Ontem e hoje foram publicadas reportagens sobre a autorização da Funai e do Ibama para a construção do Linhão de Tucuruí, que um dia ligará essa usina a Boa Vista, em Roraima, único estado brasileiro não ligado ao sistema elétrico nacional.
Quem lê a reportagem e não tem nenhuma outra informação, sai com a impressão de que os índios foram “pegos de surpresa” e sequer foram consultados. Bolsonaro, em sua sanha anti-ambientalista, teria forçado os órgãos responsáveis para, finalmente, 10 anos depois do leilão, levantar o linhão.
Nada mais falso. Em abril desse ano, publiquei um post com extensa e detalhada pesquisa a respeito desse assunto. A história é bem longa, mas podemos listar ao menos duas “imprecisões” (eufemismo para falsidades) na narrativa:
1) Os índios foram sim consultados. Todos os detalhes técnicos foram inclusive traduzidos (!) para a língua nativa. A história de que os índios não são contra a obra mas querem somente ser consultados não tem aderência com a realidade.
2) Em 2015, também pressionados pelo então governo Dilma Rousseff, o Ibama e a Funai deram o seu aval para a obra. Portanto, Dilma e Bolsonaro estão de mãos dadas em sua “sanha anti-ambientalista”.
Por fim, para aqueles animados com o início das obras, especialmente a população de Boa Vista, recomendo calma. Não é a primeira vez que o governo federal promete que “agora vai”. O mais provável é que as obras sejam mais uma vez paralisadas por alguma liminar da justiça. É o que tem ocorrido nos últimos 10 anos, e não há motivo para ser diferente agora.