Mão na consciência

Já imaginou um presidente despreparado ou doido, como o Bolsonaro ou o Ciro, diante de uma greve dos caminhoneiros? Seria capaz de fazer coisas malucas e sem sentido, como tabelar o frete e baixar o preço do diesel por decreto. Enfim, um horror, espero que o brasileiro ponha a mão na consciência.

O problema é fiscal

O problema é fiscal.

O Ilan e o Guardia vieram a público para afirmar que o Brasil tem fundamentos sólidos. Não poderiam dizer outra coisa.

Fundamentos sólidos uma pinóia! Temos uma dívida crescendo sem controle, e o que vemos é cada um procurando preservar o seu. Enquanto isso, a eleição é um deserto de homens e ideias.

O Ilan e o Guardia tentam, como podem, segurar as pontas, usando os pobres instrumentos que têm à mão. Estão tentando segurar a rachadura da barragem com esparadrapo.

O problema é fiscal. Enquanto as contas públicas não forem arrumadas, a coisa é daí para pior.

O setor elétrico do governo Temer

Frete tabelado.

Fiscalização de preços nos postos de gasolina.

ANP impondo periodicidade de reajuste de preços à Petrobras.

O governo Dilma desorganizou o setor elétrico ao intervir no sistema de preços, e vamos pagar a conta ainda por muito tempo.

O setor de combustíveis é o setor elétrico do governo Temer.

Mercado negro

Ao ler essa reportagem você vai aprender que:

– as tabelas são incompletas e os preços são ilógicos

– os grandes produtores vão internalizar o serviço de frete, diminuindo ainda mais o mercado para os autônomos.

– os caminhoneiros já ameaçam nova paralisação se mexerem na tal tabela

Eu, se fosse o governo, não mexia na tabela não. Os próprios caminhoneiros vão acabar com essa tabela na prática, criando um mercado negro do frete.

Fiquei aliviado

Ufa! Fiquei aliviado em saber que todo o poder de polícia do governo será usado para controlar preços e não em coisas secundárias como o combate ao crime organizado, por exemplo.

Vai dar muito certo

Quem tem mais de 40 anos vai lembrar da Sunab, Superintendência Nacional de Abastecimento. Era o órgão responsável por fiscalizar os preços na década de 80.

O PROCON fiscalizando preço de combustível na bomba vai dar muito certo, pode apostar.

Trade offs

Pesquisa da Ipsos publicada hoje no Valor mostra aquilo que pesquisas anteriores já mostraram: a população brasileira é majoritariamente contrária à privatização da Petrobras e do Banco do Brasil e também contrária à reforma da Previdência.

Sou capaz de apostar que, se a mesma pesquisa fosse feita no início da década de 90, os brasileiros também seriam majoritariamente contrários à privatização da Vale, Telebras, Embraer e CSN. E, no entanto, essas empresas foram privatizadas. Não por boniteza, mas por precisão. O mesmo caso de hoje.

Um estadista, assim como um bom empresário, percebe as necessidades das pessoas antes mesmo que as pessoas tenham consciência dessas necessidades. Steve Jobs criou o iPhone antes que as pessoas sentissem necessidade do aparelho que se tornou onipresente na vida cotidiana. Da mesma forma, a agenda da privatização é desejada pela maioria dos brasileiros, mesmo que não tenham consciência disso.

Para colocar esta minha convicção à prova, seria necessário fazer um outro tipo de pesquisa. Perguntar simplesmente se a Petrobras deveria ser privatizada não resolve, porque a resposta “não custa nada” para o entrevistado. É fácil ser contra a privatização, por um sentimento nacionalista difuso. Mas não é assim que a economia funciona. A economia é feita de trade offs. Portanto, qualquer pesquisa deveria apresentar trade offs para os pesquisados, e não perguntas secas, como “você apoia a privatização da Petrobras?”. As perguntas deveriam ser do seguinte tipo:

– O que você prefere: uma escola básica de qualidade ou manter a Petrobras estatal?

– O que você prefere: hospitais públicos de qualidade ou manter o Banco do Brasil estatal?

– O que você prefere: uma segurança pública melhor ou pagar aposentadorias especiais para os funcionários públicos?

Claro, sempre haverá alguém a dizer que esses são “falsos trade offs”, porque dá para fazer tudo, basta deixar de roubar. Mas o estadista sabe que não basta deixar de roubar. Ele sabe que o orçamento é limitado, e se eu invisto para achar petróleo, faltará dinheiro para investir em escolas públicas.

A prova de que o brasileiro não entende os trade offs está em outro resultado da mesma pesquisa: o brasileiro quer, majoritariamente, a redução dos gastos públicos, o que é incompatível com manter a Petrobras estatal e não reformar a Previdência. Ao ser apresentado ao trade off em uma única pergunta, o brasileiro seria apresentado à realidade das coisas.

Claro, sempre há a alternativa avestruz: enfiar a cabeça na terra e fazer de conta que os trade offs não existem. A pessoa comum pode fazer isso. O governante, não. Mas, para isso, precisa ser um estadista, produto em falta no mercado hoje.