Carga de trabalho desumana

O PGR defende férias remuneradas de dois meses para os procuradores, pois sua “carga de trabalho é desumana”. Férias essas pagas por nós, obviamente, que temos uma carga de trabalho “humana”.

Essa manifestação de Augusto Aras demonstra que aquela fala do procurador mineiro (a do salário que era uma “miséria”) não era a viagem na maionese de um sujeito desconectado da realidade. Trata-se de uma postura institucional: os procuradores de fato se acham diferentes e, portanto, merecedores de privilégios.

Óbvio que devem existir procuradores que não concordam com esse escárnio. Está mais do que na hora de se manifestarem.

A disputa para ver quem vai cortar mais gastos

– A minha PEC corta mais gastos!

– Não senhor, é a minha PEC que corta mais gastos!

– É a minha!

– A minha!

Governo e Congresso brigando pra ver quem patrocina o maior corte de gastos.

O Estado brasileiro está possuído pelo espírito de Milton Friedman!

Sai desse corpo que não te pertence!

Todos os partidos de esquerda são iguais

Entrevista com Daniel Martínez, candidato da Frente Ampla ao governo do Uruguai.

Perguntado que tipo de governo de esquerda faria, Martínez começa dizendo que todos os partidos latino-americanos de esquerda são diferentes entre si. Para, logo em seguida, fazer um elogio não solicitado a Lula, que entrou na resposta sem ser convidado.

Na verdade, é justo o contrário do que afirma Martínez: todos os partidos latino-americanos de esquerda são iguais, existem para babar o ovo de Lula, na falta de Fidel e Chavez. Essa é a essência. As diferenças são acidentes históricos irrelevantes.

O Ibope de Lula em Cuba

2 milhões de assinaturas em Cuba!

Isso dá mais ou menos 17% da população. Seria como se tivéssemos um abaixo-assinado de 36 milhões de assinaturas aqui no Brasil. Um portento!

Mas, pensando bem, foi pouco. 83% da população não assinou, apesar dos métodos, digamos, dissuasórios, do governo cubano.

O Ibope de Lula já foi melhor.

Tecnologia em controle de preços

Hahahahaha

Podemos exportar tecnologia para os chilenos. Tivemos 5 planos de controles de preços, somos experts mundiais no assunto.

Os chilenos não estão contentes em viver em um país onde as coisas funcionam, querem sentir na pele o que são prateleiras vazias. Cada um com seu gosto.

Startups jabuticaba

Startups brasileiras estão ajudando passageiros a processarem companhias aéreas.

As startups de tecnologia normalmente surgem lá fora para atender problemas universais, que afetam pessoas de todos os países. Se uma startup para resolver um determinado problema nasceu no Brasil e, o que é o pior, só tem no Brasil, então pode ter certeza de que aquele problema só existe no Brasil.

E não estou me referindo a atrasos em voos e malas extraviadas. Isso acontece no mundo inteiro. O que provavelmente é único do Brasil seja uma mistura de um setor que trata o consumidor com desprezo com um sistema judiciário de difícil acesso e que trata o empresário como bandido. Esta mistura é explosiva, e criou um mercado explorado por essas startups.

Os EUA é um exemplo notório de país onde tudo se judicializa, é a terra dos advogados. Se há muito menos judicialização lá no setor aéreo, deve ser porque as companhias aéreas tratam melhor seus clientes em caso de problemas, ou porque o judiciário não dá ganho de causa para qualquer demanda ou, o que é mais provável, uma combinação de ambas.

Essas startups estão aproveitando uma oportunidade de mercado que só existe no Brasil. Não adianta culpá-las pelo excesso de judicialização no setor (um “câncer”, segundo o presidente da Latam). É preciso que as empresas aéreas e o judiciário fechem essa “oportunidade de mercado”.

O populismo é insaciável

Quando houve as manifestações de 2013, o governo Dilma respondeu do jeito PT: uma lista de 5 grandes programas, dos quais 4 ficaram na promessa. O único que saiu do papel foi o Mais Médicos. Ou seja, Dilma aproveitou os protestos para tocar a sua própria agenda. A outra única concessão foi o município de São Paulo voltar atrás no aumento dos ônibus (o que havia sido o estopim dos protestos). O resultado é que hoje José Serra está tentando passar no Senado uma lei que permite aos municípios adiar o pagamento de precatórios, de modo a dar um fôlego para o caixa da cidade. Sim, aquele subsídio está sendo pago até hoje.

Piñera, no Chile, está indo muito além de cancelar o aumento dos transportes. Mexeu em pedágios, aumentou o salário mínimo e, agora, voltou atrás em uma isenção tributária para empresas, entre outras benesses. Mas os protestos não param. E não param por dois motivos.

Primeiro, porque são protestos políticos. Note que, nas reportagens do que está acontecendo no Chile, você sempre vai tropeçar com o nome de Pinochet. Piñera, nesse contexto, seria como que herdeiro das políticas da ditadura. Anteontem publiquei um post calculando a aposentadoria de uma chilena chamada Eugenia. Não descrevi naquele post o contexto, mas conto aqui: Eugenia é funcionária pública e estava chupando limões para compensar os efeitos do gás lacrimogêneo. Diz ela que estão na terra de Pinochet, então estão acostumados a chupar limões. I rest my case.

A segunda razão pela qual os protestos não param tem a ver com a insaciabilidade do ser humano. Por que um salário mínimo de X, e não de X+1? E por que de X+1 e não de X+2? Ao ceder rapidamente, Piñera mostrou fragilidade. É óbvio que vão querer mais, sempre mais. Como disse o cientista político da reportagem, se era assim tão fácil, por que demorou a fazê-lo? De onde se segue que, com um pouco mais de pressão, o governo cede mais.

Assim como as manifestações de 2013, estas também terminarão. E teriam terminado por esgotamento, com Piñera fazendo ou não concessões. As concessões feitas custarão caro ao povo chileno e não evitarão que Piñera perca o poder nas próximas eleições. Porque, se é para ter políticas populistas, melhor votar no original do que na imitação, não é mesmo?

As cores da social-democracia

Entrevista de João Doria hoje.

O PSDB não é mais social-democrata.

Mas vai manter “social-democrata” no nome porque PSDB é uma sigla bacana.

Para mostrar que não é mais social-democrata, ao invés de trocar o nome, trocou as cores. Fica claro para todos que verde-amarelo não é social-democrata.

Desse jeito, PT e Bolsonaro vão se alternar no poder ainda durante muitos anos.