O papel histórico de Michel Temer

No auge da campanha eleitoral, eu participava de uma das muitas reuniões que tivemos, na empresa onde trabalho, com “analistas políticos”. No caso, se tratava de uma grande e respeitada consultoria global.

Haddad tinha começado sua escalada e o consultor, do alto de seus altos estudos, vaticinou: “Haddad vence o primeiro turno. No 2o turno, Bolsonaro pode virar em função do sentimento anti-petista, mas vai ser uma eleição muito difícil”. Bem, o resto é história.

No que se baseava essa previsão? O impeachment havia sido uma benção para o PT, que havia se livrado de sua própria “herança maldita”, deixando-a no colo da oposição. Se Dilma estivesse ainda no posto, não haveria como disfarçar a calamidade. Já tinha ouvido muito desse tipo de “análise”, mas me espantei com tamanho simplismo vindo de uma consultoria tão renomada.

Aqui entra a saga de Maurício Macri para ilustrar o meu ponto. Digamos que, maquiavelicamente, o mundo político tivesse decidido deixar Dilma “sangrar” no cargo, enfiando o país em um buraco cada vez mais fundo. Assumamos que isso tivesse dado “certo” e um candidato da oposição tivesse vencido a eleição.(Este cenário de uma vitória da oposição é teórico. Com os instrumentos de poder na mão, uma derrota do PT – provavelmente Lula solto – seria mais do que incerta. Fecha parêntesis).

Como estaria esse novo presidente agora? Muito provavelmente como Macri: lutando uma luta inglória para tirar o país do buraco de políticas econômicas equivocadas. E lembre-se: seriam dois anos e oito meses adicionais de caminhada para o abismo.

Hoje, as pesquisas indicam Macri empatado com ninguém menos que Cristina Kirshner! Sua impopularidade explodiu e já empata com a da ex-presidenta. Tudo isso porque ele está tendo que fazer a lição de casa, sempre impopular, de colocar as finanças públicas em ordem. Quanto maior o buraco, maior o desgaste.

Agora, imagine Bolsonaro assumindo depois de oito anos completos de desgoverno Dilma. A imagem mais próxima que consigo imaginar é Collor assumindo depois de 5 anos de desgoverno Sarney. Collor não chegou ao fim de seu mandato.

A história ainda vai reconhecer o papel de Michel Temer. Não só evitou que o país continuasse a caminhar para o buraco ao se colocar como alternativa política viável para substituir Dilma, como aplainou o caminho para a viabilidade política do próximo governo. Carregou o ônus da impopularidade que recairiam nas costas do governo seguinte, como demonstra Macri.

O trabalho que aguarda o governo Bolsonaro não deve ser subestimado. Ajustes gigantescos na estrutura do Estado e das instituições precisam ser feitos para permitir que o país retome seu potencial de crescimento econômico. Mas não tem dúvida também que o terreno é muito melhor do que aquele encontrado por Maurício Macri.

Não, o impeachment não foi útil ao PT, como sugeriu aquela famosa consultoria global. O impeachment foi útil ao País, pois permitirá que o governo Bolsonaro construa sobre bases mais sólidas, graças à limpeza operada por Temer. Se aproveitará a oportunidade, é lá com ele.

Governo simbólico

Da página de Eduardo Affonso

Há quem a critique, mas eu acho sensacional o simbolismo da posse simbólica de Lula para um quinto mandato consecutivo do PT, depois de amanhã, em Curitiba.

Tomara que os petistas não se contentem em gritar um simbólico “Viva o presidente!” na calçada em frente ao prédio (concreto) da Polícia Federal, e nomeiem também um ministério simbólico para, simbolicamente, governar o país por simbólicos quatro anos.

Lamentável é que tenham demorado tanto para ter essa ideia. Isso deveria ter sido feito já em 2003. Um governo simbólico, naquela ocasião, teria indicado diretores simbólicos para a Petrobras e saqueado apenas simbolicamente a empresa.

Teríamos tido um mensalão simbólico e só o simbolismo do triplex e do sítio. O calote dos países bolivarianos teria sido simbólico, simbólica a quadrilha formada por Dirceu, Genoíno, Delúbio e cia.

Friboi e Odebrecht não passariam de símbolos. Toffoli e Lewandowski seriam ministros simbólicos do Simbólico Tribunal Federal.

A simbolicíssima Dilma faria uma faxina simbólica varrendo simbolicamente para debaixo de um simbólico tapete os malfeitos simbólicos dos seus simbólicos ministros. Simbólicas pedaladas culminariam num simbolicamente fatiado impítimã e permaneceria intacta a simbologia do golpe.

Após dezesseis anos de puro simbolismo, o presidente que efetivamente toma posse nesta terça receberia um país com menos desemprego, menos ódio, menos doutrinação, menos violência.

Que a posse simbólica de Lula seja um símbolo de que o Brasil enfim achou o rumo e que ninguém – nem o PT – consegue errar o tempo todo.

Muito sucesso em seu governo simbólico, presidente Lula!

(Questão de ordem: Em caso de indulto ou uma marcoaurelice qualquer, o Haddad assume simbolicamente o cargo?)

Os escravos do Faraó

Enquanto Lula for vivo, as esquerdas em geral e o PT em particular serão um seu puxadinho. O que existe é Lula, o resto é só apêndice.

