O mico

A última nota do Instituto Lula sobre o rocambolesco triplex do Guarujá é assim:

– Você compra um ap na planta, o 141.

– Depois você se interessa por outro, o 164-A, e devolve o 141.

– A construtora praticamente refaz o apartamento 164-A segundo o seu gosto.

– Você aprova a reforma.

Você desiste da compra do novo apartamento porque a imprensa se interessa pelo assunto.

Conclusão: a construtora sobrou com o mico de ter que vender um apartamento totalmente reformado ao seu gosto.

Pergunta: você já tentou convencer uma construtora a reformar o seu apartamento ANTES DE COMPRÁ-LO?

Um brasileiro

“Se o apartamento não é dele, por que ele viria aqui no condomínio? O que ele viria fazer aqui no prédio?”

José Afonso Pinheiro, zelador do Condomínio Solaris, é a versão 2016 do motorista Francisco Eriberto, que derrubou Collor, e do caseiro Francenildo, que derrubou Palloci.

Para quem não viveu esta época, Francisco Eriberto era motorista da secretária do Collor, e levava dinheiro de lá para cá.

Na CPI do Collor, o deputado Roberto Jefferson, na época pertencente à tropa de choque de Collor no Congresso, perguntou a Eriberto se ele estava fazendo aquela denúncia somente por patriotismo, insinuando que o motorista estaria recebendo dinheiro de alguém. Ficou para a história a sua antológica resposta: “E o senhor acha pouco?”

Os pobres, os trabalhadores, que esses populistas de todas as cores dizem representar, só querem trabalhar em paz, sem que alguém lhes roube em nome de uma utopia. Como disse o zelador do Condomínio Solaris, Josá Afonso Pinheiro, na entrevista à Veja, “o país precisa de pessoas honestas, com atitude e bom caráter.” É isso.

A vida é feita de símbolos

A vida é feita de símbolos.

A Lava-Jato frequentemente nos brinda com apresentações mostrando intrincados esquemas de lavagem de bilhões de reais. Que importa? Ninguém entende nada daquilo.

O TCU desnudou de maneira irretocável a contabilidade criativa do governo, que varreu pra debaixo do tapete bilhões de reais de deficit. Que importa? Ninguém entende nada daquilo.

Mas um triplex com elevador privativo todo mundo entende.

Quando a intolerância é virtude

São cada vez mais comuns análises sobre a crescente “intolerância política” no país. São análises que tomam como pressuposto de que há um embate de ideias entre dois campos legítimos. Sendo assim, essa suposta intolerância estaria na contramão da civilização, que supõe o respeito pelo outro.

Nada mais falso. O verdadeiro combate não é de ideias, mas moral. Duvido que alguém, no Brasil, se disporia a xingar outra pessoa na rua por ser marxista ou neoliberal ou desenvolvimentista.

Mas sim, há um acirramento dos ânimos quando um dos lados defende ladrões, que roubam sobretudo dos mais pobres, em nome de uma ideologia. E, quando são acusados, defendem a “tolerância com a opinião alheia”. Compreende-se que alguém perca as estribeiras quando, ao simplesmente defender a honestidade, é acusado de “não gostar de pobre”.

Uma sociedade civilizada é feita de tolerância para com ideias diferentes e intolerância para com o crime. A intolerância, neste caso, é virtude, por mais que analistas chapa-branca preguem o oposto.