Tratando com o Leviatã

Amigos, estou apelando para os meus contatos aqui no FB, porque parece que nada mais funciona no trato com o Leviatã, vulgo burocracia estatal.

O caso é o seguinte: minha declaração de IR do exercício de 2006, ano-base 2005 caiu na malha fina. Você leu direito: exercício 2006, não 2016. Faz 11 anos.

Muito bem. Depois de muitas idas e vindas, finalmente o fisco reconheceu que me devia dinheiro, e me enviou um ofício dizendo que eu tinha direito a restituição. Este ofício – atenção! – é de dezembro de 2013. Portanto, completaram-se 3 anos desde que, supostamente, o assunto se encerrou.

Como todo brasileiro cordato, esperei o anúncio da devolução durante o ano de 2014 inteiro. Nada. Em março de 2015, descobri que o MInistério da Fazenda tem uma Ouvidoria, e então enviei minha primeira reclamação. Recebi como resposta: “O processo está sendo trabalhado. Acrescentamos que são dezenas de procedimentos e formalidades a cumprir e inúmeros os fatores que podem influir/interferir, tornando impossível precisar a data para conclusão.”

Pois bem, o brasileiro cordato esperou mais um ano, e nada. Enviei outra reclamação para a Ouvidoria, em janeiro de 2016, de onde veio a seguinte resposta: “Sua mensagem foi encaminhada para o setor responsável nos trabalhos de seu pleito e será trabalhada com a maior brevidade possível”. Bem, pensei, a mensagem foi diferente, o que mostra que há pessoas, não robôs do outro lado. Senti um certo alívio.

No final de 2016 (mais um ano de espera, portanto), o brasileiro cordato perdeu a paciência. Fui até o posto da receita do meu bairro, para ser atendido pessoalmente. A técnica que me atendeu foi muito gentil, mas não obtive nada de útil. Pesquisando no sistema, disse-me que o processo estava parado. “Ok, pensei, isso eu já disse, não precisava do sistema”.

Perguntei o que poderia ser feito. A resposta foi um marco na minha relação com o Leviatã, um novo patamar: “Envie sua reclamação para a Ouvidoria”. Ok, já o fiz mais de uma vez. “Envie várias vezes. Comece semanalmente, e depois aumente a frequência para diariamente”. Fiquei pensando: a Ouvidoria trabalha pela insistência? Será que eles fazem um ranking do número de reclamações da mesma pessoa? Enfim, tudo é possível, quando tratamos com o Leviatã.

Fiz o que a técnica da receita me orientou. Comecei de leve. Mandei uma mensagem no final do ano, e depois comecei a mandar semanalmente no início deste ano. A última resposta me intimidou: “Aguardar manifestação da Equipe”. Assim, curto e grosso, diferente dos salamaleques das anteriores. Como se a pessoa do outro lado já estivesse de saco cheio da minha insistência. E essa “Equipe” então, com letra maiúscula? O que seria essa “Equipe”, meudeusdoceu? Enfim, achei que era melhor parar de mandar as reclamações para a Ouvidoria, para evitar qualquer ranço que pudesse piorar a situação.

Então, estou pedindo aos meus amigos aqui no FB: caso vocês conheçam alguém que trabalhe no interior do Leviatã, que conheça suas entranhas, agradeço muito se puder me indicar. Não quero pedir para passar o meu processo na frente, não quero privilégios. Quero apenas saber o que se passa, algo mais do que “aguarde a manifestação da Equipe” (brrr).

Muito obrigado pela atenção.

Parado no meio do nada

O livro “A revolta de Atlas”, de Ayn Rand, termina com um trem parado, por falta de combustível, no meio do nada. Esta cena simboliza o estado da civilização na falta absoluta da iniciativa privada.

Lembrei dessa cena final ao ler a reportagem de Veja sobre o estado lastimável da Uerj, que ainda não tem data para iniciar suas aulas. Luiz Fux e Luis Roberto Barroso, dois ministros do STF, se formaram e lecionam lá. Obviamente, os dois acham a situação lamentável. Não pude deixar de pensar que o país que estes dois senhores estão ajudando a construir, a mentalidade corporativa que impera na elite brasileira, teve o seu papel nesse estado de coisas.

O reitor da universidade aponta como uma possível saída o auxílio de ex-alunos através de doações. “As grandes universidades americanas fazem isso com grande sucesso”. Sempre que ouço isso, não consigo deixar de pensar no preço da anuidade de uma Harvard. As doações de ex-alunos financiam os cursos deficitários e os alunos mais pobres. Os outros pagam, e pagam muito bem. Imagine você, ex-aluno da Uerj (vale para USP, Unicamp e todas as outras universidades públicas), sendo chamado a financiar a mensalidade de alunos criados com danoninho e filé mignon. É simplesmente desonesto pensar em uma solução desse tipo enquanto a universidade pública for gratuita para todos. O Insper é uma universidade paga (e bem paga). No entanto, recebe doações de ex-alunos e do empresariado em geral. Há um conselho que decide a distribuição de bolsas e financiamentos para alunos com bom potencial, mas que não têm condições de pagar. Este é o modelo que funciona.

O reitor teve outra “ideia”, e já está conversando com deputados a respeito: isenção fiscal para empresas que doarem para a universidade. Genial: mais subsídios para alunos que podem pagar, e para uma repartição pública com inchaço de funcionários. O Brasil, definitivamente, merece estar parado no meio do nada.

Uma Grande China

Tenho lido várias análises em veículos como Wall Street Journal, Bloomberg e Financial Times, afirmando que a nova política de imigração de D Trump terá consequências mais catastróficas para a economia americana do que o choque de um asteroide ou o Big One, o temido terremoto causado pela falha de St Andreas, na Califórnia.

Convenhamos: considerar que a economia americana vai ficar de joelhos porque não poderá mais contar com imigrantes ilegais para limpar latrinas e bumbuns de nenês, é a admissão de que o mundo desenvolvido não passa de uma Grande China, que não sobrevive sem sub-empregados.

O corporativismo continua firme e forte

Alguns números:

– Cunha foi eleito presidente da Câmara há dois anos com 267 votos. Hoje, Maia foi eleito com 293 votos.

– Em 2015, Arlindo Chinaglia, do PT, recebeu 136 votos. Hoje, a soma dos candidatos do “campo progressista” (André Figueiredo, do PDT e Luíza Erundina, do PSOL) receberam, no conjunto, 69 votos. Ou 13,5% da Câmara.

A isto se resume a esquerda ideológica no parlamento brasileiro. Fazem muito barulho, queimam pneus, quebram vidraças, mas são irrelevantes politicamente.

Infelizmente, porém, isso não significa que os liberais estejam em maioria. O grande inimigo do povo, o corporativismo, continua firme e forte. Privatização da Petrobras, nem pensar. Fim do imposto sindical, um sonho de uma noite de verão. Fim da estabilidade do funcionalismo público, faz me rir. Neste ponto, a esquerda ideológica e o centrão corporativista se dão as mãos para espoliar o povo brasileiro.