Restrições

Lula está desgastado com a PF. Tudo porque o novo diretor limitou as visitas dos advogados a duas por dia, com 3 advogados em cada. Pelo visto não é suficiente, e a reclamação rolou solta, razão pela qual a PF teria pedido a transferência do presidiário.

Três advogados duas vezes por dia! E isso não é suficiente!

Li em algum lugar que 40% dos presos brasileiros não foram sequer julgados, mal tendo acesso a um mísero advogado. Agora entendo porque: estão todos ocupados em defender Lula.

O BNDES e os investimentos

Duas manchetes, uma ao lado da outra, hoje, no Valor Econômico. Confesso que nunca vi algo assim tão, digamos, contundente, para refutar aqueles que pedem “mais ação do Estado” para recuperar a economia.

Na reportagem da direita, Montezano, presidente do BNDES, afirma que, dos R$ 70 bilhões disponibilizados pelo banco este ano para empréstimos, somente R$ 25 bilhões foram tomados pelo setor privado. Surpreendentemente, o interesse pelas linhas do BNDES desapareceu no momento em que as taxas praticadas pelo banco de desenvolvimento se ajustaram ao mercado…

Isso não impediu que o investimento crescesse no 2o trimestre, tanto em bens de capital para fins industriais, como para construção e também para materiais de transporte, como atesta a matéria da esquerda. Surpreendentemente também, o investimento privado mostrou que pode crescer mesmo sem as taxas subsidiadas do banco de desenvolvimento…

Não consigo pensar em mensagem melhor aos viciados na ação do Estado na economia.

Uma regra para todos

Há alguns dias, espinafrei aqui um artigo do ex-secretário da Receita, Everardo Maciel, que criticava a proposta de reforma tributária hoje em tramitação na Câmara, mal disfarçando seu lobby a favor do setor de serviços.

Hoje, Bernard Appy, o pai da matéria, espinafra o mesmo artigo com muito mais propriedade. Vale a leitura.

Reconhecimento

Dois trechos que me chamaram a atenção na entrevista de Bolsonaro hoje, no Estadão. Nos dois, o presidente reconhece os avanços feitos no governo anterior.

Lula, quando assumiu o governo em 2003, fez questão de fazer tábula rasa do governo FHC. “Herança maldita” foi o termo usado. Nada, nada, nada prestava. Tudo tinha que ser reconstruído. Esse foi o discurso quando, na verdade, Lula construiu (para depois destruir) sobre os alicerces deixados por FHC.

A fala de Bolsonaro, reconhecendo boas coisas feitas pelo governo Temer, é uma lufada de ar fresco na política brasileira. Seja por cálculo político ou simplesmente por espontaneidade, Bolsonaro muda a prática política que, se não inaugurada pelo PT, foi levada ao cume da perfeição pelo partido de Lula.

Anabolizante

Luis Eduardo Assis, ex-diretor do BC e egresso do mercado financeiro, vem defendendo, não é de hoje, o investimento público como o motor para destravar a economia. Em artigo de hoje, chama de “fundamentalismo liberal” o esforço de diminuição do papel do BNDES na economia. Segundo o economista ortodoxo com ideias heterodoxas, o governo Bolsonaro seria tão fundamentalista como o da Dilma, só que com sinais trocados.

Fui dar uma olhada no gráfico do investimento em relação ao PIB (abaixo).

Entre altos e baixos, o investimento vinha caindo desde a década de 70, quando chegou a atingir 10% do PIB. Naquela época, o papel do BNDES era marginal, o dinheiro saia do Tesouro diretamente. Pelo menos era um processo mais transparente de gastos públicos. De qualquer forma, deu no que deu: crise da dívida e década perdida.

Quando ocorreu a crise financeira de 2008, o governo Lula teve uma grande ideia: endividar-se para turbinar o BNDES, que saiu de praticamente zero para quase 10% da dívida em relação ao PIB. De fato, o investimento público saiu de algo como 2,5% do PIB para 4,5%, estabilizando-se em 4% do PIB até 2014. Qual foi o efeito desse aumento no crescimento do PIB, meu caro Assis?

Tal qual um anabolizante aplicado em um doente terminal, o efeito imediato foi uma hiperatividade: crescimento de 7,5% do PIB em 2010, o suficiente para eleger a sucessora de Lula. Depois disso, no entanto, os fatores estruturais predominaram e, apesar de manter os investimentos em 4% do PIB, o crescimento veio declinando, declinando, até chegar nos pífios 0,5% de 2014. A partir de 2015 o castelo de cartas desmoronou, demonstrando cabalmente que manter artificialmente investimentos públicos em uma economia pouco produtiva só cria dívidas impagáveis. Causa-me espécie que haja ainda economistas que defendam esse tipo de coisa.

