Nenhum direito a menos!

O vale-refeição é mais uma daquelas muitas invenções em que governo e sindicatos se unem para colocar no rabo das empresas e empregados (usei o termo técnico porque outros que me ocorreram são de baixo calão).

Apresentado como “uma conquista” do trabalhador, o vale-refeição amarra o funcionário a um determinado hábito, qual seja, o de almoçar em restaurante na hora do almoço. E se o trabalhador preferir levar sua própria marmita e receber o vale-refeição em dinheiro? Não pode.

Quer dizer, a empresa vai gastar aquele dinheiro de qualquer forma, faz parte do salário do funcionário, mas o sujeito não tem liberdade de gastar o dinheiro como lhe aprouver. Trata-se de um dinheiro “carimbado”. Ou seja, para ter acesso a um dinheiro que é seu, o sujeito precisa almoçar em restaurante, normalmente precisando complementar o valor do vale, que não é suficiente.

O vale-refeição é dessas coisas que traduzem bem o Brasil: um “direito” que ninguém quer, defendido com unhas e dentes pelos sindicatos. “Nenhum direito a menos!” Inclusive o direito de não ter acesso livre a uma parte do seu salário.

Museu de grandes novidades

O Coaf vai rastrear o dinheiro do narcotráfico, anuncia o governo.

O Coaf já não fazia isto antes? Ou, quando tinha uma movimentação suspeita, as ligadas ao narcotráfico eram deixadas de lado?

Esse governo é um museu de grandes novidades.

O jornalismo em que a pauta faz os fatos

Da página de Marcelo Rocha Monteiro

A apresentadora da GloboNews (e renomada jurista!) Aline não sei das quantas (de amarelo na imagem abaixo) “explica” que houve “irregularidades cometidas pelo Judiciário e pelo MP” na prisão de uma moça de nome Jessica, em São Paulo.

Jessica – que estava grávida e pouco tempo depois entrou em trabalho de parto – foi presa em flagrante de tráfico de drogas, juntamente com seu marido. Além das 90 gramas de maconha encontradas com Jessica, a polícia apreendeu mais drogas com o marido da moça – que também foi preso em flagrante – bem como duas espingardas e munição, tudo na casa do simpático casal (fato que a reportagem, curiosamente, omite, mas outros órgãos da imprensa noticiaram)

A indignada Aline destaca que “inclusive uma promotora mulher (sic) que estava grávida foi a favor da prisão de Jessica”. O juiz e a promotora erraram – prossegue a bonita especialista em Direito Processual Penal – porque “por lei (😳) Jessica não poderia ficar na prisão pois preenche todos os requisitos para prisão domiciliar: foi presa com pequena quantidade de drogas, é primária e não integra nenhuma organização criminosa” (talvez apenas uma microempresa familiar armada, mas isso é detalhe…).

A repórter-jurista não teve a gentileza de informar que lei é essa, lei que ela certamente deve ter descoberto num verdadeiro furo de reportagem, já que até professores de Direito que lecionam Processo Penal há décadas (eu, por exemplo) desconhecem sua existência. Obrigado, Aline!

Na sequência, a mesma reportagem informa que “há instalações próprias no sistema prisional de São Paulo para mulheres na situação de Jessica”.

Não ocorreu a nenhum dos brilhantes profissionais envolvidos na confecção da matéria jornalística que há aí uma evidente contradição: se “por lei” mulheres na situação de Jessica não podem ser presas, como então podem existir NO SISTEMA PRISIONAL de São Paulo “instalações próprias para mulheres na situação de Jessica? Seriam prisões clandestinas, onde ficam mulheres que “por lei não poderiam ser presas”?

A GloboNews descobriu “os porões do Alckmin”! 😳😂

Para arrematar o festival de asneiras, não poderia evidentemente faltar a obrigatória entrevista com a “pesquisadora-especialista-ongueira-progressista”, que visivelmente em tom de reclamação comenta que “o crime de tráfico de drogas tem sido muito vigiado”, e como muitas mulheres se dedicam a esse tipo de “relação comercial” (sic), “acabam sendo presas”. Mas que país é esse em que mulheres que praticam crimes acabam sendo presas, meu Deus? Verdadeiramente um absurdo, não acham?

“A Jessica não tinha nenhuma necessidade de ser presa”, prossegue a valente pesquisadora. “Temos que prestar atenção a como funciona a cabeça desses operadores de Justiça – juízes e promotores; a promotora grávida não teve a sensibilidade de perceber aqui que a prisão foi equivocada.”

A prisão em flagrante de uma traficante que tinha drogas, armas e munição na casa em que morava foi “equivocada”.

Precisamos prestar atenção a como funciona a cabeça desses “pesquisadores” e jornalistas.

(matricule-se você também na Faculdade GloboNews de Ciências Jurídicas)🙄😒

Em tempo: como nota positiva, e por uma questão de justiça, quero observar que a apresentadora Aline conjugou corretamente o verbo HAVER quando disse que “HOUVE irregularidades na prisão de Jessica”; o verbo HAVER, no sentido de EXISTIR, não tem plural. Um progresso, portanto, já que cinco minutos antes, comentando as chuvas no Rio, a simpática jornalista dissera que, “apesar de HAVEREM dois mil funcionários da Prefeitura nas ruas, não vejo nenhum deles” nos bairros alagados.

“A gente criticamos”, mas “a gente elogiamos” também… 😉

Triste fim do jornalismo brasileiro.