Em artigo no Valor de hoje, o presidente do IPEA saúda “A Revolução Silenciosa da Governança das Estatais”. Seu ponto é que, agora, será muito mais difícil fazer rapinagem nas estatais. Ou, em uma versão mais benevolente, usar as estatais para fins políticos.
É óbvio ululante que a privatização é a medida mais eficaz para o saneamento das estatais. Mesmo porque, são tantas as amarras para se evitar a rapinagem, que a simples existência da estatal perde o seu sentido econômico.
O presidente do IPEA até reconhece isso no artigo, ao dizer que “a privatização das estatais traz maior transparência, equivalência e efetividade no pagamento de tributos e accountability das suas atividades”. Mas o sujeito não resiste e acrescenta: “No entanto, em alguns casos, manter empresas controladas pelo Estado é relevante, em razão da natureza essencialmente social dos serviços ofertados, típicos de Estado”.
Bem, não consigo pensar em nada com mais “natureza essencialmente social” do que alimentação, saúde, educação e segurança pública. Esses últimos três estão na mão do Estado, e são o descalabro conhecido. E me recuso a imaginar os efeitos da existência de uma grande estatal de alimentação.
Bancos, petróleo, satélite artificial e uma grande lista de etceteras não parece cumprir a “natureza essencialmente social” para justificar a existência de estatais. Mas o presidente do IPEA encerra o artigo justificando tudo: segundo ele, “está-se construindo um novo Brasil por meio do capitalismo democrático de mercado”. Como se “a nova governança das estatais” estivesse finalmente tirando essas estrovengas das mãos dos políticos e devolvendo-as para o povo.
Prefiro a minha parte em dinheiro mesmo.