A prova disso é que nem a prisão de Lula foi capaz de libertar o PT. Pelo contrário: o partido, seus intelectuais, religiosos, artistas, jornalistas, foram junto com Lula para a cadeia, como iam para a tumba os escravos do Faraó, acompanhando seus restos mortais, condenados eles mesmos a morrerem com seu senhor.

O legado de Michel Temer

Ainda na vibe da retrospectiva, vou listar aqui as 10 mais importantes iniciativas do governo Temer, nestes 2 anos e 8 meses que se encerram amanhã:

1. Reforma trabalhista

2. Fim do imposto sindical (está dentro da reforma trabalhista, mas é tão simbólico que merece um item à parte)

3. Reforma da Previdência (não foi aprovada, mas avançou muito no trâmite. Será uma burrice se o novo governo não aproveitar o que já foi feito até o momento)

4. Reforma do Ensino Médio

5. Aprovação do teto de gastos

6. Privatização das distribuidoras deficitárias da Eletrobrás, o que abre caminho para a privatização da própria estatal

7. Recuperação das finanças da Petrobras

8. Nomeação de um quadro competente para o BC, que derrubou a inflação e permitiu a taxa Selic mais baixa da história

9. Permissão de 100% de capital estrangeiro nas companhias aéreas

10. Last but not least, coordenação do impeachment de Dilma Rousseff

Temer encerra o seu curto mandato com uma das maiores desaprovações populares da história. Com tamanha impopularidade, somente Sarney. Mas a impopularidade de Sarney teve sua origem no debacle econômico causado por uma série de planos mal sucedidos para conter a inflação. Temer é rejeitado pela população por conta de variados escândalos de corrupção (a imagem de Rocha Loures correndo com uma mala de dinheiro e o áudio com Joesley Batista valem por mil palavras) e uma imagem de fisiologismo que foi rejeitada pelos eleitores.

Mas, ao contrário de Sarney, Temer deixa uma base robusta na economia. Ainda se reconhecerá o muito que se fez em tão pouco tempo e em circunstâncias tão adversas. Como diria o próprio Temer, “tem que manter isso, viu?”.

Os 10 fatos mais marcantes de 2018

Os 10 acontecimentos mais marcantes de 2018, segundo minha particularíssima avaliação. Você substituiria algum?

1. 24/jan: Condenação de Lula é confirmada pelo TRF-4. Pena é elevada de 9 anos e 6 meses para 12 anos e 1 mês

2. 16/fev: Temer decreta intervenção federal na Secretaria de Segurança Pública do RJ

3. 07/abr: Lula é preso em Curitiba

4. 21/mai: Tem início o protesto dos caminhoneiros

5. 11/Jun: O presidente Donald Trump encontra-se com o ditador norte-coreano Kim Jong-un

6. 15/jun: O governo Trump impõe sobretaxa de 25% sobre importações da China, iniciando a Guerra Comercial contra aquele país

7. 06/jul: A seleção brasileira perde para a Bélgica e é eliminada da Copa do Mundo da Rússia

8. 06/set: Bolsonaro é esfaqueado em ato de campanha em Juiz de Fora

9. 28/out: Bolsonaro é eleito presidente do Brasil

10. 02/nov: O juiz Sérgio Moro aceita ser Ministro da Justiça

Tosco

Trump é um homem de negócios. Quando ele compra um imóvel de alguém, ele considera que está “loosing money” só porque o dinheiro saiu do seu bolso?

Pois é exatamente isso o que ele sugere, ao confundir déficit comercial com prejuízo. Eu tento não achar o Trump um tosco, mas ele não colabora.

Despertar da cidadania

Ainda não consegui passar da página 2 do Estadão. Este artigo, ao lado do anterior de Modesto Carvalhosa, também merece sua leitura.

Uma nota útil: Murillo de Aragão é um analista político respeitado, acompanho seu trabalho há mais de 20 anos. Longe de ser um doidivanas alt-right embarcando na mais nova onda. O que dá mais peso a suas palavras.

Sentar para negociar com quem?

De maneira geral, boa entrevista do Mourão hoje no Valor. Diagnóstico correto sobre o que impede o crescimento do PIB. Mas quando desce aos detalhes…

Mourão ainda vive na década de 80 quando fala da dívida pública. Como se o governo devesse pra meia dúzia de bancos e fosse possível sentar em uma mesa e renegociar a divida…

A dívida pública está nas mãos dos investidores em geral, através principalmente de fundos de investimento e fundos de pensão. Os administradores profissionais desses fundos, no final do dia, fazem o que os donos do dinheiro querem. E o que queremos? Rentabilidade com segurança.

O Brasil paga muito juros porque os juros são altos e a dívida é gigante. As duas coisas estão interligadas: se a dívida fosse menor, os credores teriam mais confiança e cobrariam juros menores. Além disso, quanto menos dívida no mercado, mais sobra dinheiro, diminuindo a pressão sobre os juros. Uma questão de oferta e demanda.

Não tem isso de “negociação”. O que existe é o mercado de dívida. Se o governo fizer a lição de casa, os juros exigidos pelos credores (repito, todos os que temos investimentos no mercado) será menor. Isso se dará de maneira natural. Isso de “sentar pra negociar” é uma rematada bobagem. Ainda bem que Mourão, ao que parece até o momento, será uma figura decorativa no novo governo.