Dentes de ouro

Minha mãe acabou de fazer um orçamento para o implante de 10 dentes: R$ 30 mil. Ela vai fazer mais dois orçamentos, porque achou o preço “um absurdo”.

R$ 157 mil por uma cirurgia para eliminar bruxismo e fazer outros retoques na lataria, só se o cara for o Picasso da odontologia. Um Picasso perdido nos subúrbios do Distrito Federal, onde ocorreu a cirurgia.

Bruxismo é um problema que afeta milhões de brasileiros. A imensa maioria se vira com uma placa durante o sono.

O plano de saúde da empresa onde trabalho é top. Reembolsa grande parte das minhas despesas dentárias. Obviamente, quando se trata de despesas mais altas, o reembolso é apenas parcial. Nunca, nem nos meus maiores delírios, o reembolso seria total para uma despesa de R$ 157 mil.

Enfim, fico feliz que meus impostos tenham sido usados para pagar o novo sorriso do deputado. Não deixa de ser uma homenagem aos desdentados do Brasil-sil-sil.

O xadrez da eleição paulistana

Bruno Covas já teria definido sua tática para as eleições de 2020: atacar pela centro-esquerda. Para tanto, contaria com centro-avante contratado do PT, o atual secretário da cultura, Ale Youssef.

Não sei se é verdade (essas notinhas costumam expressar mais a vontade de quem as plantou do que a realidade propriamente dita), mas a narrativa orna com a desastrosa administração Covas até o momento.

E Doria?

Bem, esse joga em todas as pontas. É natural que tenha um discurso partidário a mais de um ano das eleições. Afinal, ele conta com a máquina do partido para o seu projeto nacional. Mas certamente dará também seu apoio a Joice Hasselmann, se esta conseguir a indicação pelo PSL de São Paulo. Será um pouco como nas eleições de 2002, quando FHC tinha Lula como seu candidato in pectore e trabalhou muito pouco pela candidatura de Serra.

Doria, assim, manteria a máquina do partido, mas apostaria no cavalo certamente vencedor. Funcionará? A se ver.

Velha política a todo vapor

A história é a seguinte (leia aqui): Bolsonaro indicou dois conselheiros técnicos para o CADE, um indicado por Sérgio Moro e o outro por Paulo Guedes. No entanto, o presidente do Senado, o pequeno Davi, não gostou de não ter sido “consultado” antes das indicações. Como é o Senado que tem a prerrogativa de aprovar os nomes, criou-se um impasse.

Mas aí, acontece o plot twist: Bolsonaro, interessado na aprovação do 03 como embaixador em Washington (o que também depende de aprovação do Senado), retirou os nomes indicados para o CADE. Resultado: tudo parado, aguardando a “negociação” entre Bolsonaro e o pequeno Davi.

Nunca pensei que escreveria as palavras “negociação” e “Bolsonaro” na mesma frase. “Negociação” sempre foi sinômino de corrupção no léxico do capitão. Entretanto, bastou que estivesse envolvido algo realmente importante para o presidente, algo de muito significado, para que velhas convicções fossem jogadas ao mar.

Se era para negociar, que se fizesse desde o início. Não estaríamos com o CADE parado há um mês, com efeitos deletérios sobre a atividade econômica (recomendo a leitura do artigo no link). Mas não: Bolsonaro, como sempre, deu uma de durão, indicou sem negociar com ninguém, e agora resolveu recuar porque seus interesses pessoais foram contrariados.

Quem me acompanha aqui sabe que sempre considerei a negociação como parte da Política. Negociação não precisa necessariamente estar identificada com corrupção. Minha ficha caiu com relação a este governo no início da tramitação da reforma da Previdência, quando finalmente entendi que Bolsonaro não fora eleito para negociar com o Congresso. Seu exercício da Política seria feito através da imposição de uma agenda suportada pelo “povo nas ruas”, e pela indicação de quadros técnicos sem o aval de congressistas. Esperar que Bolsonaro adotasse a “velha política” da negociação era pura perda de tempo.

Descobrimos agora que a “nova política” serve somente para assuntos secundários, como a reforma da Previdência. Quando se trata de algo realmente importante, como a indicação de seu filho para a embaixada dos EUA, a “velha política” serve muito bem.