Cada um no seu quadrado

A decisão sobre depósitos compulsórios faz parte do arsenal de política monetária, assim como a decisão sobre o nível da taxa básica de juros. Em um regime de Banco Central independente, decisões sobre essas duas variáveis cabe exclusivamente ao BC.

Imagine o Deus nos acuda se fosse Mantega a anunciar diminuição de R$100 bi nos compulsórios. Mas como Guedes “respeita” a independência do BC, está tudo bem. Como dizia minha vó, faz a fama e deita-te na cama.

Ayn Rand e o Procon

Uma empresa faz uma promoção aberta na Internet, praticamente doando um número ínfimo de seus produtos. Metade desses produtos é comprado por atacadistas. O que tem de errado nisso?

Pois o órgão governamental de defesa do consumidor viu nisso “prática abusiva”. O PROCON afirma que a Gol deveria garantir que as suas passagens a preços promocionais deveriam ser compradas somente por consumidores finais.

Ora, em tese, qualquer empresa vende o que quiser para quem quiser pelo preço que quiser. Não no entendimento do PROCON. O órgão governamental entende que a empresa é obrigada a fazer suas promoções exclusivamente para os consumidores finais. Onde está escrita essa regra? Aliás, por que existiria uma regra como essa?

Isso é muito Ayn Rand.

Policiais civis

O que os policiais civis querem é viver uma carreira civil, mas se aposentarem como se militares fossem. Faz sentido? Não seria o caso então de incorporar a polícia civil na carreira militar?

Desmatamento no olho dos outros é refresco

Merkel quer ter uma “conversa clara” com Bolsonaro sobre desmatamento.

Ótimo! Bolsonaro poderá cobra-la pelo desmatamento na Alemanha, causado por mais de dois séculos de industrialização e urbanização.

E também vai ter oportunidade de perguntar se este interesse ecológico tem algo a ver com protecionismo agrícola europeu.

Generalização

Gilmar Mendes,: “O que se viu foi a generalização dessa prática”.

Que sentido tem essa frase? Será que a prisão após condenação em 2a instância havia sido permitida pelo STF como exceção, e Gilmar Mendes lamenta que tenha se tornado regra?

Cabe lembrar que Gilmar era um dos mais vocais defensores da prisão após a 2a instância. Virou garantista após a Lava-Jato.

Drogas

A foto de pai e filha afogados causa comoção no mundo rico.

Pai e filha tentavam fugir para os EUA porque, em seu país, a violência é muito alta.

A violência é muito alta porque o país é dominado por cartéis da droga.

Droga essa que é consumida pelo mundo rico.

Fecha-se o círculo.

Pequenas causas

O Tribunal Superior do Trabalho foi acionado para decidir sobre uma indenização de R$30/mês. Trata-se da lavagem do uniforme de um funcionário de uma empresa do RS.

A Justiça do Trabalho custa aos cofres públicos R$21 bilhões/ano, ou R$210 bilhões em 10 anos, ou 20% da economia que se quer fazer com a reforma da Previdência. Desse total, cerca de 10% (ou R$ 2,1 bilhões/ano) vai para custear o TST e cerca de 5% custeia o TRT do Rio Grande do Sul. Tudo isso para decidir sobre uma causa de R$30/mês.

Algo não está muito certo nisso aí.

Porte de armas

Ate três dias atrás, se algum instituto de pesquisa me abordasse na rua, perguntando minha opinião sobre a posse e o porte de armas, minha resposta teria sido um “tendo a apoiar”. Confesso que tenho mixed feelings a respeito do assunto, mas sou simpático à ideia de que as pessoas têm direito à autodefesa, e que proibir armas não vai impedir o acesso de bandidos a elas.

Isso foi até três dias atrás, quando um colega de trabalho, que se senta do meu lado, recebeu um telefonema da esposa. Ele ficou branco e, ao desligar, contou a história: a esposa dele havia atravessado inadivertidamente um tiroteio na Vila Mariana, um bairro nobre de São Paulo. Uma bala perdida havia penetrado no carro e, pela providência divina, não havia acertado nenhum dos passageiros, a esposa desse meu amigo e os pais dela.

Não tínhamos toda a história naquele momento, e começamos a conversar sobre como a cidade está violenta, etc etc etc. Somente no dia seguinte vim a conhecer a verdadeira história: uma briga por conta de uma negociação de um automóvel encontrou uma “pessoa de bem” de mau humor e armada, e o resultado foram os tiros que feriram dois policiais e quase terminou em tragédia, ceifando a vida de pessoas que passavam por ali sem ter nada a ver com isso.

Continuo tendo mixed feelings a respeito do assunto. Talvez o aumento da segurança geral gerado com o porte de armas mais do que compense o risco de uma tragédia. Mas, se algum instituto de pesquisas me abordasse hoje, minha resposta seria “tendo a não apoiar”. Acho que esse deve ser o sentimento médio do Congresso, razão pela qual Bolsonaro foi obrigado a retirar o decreto sobre armas. É preciso discutir isso aí melhor, talkey?