Brincando de greve

Reportagem no site da Adusp (Associação dos Docentes da USP) nos dá detalhes da greve que não existem nas matérias dos grandes jornais. Para dar o devido crédito, cheguei nesse site através da menção em reportagem de ontem do Estadão.

Em primeiro lugar, ficamos sabendo que Eugênio Bucci (sim, ele mesmo) está na mesa de negociações pelo lado da reitoria. Muito legal ver o champion da democracia lidando com as consequências do tipo de pensamento que representa.

Em segundo lugar, delicioso ver que as negociações não passaram sequer das preliminares, a pauta que seria discutida. Pudera, irmão: “23 reivindicações em 5 eixos” é coisa pra dedéu. Aliás, ouviu a palavra “eixo”, já sabe que é coisa de planejamento estatal. O programa do PT está cheio de “eixos”, e o recém-nascido plano de segurança pública do Dino tem mais “eixo” do que medidas concretas. Bem, os representantes da reitoria, incluindo Bucci, não toparam a pauta.

Mas o melhor vem agora: surpreendentemente, uma das líderes do movimento, Mandi Coelho, é filiada ao PSTU! Quem diria! A moça tem 28 aninhos e é diretora do Centro Acadêmico da Letras. Sua página no Facebook tem uma ilustração de Lênin, que, como sabemos, implantou a democracia na União Soviética.

Por fim, foram 11 os “representantes” dos estudantes nessa reunião com a reitoria, mas apenas os nomes de Mandi Coelho e Allan Terada são citados. Este último está terminando Geografia, e cursou o colegial no Colégio Santa Cruz, um celeiro de lideranças. Terada ameaçou “subir o tom” se as negociações não caminhassem, o que quer que isso signifique.

Sinceramente, essa greve me faz lembrar aquelas atividades de “ONU” no colégio, em que alunos assumem o papel de diplomatas para entender como a coisa funciona. Nessas dinâmicas nada está realmente em jogo, os atos dos “diplomatas-mirins” não têm maiores consequências para si mesmos ou para os outros. Nessa greve dos “estudantes”, também não há risco para os estudantes ou para a comunidade acadêmica. No final, ninguém será punido, ninguém repetirá de ano, todo mundo vai sair com seu diploma e os professores vão continuar recebendo os seus salários. Mas os “estudantes” terão vivido a experiência de uma greve, em que “negociam” com autoridades que entram no jogo para que os “estudantes” tenham uma experiência imersiva completa. Com a atividade lúdica encerrada, todos voltarão para a casa de seus pais, onde têm cama, comida e roupa lavada. Afinal, a vanguarda do proletariado merece.

Uma resposta para “Brincando de greve”

  1. Otimo texto. Realmente parece coisa de criança. Quando visitei uma Universidade nos EUA compreendi porque eles lideram o ranking de educação de qualidade e tem um PIB 30 vezes maior que o nosso. Os espaços são agradabilíssimos, limpos, alta tecnologia, mais parece um Shooping, os melhores alunos recebem regalias adicionais na Universidade. Pixação, greve, depredação? Nem pensar. Enquanto eles estudam, nós queimamos nosso dinheiro e tempo desta forma.

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