Os problemas do Brasil não são improvisados

Trem lotado. De pé, tento ler o jornal no meu iPad, quando começo a ouvir a voz do Milton Leite narrando os gols do Corinthians. Vem do celular de um rapaz sentado à minha frente. Como vocês sabem, foi uma partida de 9 gols, de modo que aquilo não parava.

Cutuquei o ombro do rapaz e perguntei delicadamente se ele poderia colocar um fone de ouvido. “Se eu tivesse estaria usando”, foi a resposta, um pouco menos educada. Logo em seguida, como se tivesse sido combinado, a voz feminina simpática da gravação que distribui avisos aos passageiros lembra: “A CPTM informa: é proibido o uso de aparelhos sonoros sem fones de ouvido”.

O rapaz não se deu por achado e continuou ouvindo os gols como se nada tivesse acontecido. Em seguida, engatou um game igualmente barulhento.

Trajava terno, e a julgar pela estação onde desceu, o rapaz deve trabalhar em algum escritório da região da Faria Lima. Não é, portanto, analfabeto ou miserável. É, antes, o típico representante da classe C urbana. Um brasileiro, enfim, para quem a lei é boa quando é para os outros, e deve ser ignorada quando contraria seus interesses.

O rapaz do trem é um brasileiro. Lula é um brasileiro. Os problemas do Brasil não são improvisados. Foram construídos com afinco ao longo de gerações pelos brasileiros.

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