O milagre de Chapecó

O presidente foi a Chapecó, em Santa Catarina, cumprir agenda política. Lá, segundo reportagem do Valor, o prefeito João Rodrigues disse seguir o receituário do presidente para o enfrentamento da pandemia, obtendo resultados, segundo ele, muito bons.

Como eu não consigo ver uma afirmação sem checar, fui atrás. Chapecó acumula, desde o início da pandemia até ontem, um total de 541 óbitos, o que resulta em 2.455 óbitos por milhão de habitantes. A tabela abaixo mostra a lista das cidades catarinenses com mais de 50 mil habitantes. Chapecó é a quarta pior cidade nesse ranking macabro, com um número de óbitos 50% acima da média do Estado.

Mas alguém poderá dizer que o prefeito está comemorando a diminuição do número de óbitos na cidade. “O número de óbitos despencou”, diz ele. Pode ser que tenha aderido ao protocolo presidencial tardiamente, somente este ano. Pois bem: Chapecó teve 418 óbitos somente em 2021, ou 1.897 por milhão. O estado de SC teve 6.360 óbitos, ou 888 por milhão. Portanto, Chapecó teve mais que o dobro de óbitos do que a média do Estado. A situação este ano piorou, não melhorou.

Eu realmente não consigo entender porque as pessoas fazem afirmações que podem ser tão facilmente desmentidas.

PS.: alguém comentou que a afirmação do prefeito se refere “aos últimos dias”, pois ele tomou posse neste ano. Então, vejamos:- de março até 07/04 vieram a óbito 271 pessoas em Chapecó e 4.255 pessoas em SC, o que resulta em 1.230 óbitos/milhão na cidade e 594 óbitos/milhão no Estado.- em abril (até 07/04) faleceram 22 pessoas em Chapecó e 728 em SC, o que resulta em 100 óbitos/milhão na cidade e 102 óbitos/milhão no Estado. De fato, agora em abril, finalmente Chapecó conseguiu chegar na média do Estado. Meio forçado o argumento, não?

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