imaginemos por um momento que todos os empresários se dessem as mãos, e se recusassem a molhar a mão de quem quer que seja. Afinal, não há corrupção sem corruptor! Seria lindo, maravilhoso mesmo, se fosse possível. Só que não é. A teoria dos jogos nos ajuda aqui: se há vários competidores que ganhariam se todos assumissem um determinado estado, mas a traição deste pacto faz com que o traidor ganhe mais que seus competidores, sempre haverá um traidor. E isso acontece porque não há confiança mútua suficiente, então como todos desconfiam de que haverá um traidor do pacto, ninguém quer ficar para trás, e ser o traído.

O empresário, então, é um santo? Só corrompe porque quer salvar os empregos de seus funcionários e quer empreender, gerar riqueza? Esta é a narrativa do Joesley: “Só fiz isso pela vontade de empreender”. É um ponto. Mas é também um crime. Eugênio Aragão, último ministro da justiça da Dilma, afirmou em entrevista que “a propina é a graxa do sistema capitalista”. Sim, do sistema capitalista brasileiro, que de capitalista só tem o nome. Muitos empresários que não toparam, e não topam sujar a mão na graxa, ficam no meio do caminho. O desonesto tem uma vantagem indevida.

E aí entramos no fator 3, que, ao meu ver, é a chave para melhorar este ambiente: eliminar a burocracia, simplificar as leis. No ranking Doing Business, do Banco Mundial, o Brasil ocupa a 123ª posição entre 190 países. O que isto significa? Que, para abrir um negócio no Brasil, são necessários 101 dias, ao passo que no Chile são 6 dias e no México são 9 dias. Nestes 101 dias, quantas oportunidades de corrupção não são criadas? E este é somente um pequeno exemplo, entre muitos outros. Haja graxa!

Está nas mãos dos legisladores mudar esta situação. Há interesse? Não. A dificuldade cria a venda da facilidade. Mas não é só isso. Há toda uma mentalidade de desconfiança e hipossuficiência do cidadão. Todos querem a proteção do Estado, e inúmeras leis e processos são criados porque se desconfia e se considera que o cidadão precisa de proteção. Daí nasce o país do cartório. Este não é um problema do legislador. É a mentalidade do brasileiro médio. Por isso, nunca seremos uma nação desenvolvida. Mas dá para avançar um pouco neste quesito, ao menos para não passar vergonha mesmo diante de outras nações com o mesmo nível de renda.

Por fim, o fator 4, punição. A operação Lava-Jato é um marco, porque o exemplo vem de cima. Por isso, quando ouço, aqui e ali, que o Estado Democrático e de Direito está sendo atropelado pelos procedimentos da operação da força-tarefa de Curitiba, penso cá com meus botões: esse mesmo Estado Democrático e de Direito que deixou a bagaça chegar onde chegou? Desculpe-me, mas tem algo muito errado quando o cara que tem dinheiro e poder consegue protelar processos até o dia de São Nunca. Então, a operação Lava-Jato tem todo o meu apoio, irrestrito. Vai mudar alguma coisa? Já mudou. Há punição. Avançamos. Seremos os Estados Unidos, onde empresas pensam trezentas vezes antes de embarcar em esquemas? Da noite para o dia, não. Mas demos um passo. E qualquer caminhada começa pelo primeiro passo.

Com a palavra, os parlamentares

Ouvi o áudio. Tenho minha opinião a respeito: apesar de não ficar clara a obstrução de justiça, está beeeeem longe de ser uma conversa republicana. No entanto, já ouvi opiniões de pessoas que respeito, de que esse áudio não é suficiente para derrubar um presidente, é pouco conclusivo.

No final do dia, assim como no impeachment, a minha opinião e a de meus amigos não valem um tostão furado. O que vai valer é a opinião dos parlamentares. Se estes mantiverem o apoio, vida que segue. Se retirarem, o presidente cai. O resto é papo de botequim.

Uma era que se encerra

Começo a ler aqui e acolá a “matemática da candidatura Lula”.

Consiste em contar o prazo para que Lula torne-se inelegível pela Lei da Ficha Limpa. Basicamente, em quanto tempo o TRF4 condena o nine em 2a instância.

A torcida está começando a ficar preocupada. O tempo está passando e a partida vai ficando no zero a zero. E o empate é deles.

Eu não estou preocupado.

