Lula ofereceu o Ministério da Agricultura para Alckmin.
Essa ideia claramente não é boa, porque a piada já vem pronta, de tão óbvia: ninguém entende mais de plantio do que um chuchu.
Tenho uma ideia melhor: Lula deveria criar o Ministério das Privatizações e entregá-lo a Alckmin. Mataria dois coelhos com uma cajadada só.
Em primeiro lugar, iludiria a Faria Lima com a criação de um ministério todinho dedicado às privatizações. E, com a indicação de Alckmin, que, por algum motivo misterioso, é considerado um liberal pelos farialimers, essa ilusão ganharia credibilidade.
Ao mesmo tempo, Alckmin, envergando o jaleco das estatais, dedicaria toda a sua convicção e competência à nobre tarefa de encontrar desculpas convincentes para os eternos atrasos no cronograma das privatizações, assim como fez aqui em São Paulo nas obras do Rodoanel e do metrô. Ficaria a Faria Lima sempre na expectativa, à espera do Godot das privatizações. Não consigo pensar em função mais nobre do futuro ministro em um governo do PT.
A menção ao Ministério da Agricultura me fez lembrar um episódio dos estertores do regime militar. João Figueiredo havia sido escolhido para suceder a Ernesto Geisel como o quinto presidente do ciclo militar, e surpreendeu o mundo político e econômico ao escolher Delfim Netto, o todo poderoso Ministro da Fazenda do governo Médici, para comandar o Ministério da Agricultura
.A escolha deixou perplexo o mundo político e econômico da época, dada a notória falta de conhecimento do mundo agrícola do ex-czar da economia. Foi até objeto de um quadro do humorístico “Planeta dos Homens”, em que Jô Soares interpretava o Dr. Sardinha, uma paródia de Delfim às voltas com os problemas do setor agrícola. Seu mote era “meu negócio são os números!”.
Depois de apenas 5 meses, em meio a uma inflação galopante, Figueiredo substitui Mario Henrique Simonsen (ex-ministro da Fazenda de Geisel) por Delfim Netto no Ministério do Planejamento. Delfim estava de volta ao comando da economia, onde ficaria até o fim do governo Figueiredo.
Enfim, nenhum paralelo com uma eventual indicação de Alckmin para a Agricultura, a não ser o fato de que o ex-governador não é do ramo. Para quem gosta ou acredita em coincidências, este episódio do governo Figueiredo nos lembra que o Ministério da Agricultura já serviu como guarida provisória para um político que aspirava a voos maiores.