Diz tudo

Esta coletânea de frases de Paulo Freire diz tudo. Diz porque não temos nenhum prêmio Nobel científico. Diz porque nossa nota no Pisa é uma vergonha, mesmo se comparada com a de outros países de mesma renda. Diz porque grande parte de nossos universitários são analfabetos funcionais. Diz porque a produtividade do trabalhador brasileiro é tão baixa.

Paulo Freire ser considerado o patrono da educação brasileira diz tudo.

Cri cri cri

“Ouvi que vão vender a Eletrobras. Uma empresa que já teve R$ 400 bilhões de investimento vai ser vendida por R$ 20 bilhões e acham que é o máximo fazer isso.” – Lula

“Precisamos que as empresas de capital público atendam aos brasileiros, independente de quem é a gestão. Então, eu acho que privatizar a Eletrobras, privatizar mais de 100 empresas públicas que não servem para nada, são meros, na sua maioria, cabides de emprego e muito mal na sua gestão… então, nós precisamos de boa gestão” – Rodrigo Maia

“Vender a Eletrobrás é abrir mão da segurança energética.Como ocorreu em 2001, no governo FHC, significa deixar o País sujeito à apagões.” – Dilma

“A decisão do governo de privatizar a Eletrobras é histórica, com significado só comparável à desestatização do Sistema Telebras nos anos 1990.” – Henrique Meirelles

“Sem a Eletrobrás não teríamos feito o Luz para Todos! Metade do Brasil continuaria no escuro! Pra esse governo o povo é detalhe. Desalmados!” – Gleisi Hoffman

“Ontem, o governo anunciou a privatização de diversos ativos, como a Eletrobras, que subiu 46% num dia. A Casa da Moeda será privatizada, perfeito. É disso que o Brasil precisa” – Doria

“É uma mudança geral e drástica do marco regulatório do setor elétrico, criado nos governos Lula e Dilma, que proporcionou segurança energética e expansão do parque gerador e de transmissão” – nota do PT

“cri cri cri” – PSDB e seus caciques.

Me dê motivo

O ambulatório da Casa da Moeda conta com 22 médicos, 11 fisioterapeutas, 1 massoterapeuta, 2 dentistas, 2 psicólogos, 1 nutricionista, 1 farmacêutico, 9 enfermeiros, 3 técnicos de enfermagem, 5 recepcionistas e 7 motoristas, para 2.700 funcionários.

O deputado Nelson Marquezelli (PTB-SP), que indicou o presidente da estatal, quer uma audiência com Temer para entender o motivo da venda.

O poder mágico das redes sociais

Semana passada, não sei como, perdi minha carteira no ônibus. Perdi ou foi furtada, tanto faz. O fato é que estavam lá todos os documentos, cartões de crédito, enfim, toda a parafernália do homem (e da mulher) moderno. Toca bloquear tudo, tirar 2a via, essas coisas.

Qual não foi minha surpresa quando, hoje, uma semana depois do acontecido, uma mulher entra em contato comigo via Messenger do Facebook: “Vc perdeu a sua carteira com todos os seus documentos.” Depois de refeito da surpresa, perguntei: “Sim. Onde você os encontrou?”. Ao que ela respondeu: “Meu marido é motorista e achou dentro do ônibus”.

Para encurtar a estória, ele tinha achado a carteira, mas não havia telefone de contato. Uma semana depois, ocorreu a ela procurar-me no Facebook e… pimba! Minha esposa combinou de ir até a casa dela, que ficava em uma “comunidade”, para pegar a carteira. Estava tudo lá, inclusive R$ 160 em dinheiro.

Quatro conclusões dessa estória:

1) Coloque seu telefone de contato na carteira. Isso me teria evitado toda a trabalheira burocrática de bloquear cartões e tirar 2a via de documentos.

2) Estou cada vez mais convencido de que correlacionar pobreza com criminalidade é fruto do mais abjeto preconceito. Como se o pobre, só por ser pobre, não tivesse outra alternativa. Tem criminoso entre ricos e pobres. Esse motorista e sua esposa mostraram que ser honesto ou criminoso é uma escolha pessoal e não fruto de um determinismo social tão defendido pelas esquerdas.

3) Tive uma experiência prática de como as redes sociais permearam a sociedade de alto a baixo. Os políticos que dominarem esse meio de comunicação indubitavelmente sairão na frente nas eleições.

4) Mark Zuckerberg merece cada dólar de sua fortuna de bilhões.

No campo do possível

O anúncio da privatização da Eletrobrás, além de todos os méritos óbvios, tem mais um ainda pouco percebido, mas muito importante: começa a tornar plausível, imaginável, um cenário em que a Petrobras possa ser privatizada.