Na verdade, estou torcendo para que Lula possa ser candidato.

Para que possa concorrer e ser derrotado.

Lula, se for candidato, será derrotado. E será derrotado por qualquer candidato que vá com ele ao 2o turno. Se é que ele vai ao 2o turno.

Poderia basear minha convicção em sua alta rejeição. Poderia basear minha convicção na primeira condenação de Moro, que virá (já imaginaram um presidente condenado? Só no Brasil). Poderia basear minha convicção, enfim, no deplorável estado em que sua sucessora deixou o país.

Mas não. Há um argumento mais forte.

O pêndulo da História.

Assim como Lula ganhou porque havia chegado a sua hora, Lula perderá porque o tempo do PT, e do pensamento que representa, acabou.

O pêndulo da História já havia se movido em 2013, quando milhões de pessoas foram às ruas. A dificuldade de definir qual foi a pauta de reivindicações daqueles protestos só confirma a “malaise” que caracteriza a mudança dos tempos.

Dilma só conseguiu atrasar o relógio da História porque usou dos mais baixos artifícios nas eleições. Seu marqueteiro está preso, o que diz muito. E o seu impeachment foi somente a confirmação de que ninguém consegue parar o pêndulo da História.

Torço sinceramente para que Lula possa ser candidato. A sua derrota será o fecho de ouro de uma era que se encerra.

O que você falaria para Dilma?

Se você encontrasse a Dilma no avião indo para Curitiba, o que você falaria para ela?

a) Está voando com o seu dinheiro ou com o meu?

b) Qual a figura oculta por trás do Lula?

c) Já se ambientando, hein?

d) Volta, Dilma!

A verdadeira “mais-valia”

Passeando pela livraria, deparo-me com a nova edição de O Capital, de Karl Marx. Confesso, nunca tinha lido uma única página. Conheço a teoria marxista apenas pelos seus resultados, que não são lá muito animadores.

Curioso, fui para o capítulo onde se define a mais-valia. Lê-se lá: “Sabemos que o valor de qualquer mercadoria é determinado pela quantidade de trabalho materializado em seu valor de uso, pelo tempo de trabalho socialmente necessário à sua produção.”

Pronto. Não precisa ler mais nada. Tudo o que se construir a partir dessa premissa terá o valor de uma nota de 3 reais. O valor de uma mercadoria é dado pelo quanto alguém está disposto a pagar por ela, pouco importando os insumos, incluindo o trabalho, empregados.

Digamos, por hipótese, que alguém faça um buraco e o tampe. Terá gasto um “tempo de trabalho”. Segundo Marx, este buraco tampado tem o valor do trabalho empregado em fazê-lo. Segundo qualquer pessoa de bom senso, não vale nada. O marxismo carece de bom senso.

Agora, por hipótese, suponhamos uma sociedade construída segundo a premissa marxista. Haverá muitos “buracos tampados” que devem ser remunerados. Como ninguém está disposto, individualmente, a pagar, resta ao Estado fazê-lo. No limite, todos os meios de produção pertencem ao Estado, que remunera “o trabalho socialmente necessário à produção”. No fim, todos se matam de trabalhar e não se produz nada de valor. Resultado: o muro cai.

Mas, dirá alguém, mesmo o mais obtuso marxista sabe que um buraco tampado não tem valor. A sociedade organizada com base na premissa marxista ainda assim saberá produzir coisas de valor, com a vantagem de não precisar remunerar o capitalista.

É justamente aí que está o busílis do capitalismo: o capitalista, o empreendedor, é o sujeito que ganha a mais-valia justamente por criar valor. Ou, para ser mais exato, por identificar corretamente o que será valorizado pelo consumidor da sua mercadoria. Nenhuma organização estatal consegue substituir o empreendedor na criação de valor. Desde um Steve Jobs até o dono da padaria da esquina, todos eles vivem de criar valor, não de “tempo de trabalho”. Nenhum burocrata estatal cria valor. Por isso, as sociedades fundadas no marxismo são invariavelmente pobres.

Observação final: você, jovem, que não tolera a mais-valia do capitalismo e não quer ser explorado, você tem uma saída: empreenda! Seja seu próprio patrão! E tente criar valor para os seus clientes. Das duas uma: ou você terá sucesso e ganhará muito dinheiro, ou, no caso de fracasso, passará a dar valor àqueles que conseguem criar valor de verdade para a sociedade.