Reportagem chama a atenção para o crescimento do consórcio como forma de financiamento, na medida em que as taxas de juros aumentam. Muitos entram nessa porque é ”mais barato que um financiamento” ou porque “têm dificuldade de poupar se não tiver um boleto pra pagar”.
Com relação ao primeiro ponto, é bom ter em mente que o consórcio também é um tipo de financiamento. Mas, ao contrário do financiamento bancário, em que o banco empresta o dinheiro, no consórcio quem empresta o dinheiro é o consorciado. É incrível, inacreditável mesmo, que, em uma extensa matéria sobre o assunto, não se toque neste ponto, que é fundamental. O consorciado assume o risco de crédito de pessoas para as quais os próprios bancos não quiseram emprestar, tais como “endividados e inadimplentes”. Existe um fundo de reserva para pagar pela inadimplência (e que sai do bolso do consorciado), mas nada garante que será suficiente. Muitos entram em um consórcio de um grande banco achando que, por ter um grande banco por trás, não há esse risco. Pois há sim: se a inadimplência aumentar, é o consorciado que deverá pagar no lugar daqueles que não pagaram.
O consorciado só se livra parcialmente desse risco quando obtém o bem, seja por lance, seja por sorteio. Neste ponto, ele passa de financiador a financiado. Para estes que recebem o bem antes, pelo menos se livram do risco de não receber o bem. Para os que vão receber o bem no final, o consórcio serve como uma “poupança forçada”. A diferença para uma “poupança normal”, é que você paga juros para poupar ao invés de receber os juros, e corre o risco de crédito dos outros consorciados ao invés de correr o risco de crédito do banco onde você faz a poupança. A indisciplina, de fato, custa muito caro.
Não me entendam mal. Acho que cada produto financeiro tem o seu público, e será adequado para as necessidades específicas de cada indivíduo. Meu único ponto é que os produtos financeiros devem ser adequadamente explicados, para que cada um tome a decisão que melhor lhe convier, da maneira mais bem informada possível. E não me parece que os riscos do consórcio estão adequadamente explicados.