Na campanha eleitoral de 2014, no famoso debate entre Armínio Fraga e Guido Mantega, o então ministro da Fazenda jantou o ex-banqueiro central de FHC e ex-futuro ministro da Fazenda do então candidato Aécio Neves. Armínio era tecnicamente muito mais preparado, suas ideias faziam muito mais sentido, mas, mesmo assim, Mantega ganhou o debate de goleada. Como? Criando a sua própria realidade e debatendo sobre ela. Em determinados momentos, Armínio ficava sem nem saber o que responder, tão absurda era a colocação. A narrativa tomava o lugar da realidade.
Mais ou menos assim como Haddad faz nessa entrevista ao site amigo Brasil 247.
A coisa é tão absurda, que é difícil até começar a pensar em um contra-argumento. Segundo o ministro, o mercado estava até agora distraído, observando as borboletas e as flores silvestres, enquanto o governo Bolsonaro destruía a economia do país. Bastou que o PT, em diligente trabalho, mostrasse o tamanho da herança maldita, para que o mercado corresse desesperado para a porta de saída.
Vai ficando claro porque Lula ungiu Haddad como seu potencial sucessor. Aparentemente, é um dos mais refinados inventores de realidades paralelas do partido, uma virtude muito apreciada pelos companheiros.
O único pequeno problema é que o mercado vive no mundo real, não no mundo paralelo criado pelo PT. Espero, sinceramente, para o bem de todos nós, que Haddad não seja levado a acreditar na sua própria narrativa.
PS.: Sim, o governo Bolsonaro gastou além do teto de gastos em várias ocasiões, e as taxas de juros e o câmbio refletiram esses gastos já ANTES das eleições. O que vem acontecendo no mercado APÓS as eleições, no entanto, é de exclusiva lavra do governo que ora se inicia. Cada qual com seus problemas.