Hoje é o Dia Internacional de Conscientização do Autismo, e o Estadão publica uma reportagem sobre inclusão de crianças autistas em escolas regulares.
Tenho um filho autista. Hoje o Álvaro tem 27 anos de idade. Portanto, seus dias escolares já ficaram para trás. Mas tivemos a nossa própria aventura de inclusão.
Depois de diagnosticado com TEA (Transtorno do Espectro Autista) o primeiro que fizemos foi procurar uma escola especializada. Encontramos uma que era dedicada a alunos com os mais diversos transtornos mentais. Não precisamos de mais do que uma semana para entender que aquilo não levaria o Álvaro a lugar algum. Se ele tinha alguma chance, era frequentando uma escola normal, onde os outros alunos o puxariam para cima.
Começamos a procurar, mas na década de 90 esse assunto de inclusão estava engatinhando no Brasil. Encontramos uma escola em que a diretora tinha como filosofia a inclusão. Ela entendia que a inclusão era uma via de duas mãos: ajudava o incluído e também os alunos normais na aceitação do diferente. O Álvaro cursou o ensino fundamental por mais de 10 anos, pois obviamente não conseguia acompanhar o conteúdo. Teve que sair quando o seu tamanho já não era compatível com o dos seus colegas.
Difícil dizer se a inclusão ajudou ou não o Álvaro, pois não temos o contrafactual. Ele continua não tendo condições de ter uma vida autônoma, mas não sei o que seria se continuasse em uma escola especializada, sem o convívio dos colegas normais. De qualquer modo, se o convívio dos seus colegas com ele já serviu para ajudá-los, valeu a pena.
Hoje, a inclusão é obrigatória por lei, nenhuma escola pode negar a matrícula de uma criança com TEA. Isso é bom e é ruim. Explico.
Na reportagem do Estadão, um promotor compara a limitação do número de alunos de inclusão por sala de aula (reivindicação das escolas particulares) com uma eventual limitação de alunos negros.
Trata-se de uma comparação estapafúrdia, a não ser que o promotor considere que alunos negros têm profundas dificuldades de aprendizagem. Espero que não seja isso. A comparação não cabe porque não se trata de preconceito, mas de dificuldade técnica. Como pai de um autista, entendo perfeitamente que a inclusão pode trazer não pequenos transtornos para o andamento normal de uma sala de aula, a depender do comprometimento do aluno. É preciso ter uma estrutura preparada, e a inclusão de vários alunos em uma única sala pode efetivamente inviabilizar o aprendizado de todos. A inclusão, que é um direito de justiça, passa a ser gerador de injustiça para as outras crianças e para a escola. O exagero passa a ser contraproducente para a própria causa do autismo.
No Dia Internacional de Conscientização do Autismo, espero sinceramente que o bom senso e a abertura para o diferente temperem a justiça seca. Não é por imposição de uma lei que se conseguirá que a causa do autismo seja acolhida, mas com diálogo e respeito mútuo. A lei é condição necessária, mas está longe de ser suficiente.