A “verdadeira” Venezuela

De Boulle ataca novamente. Seu bode agora é a postura anti-Maduro do novo governo. Em artigo de hoje no Estadão, de Boulle afirma que “o uso constante do colapso venezuelano como arma ideológica é não apenas um equívoco, mas demonstração de profunda ignorância.”

De Boulle se propõe, então, a iluminar o dia com seu profundo conhecimento da Venezuela. Em suas próprias palavras, “são poucos os que realmente sabem alguma coisa da história da Venezuela”. Da forma como se apresenta, de Boulle se considera entre esses poucos.

Então, continuei a ler o artigo, de coração sinceramente aberto, para tentar compreender um pouco mais da história desse país tão pouco conhecido, e como o regime bolivariano tem pouco a ver com a atual situação de descalabro em que se encontra. Sim, porque, na visão de de Boulle, culpar o atual governo não é mais do que usar “espantalhos ideológicos”, sem um “entendimento sério de como o país chegou ao atual descalabro”.

Colei o artigo aqui para que vocês julguem com seu próprio discernimento se estou exagerando. O que se tem é um amontoado de fatos que parecem ter sido tirados da Wikipedia. Nada que possa sugerir alguma causa remota para a situação desesperadora atual.

No entanto, e foi isso o que me deixou perplexo com o artigo, a autora termina o seu amontoado de informações desconexas com um “portanto”: “Portanto, para entender e opinar sobre a Venezuela, é preciso compreender o arco histórico”. Como se esse amontoado de informações de seu artigo fosse suficiente para provar alguma coisa. Qualquer coisa.

Mônica de Boulle não esconde de ninguém sua ojeriza pelo novo governo. Está no seu direito. O que não dá é falsear a realidade para conformá-la aos seus desejos. Esse artigo foi uma tentativa tosca de dissociar o “socialismo do século XXI” do descalabro que se tornou o nosso país vizinho, ao procurar encontrar raízes remotas no tal “arco histórico”. Sem dúvida, qualquer país é fruto de sua história e isso não é diferente para a Venezuela. Mas também não resta dúvida de que as decisões econômicas de Chávez/Maduro pioraram muito a situação do país. Isso é claro como a luz do dia para qualquer economista que não veja o governo Bolsonaro como um “espantalho ideológico”.

O salário e a caneta

Nenhuma descrição de foto disponível.

A primeira medida econômica do novo governo do México foi elevar o salário mínimo em mais de 16%. Com isso, espera “elevar o padrão de vida da população”.

Ah, se fosse assim tão simples… Se uma canetada aumentasse o padrão de vida de alguém, não haveria mais pobres no mundo.

O novo governo do México deveria dar uma olhada no que aconteceu em um grande país-irmão no hemisfério Sul. Nesse país, o salário mínimo foi elevado acima da inflação durante quase 20 anos. O final desse processo? Os maiores desemprego e recessão da história.

Não que o aumento do salário mínimo tivesse causado o desemprego e a recessão. Mas foi medida no mínimo inócua, dada a produtividade estagnada da economia. Sem aumento de produtividade, o aumento do salário mínimo é medida apenas nominal, sendo comida pela inflação crescente, além do aumento do desemprego e da informalidade. E se houver aumento da produtividade, não é necessário aumentar o salário na canetada, os salários aumentam naturalmente.

O Banco Central do México está brigando para baixar uma inflação persistentemente acima da meta. Esse aumento do salário mínimo torna a tarefa do BC ainda mais difícil, o que deve levar a taxas de juros mais altas no futuro, desacelerando a atividade econômica. O justo inverso do pretendido. É isso, ou é uma inflação mais alta.

Não se alcança a riqueza com canetadas. É preciso trabalho duro e perseverante durante gerações, fazendo as coisas certas e evitando as coisas erradas. Dentre as coisas certas estão uma justiça rápida e eficiente, o investimento pesado e inteligente em educação básica, a atividade empresarial nas mãos da iniciativa privada, manter equilibradas as contas públicas.

É difícil? Sim, é difícil, muito difícil. Infelizmente, não há atalhos. Os populistas prometem a felicidade ao alcance de uma canetada. Invariavelmente entregam mais pobreza e sofrimento. Sempre.

Um outro mundo possível

Isso aí é o início da entrevista do Zé Dirceu hoje, no Estadão. Sim, roubar para o partido está ok, o que não pode é enriquecer com isso. Tudo muito ético.

Em abril desse ano, foram leiloados 4 imóveis de José Dirceu no valor de R$11 milhões. Patrimônio de um sujeito que só tem o Partido dos Trabalhadores e cargos no governo em seu currículo.

Vai ver que neste “outro mundo possível” o impossível torna-se possível.

Caridade com o chapéu alheio é de graça

O Sistema S recebe R$17 bilhões/ano para o seu custeio. Essa dinheirama sai do balanço das empresas, através de um imposto específico.

Minha sugestão, na verdade, seria outra: eliminar esse imposto e deixar o financiamento do Sistema S por conta de uma contribuição facultativa das empresas. Caberia aos gestores do Sistema convencer as empresas da utilidade daquilo que se faz no SESI, SENAI, SESC etc.

– Ah, mas aí corre-se o risco das contribuições despencarem.

Bem, se for esse o caso, por que então obrigar as empresas a contribuir com algo no qual não veem valor? Ou pior, que veem apenas como uma plataforma de lançamento de carreiras políticas, como a de Paulo Skaf?

Ao ser financiado por um imposto, o Sistema S entra no custo dos produtos que toda a população compra, mas beneficia somente uma parcela minúscula dessa mesma população.

