Testagem para inglês ver?

O Ministro da Saúde anunciou ontem que vai ampliar o número de testes para a Covid-19 de 24 para 46 milhões. Excelente notícia! Afinal, sem testes em massa, será impossível sair com segurança da quarentena, como reconhece o ministro.

Mas, vamos ver a coisa um pouco mais de perto.

Até o momento, quase dois meses depois do início da epidemia no país, o Brasil processou 1.373 testes/milhão de habitantes, o que resulta em aproximadamente 290 mil testes no total (esse número é do worldometer, por incrível que pareça não encontrei um dado oficial a respeito). Se conseguirmos processar 46 milhões de testes, isso vai nos levar a incríveis 220 mil testes/milhão de habitantes!

Só para vocês terem uma ideia, a Islândia, campeã mundial de testagem, atingiu a marca de 128 mil testes/milhão de habitantes. Os EUA, com todos os recursos de que dispõem, processaram, até o momento, 12,5 mil testes/milhão de habitantes, 10 vezes menos que a Islândia. Então, 220 mil testes/milhão é um número respeitável, para não dizer muito bom para ser verdade.

Comprar os testes é a parte fácil. Difícil, como temos visto pelas filas de testes acumulados nos laboratórios, é processar os testes. No vídeo, o ministro diz que já fez um convênio com o Laboratório Dasa para processamento de 30 mil testes/dia. Para processar 46 milhões de testes nesse ritmo, serão necessários 4 anos e 2 meses, trabalhando sábados, domingos e feriados.

Obviamente, a capacidade de processamento não é suficiente para essa quantidade de testes. A Dasa é, de longe, o maior laboratório do Brasil, e vai conseguir processar 30 mil testes/dia. Para processar todos esses testes em, digamos, um ano, precisaríamos de outras 3 Dasas. Existem?

Desde o início da epidemia, o que não faltam são anúncios grandiloquentes de testagem. A coisa é sempre da ordem de milhões. A realidade, no entanto, é que não conseguimos, até agora, testar mais do que 300 mil pessoas. Não seria o caso de manter os 24 milhões de testes já adquiridos (a maior parte vinda de doações), o que já nos colocaria no patamar da Islândia, e gastar esse dinheiro em coisas mais úteis?

Como eu disse no início, anunciar compra de testes é a parte fácil, e passa a impressão de que o governo está trabalhando. Vamos ver como evolui o número de testes realmente aplicados e processados.

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