Antes do anúncio da privatização da Eletrobrás, a privatização das vacas sagradas do Estado brasileiro (Petro, Eletro, Banco do Brasil e Caixa) era apenas um delírio de liberais insanos, que não tinha a mínima, a mais remota chance de acontecer.

Sem querer comparar a Eletro com a Petro (são empresas que estão em patamares diferentes no imaginário do perfeito idiota latino-americano), somente o fato de a privatização da Eletrobrás ter sido anunciada move a privatização da Petrobras do campo dos unicórnios e duendes para o campo da viagem para a Lua. Muito difícil, mas possível, afinal.

Não é nada, mas é muito, em um país ainda preso a fetiches do século XX.

Onde está o dinheiro?

As ações da Eletrobrás subiram hoje 50%.

Vejam bem, não há absolutamente nada certo. O modelo não está definido, depende ainda de uma infinidade de fatores, vai haver muita pressão dos vários atores envolvidos. Pode demorar bastante, se é que um dia vai, de fato, acontecer.

Mas bastou uma simples carta de boas intenções, e os investidores compraram ações da empresa como se não houvesse amanhã. Se o processo realmente avançar, as ações podem subir muito mais.

O valor de mercado da Eletrobrás, ontem, era de R$20 bilhões. Com a alta de hoje, a empresa passou a valer R$ 30 bilhões. Como o Tesouro mais o BNDES detém cerca de 64% da empresa, ganharam (ganhamos) R$ 6,4 bilhões da noite para o dia. Bastou uma carta de boas intenções.

Sim, meus amigos, este é o custo de se manter estatais. Quando você se perguntar onde está o dinheiro para investir em saúde e educação, já sabe onde procurar.

Mais um curral

A privatização da Eletrobrás é dessas coisas em que só acredito vendo. FHC, na época das grandes privatizações, até que tentou, mas não conseguiu. Fez privatizações localizadas, de concessionárias estaduais. Mas na vaca sagrada do setor elétrico, não tocou.

O que me chama a atenção nesse episódio é o contraponto que o governo federal está fazendo em relação a Minas Gerais. Enquanto políticos mineiros dos mais diversos partidos lutam sofregamente para manter mais essa ilha de ineficiência chamada Cemig, o governo federal vende a Eletrobrás, para aumentar a eficiência e baratear a energia para o consumidor.

Por que tamanha sofreguidão em manter a Cemig nas mãos do estado? Difícil de entender, sem lançar mão da hipótese de manter nas mãos desses mesmos políticos um instrumento de, digamos, acomodação de interesses. “Interesses estratégicos” ou “patrimônio do povo mineiro” seriam motivos cômicos se não fossem trágicos. Minas, como todos os outros Estados do Brasil, está quebrada. Mas esses políticos irresponsáveis não veem problema em tomar uma dívida de R$11bi para pagar pelas concessões que, de outro modo, seriam leiloadas. E R$11 bi do BNDES, que estaria, assim, perpetuando a ineficiência.

Aécio Neves, o político mineiro que está liderando esta patacoada, posou de moderno na campanha de 2014. Está se mostrando, na verdade, mais um coronel que quer manter o seu curral intacto.

A conta sempre chega

O Valor de sexta, caderno do fim de semana, traz reportagem sobre a penúria da UERJ.

A Veja deste fim de semana traz reportagem sobre a matança de policiais militares no RJ. Morreram quatro vezes mais PMs no RJ do que em SP neste ano.

O Rio é o exemplo do que estaria acontecendo no Brasil se o governo não tivesse capacidade de se endividar ou, no limite, não tivesse o monopólio da impressão do seu próprio dinheiro. O Brasil, assim como o Rio e grande parte dos entes federativos, está quebrado. A coisa só funciona porque, por algum motivo, os credores continuam a dar um voto de confiança na capacidade do país de pagar a sua dívida.

Se o Rio pudesse emitir sua própria dívida, ou imprimir o seu próprio dinheiro, os salários dos professores da UERJ estariam em dia, e os PMs talvez não estivessem morrendo feito moscas. Parece uma solução, mas é só um problema adiado. Um dia, o dinheiro perde o seu valor com a inflação, e os credores perdem a paciência, e exigem o seu dinheiro de volta.

O Brasil está apenas adiando o problema, luxo a que o Rio não se pode permitir. Mas um dia a conta chega. Sempre chega.

País sério

São 45 presidentes dos Estados Unidos, desde o primeiro, George Washington, em 1789. 45 presidentes, em uma história ininterrupta de mais de dois séculos.

O moderno parlamentarismo inglês data do século 17. Mais de três séculos ininterruptos.

Dois sistemas, presidencialismo e parlamentarismo. Dois sistemas que funcionam há séculos em países sérios. E gastamos tempo discutindo sistema de governo, ao invés de discutirmos como vamos nos tornar um país sério.