Rasgando dinheiro

O governo do RS gosta de rasgar dinheiro. Vai vender uma parcela de suas ações do Banrisul, mas “sem perder o controle do banco”.

O banco gaúcho vale hoje, na bolsa, R$9,4 bilhões. A estrutura de capital é, grosso modo, metade de ações com direito a voto e metade sem direito a voto. O governo do Estado possui praticamente 100% das ações com direito a voto e zero sem direito. Portanto, o acionista controlador tem em mãos, hoje, 25% daquele valor de mercado. Algo como R$ 2,4 bilhões. Para não perder o controle, a venda teria que ser da metade, ou R$1,2 bilhões. Este seria aproximadamente o valor arrecadado com esse modelo.

Pois bem, e se o RS abrisse mão do controle? Qual seria a arrecadação? Neste caso, o Banrisul poderia ser negociado em múltiplos semelhantes aos bancos privados. Vamos analisar um deles, o preço da ação em relação ao valor contábil da empresa. Os principais bancos do país têm as seguintes métricas:

Itaú: 2,4 vezes (o valor de mercado do Itaú é 2,4 vezes maior que o seu valor contábil)
Santander: 2,3 vezes
Bradesco: 2,0 vezes
Banco do Brasil: 1,2 vezes
Banrisul: 1,2 vezes

Ao abrir mão do controle, o governo do RS poderia ver o múltiplo do Banrisul avançar para, digamos, 1,8 vezes, o que é 50% a mais do que potencialmente seria arrecadado. Ou, R$ 600 milhões. É esse montante que estaria sendo jogado no lixo, ao não abrir mão do controle.

Mas o que são R$ 600 milhões para um Estado que está com as finanças em ordem? Além disso, o valoroso povo gaúcho não pode abrir mão do SEU banco. É tão importante para o desenvolvimento do Estado! São Paulo abriu mão de seus dois bancos estatuais há mais de 20 anos e olha no que deu! Hoje é um Estado depauperado, com as finanças em frangalhos, perdeu seu protagonismo no País, está empobrecendo a olhos vistos… só que não.

O Banrisul é um dos últimos dos bancos estaduais no País. É uma espécie de fóssil, representando uma época, a da hiperinflação, que não queremos ver de volta. Mais do que o dinheiro obtido na venda do banco, sua privatização representaria a entrada (finalmente!) do RS no século XXI. Mas parece que não será dessa vez.

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