Acho que Paulo Guedes foi até modesto. Podia cortar 100% do imposto, e deixar nas mãos das próprias empresas o destino do Sistema S. Como dizia o outro, caridade com o chapéu alheio é de graça.

O conto da soberania nacional

E o Estadão, quem diria, caiu no conto da “soberania nacional”.

Li ontem a entrevista do dono da Azul (citada no editorial) criticando a MP de Temer que libera o capital estrangeiro no controle das aéreas. Fiquei com vontade de escrever, mas outros assuntos tomaram meu tempo. Com esse editorial, no entanto, percebi que a patacoada da “soberania nacional”, que pensava estar circunscrita à esquerda dinossáurica, tomou conta do bastião do liberalismo brasileiro. A coisa ficou séria.

Em primeiro lugar, um argumento “ad hominem”: o único que criticou a medida foi o dono da Azul. Americano naturalizado brasileiro, é um fundador “em série” de companhias aéreas nos EUA. Por ser brasileiro, pode deter até 100% do capital da Azul. Mas a origem do seu próprio capital certamente não é 100% “nacional”. O que, por si só, já mostra a idiotice de se tentar carimbar a origem do capital.

Essa idiotice fica clara, por exemplo, quando analisamos o caso da TAM. Ou melhor, Latam. É público e notório que a TAM é controlada pela Latam, aérea de origem chilena. Mas por um arranjo societário, o capital da TAM ainda é controlado pela família Rolim Amaro. Tudo pra inglês ver.

Por que o dono da Azul estrilou? Simples: seus competidores diretos, principalmente Avianca, mas também a Gol, poderão ter injeções importantes de capital, reforçando suas operações no Brasil e tornando mais dura a concorrência. Simples assim.

Vamos agora aos argumentos diretos. O Estadão, ecoando as objeções do dono da Azul, coloca dois argumentos contra a abertura para o capital estrangeiro: 1) a “assimetria” de condições das empresas brasileiras em relação às estrangeiras e 2) a perda da tal “soberania nacional”.

Com relação à assimetria, é justo o oposto. Ao permitir a capitalização das empresas locais, se elimina uma fonte de assimetria em relação às companhias estrangeiras. Agora, pelo menos, Gol e Avianca poderão contar com mais capital para fazer frente à competição propiciada pelo acordo de “céus abertos” com os EUA.

O dono da Azul, reverberado pelo Estadão, mistura laranjas com bananas: diz que já existe uma assimetria forte porque, por exemplo, os pilotos daqui não podem voar tanto quanto os pilotos dos EUA. Pergunto: o que tem a ver o cã com as calças? Seria como um perneta ser convidado a correr contra atletas com as duas pernas e, ainda por cima, ser proibido de usar uma prótese. As aéreas brasileiras são pernetas, e o capital estrangeiro é a prótese.

Mas a “soberania nacional” é a cereja que toma conta do bolo todo. Sério, soberania nacional? O dono da Azul apenas fala da tal “soberania”, como se fosse um conceito autoexplicativo, como por exemplo “neoliberalismo” e “fascismo”. Está no rol dessas palavras de ordem da esquerda pré-histórica, e que dispensa maiores explicações. Mas o Estadão não nos deixa na mão: o editorial nos dá um exemplo do perigo que é deixar tudo nas mãos dos alliens. Imagine você que, um dia , uma empresa dessas simplesmente decida ir embora. Como ficaremos nós, os brazucas, sem avião pra voar? Muito perigoso isso.

O Estadão deve pensar que empresa aérea é como médico cubano. Não gostou do nariz do presidente, arruma suas malas e vai embora. Assim, do dia para a noite.

Alguém precisa explicar para o editorialista do Estadão como funciona o mercado. Sem dúvida, uma empresa estrangeira pode fazer suas malas e ir embora quando quiser, se não encontrar retorno para o seu capital aqui. Isso pode acontecer, e acontece, em qualquer ramo. Como funciona? A empresa é vendida para outra, que a absorve. Os clientes continuam atendidos.

– Ah, mas o atendimento piora né?

Sim, provavelmente. Isso porque aquele nível de atendimento anterior não se pagava, não remunerava o capital adequadamente. Não existe milagre no mercado, existe “you get what you pay for”.

Talvez o Estadão prefira que uma empresa aérea vá embora porque faliu, como é o caso da Avianca, aí sim deixando na mão os seus clientes. Tudo em nome da “soberania nacional”.

Como a defesa da “soberania nacional” não faz o mínimo sentido econômico, só posso pensar que o Estadão esteja com receio de que, em caso de guerra com as “potências estrangeiras”, os governos imperialistas ordenem às companhias aéreas de seus países o imediato fim das operações em terras tupiniquins. Ok, vamos sacrificar o serviço ao consumidor em nome de uma paranoia? O governo Temer disse que não. E, mais uma vez, acertou.

Cangurus esquerdistas

O governo ultra-direitista, fascista e xenófobo da Austrália reconheceu Jerusalém como a capital de Israel.

Os cangurus esquerdistas australianos devem estar dando pulos de 10 metros de altura.

Há vida inteligente em Brasília

O presidente do TST cassou liminar que impedia o leilão da Amazonas Energia e da CEAL. Esta liminar havia sido concedida por um desembargador do TRT da 1a região, sob a alegação de que a privatização colocava em risco os empregos nas concessionárias licitadas. O presidente do TST considerou este argumento “frágil”, pois a privatização foi determinada em processo legislativo legítimo e os direitos trabalhistas devem ser buscados através dos canais competentes, e não no processo de privatização.

Sim, nem tudo está perdido. Há vida inteligente em Brasília.