O 13o salário pode parecer uma bobagem. Afinal, o que importa é quanto você recebe no total durante o ano. Se está dividido em 12, 13 ou 30 vezes, tanto faz. A empresa não está te pagando a mais. Ela está pagando o mesmo que pagaria, só que dividindo em mais vezes.
Mas o 13o tem um papel na educação financeira. É o que o prêmio Nobel Richard Thaler chamaria de “arquitetura da escolha”. Ao receber 13 salários no ano, a pessoa se acostuma a viver com 1/13 avos da sua renda anual. Quando chega o 13o, a pessoa se sente mais “rica”, e pode gastar aquele dinheiro em coisas “extras” ou simplesmente poupar.
É o inverso do que ocorre com o pagamento do IPVA, ou do material escolar dos filhos. Sendo despesas anuais, pegam “de surpresa” os indivíduos que não se planejaram para essas despesas mais do que previsíveis. Se fossem despesas mensais, as pessoas se acostumariam a viver com menos mensalmente, sofrendo menos para pagar essas despesas.
No caso do 13o salário, a pessoa poderia obter o mesmo efeito se recebesse 12 salários no ano, e conseguisse economizar 1/12 avos do salário. O efeito econômico seria o mesmo. O problema é justamente economizar esse dinheiro. A pessoa vai se acostumando àquele valor, e acaba gastando no dia a dia, sem sentir. O 13o salário acaba servindo como uma “poupança forçada”.
Enfim, o 13o foi criado como mais uma demagogia com chapéu alheio, pois “obrigou” as empresas a pagarem um salário adicional. Claro que isso é bobagem, pois as empresas adaptam suas folhas a essa nova realidade, e pagam salários mensais menores. Nada consegue mudar essa realidade econômica.
Mas a ideia não é de toda má. A consequência não intencional dessa iniciativa de João Goulart foi a criação de uma poupança forçada, que, se bem usada, poderia servir para fomentar uma poupança de longo prazo para os mais previdentes.