Ideias são commodities

Anos atrás, trabalhava em um grande banco americano, que passava por mais uma de suas várias crises. Em determinado momento, os funcionários recebemos uma comunicação do novo CEO, com a visão dele sobre o negócio. De tal modo me chamou a atenção um determinado ponto, que lembro até hoje. O ponto era este: dizia o CEO que a parte mais difícil de tocar um negócio é fazer um check numa tarefa e avançar para a próxima.

Alguém já disse que ideias são commodities. Pode parecer uma frase injusta, dado que ter ideias é muitas vezes considerado o ápice do gênio humano. Mas, se pensarmos bem, qualquer um tem ideias. Na verdade, ter ideias é a coisa mais fácil. Difícil mesmo é tirá-las do papel.

O governo anunciou com pompa e circunstância a ideia do Desenrola. Seria uma plataforma onde credores atuais e futuros credores se encontrariam em um grande leilão, em que os devedores teriam o seu nome limpo na praça com a garantia do Tesouro Nacional. Lindo. O problema é, como sempre, tirar a ideia do papel.

Cheguei a comentar aqui a reunião em que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, apresentou a Lula o projeto. Segundo relatos na imprensa, o secretário responsável pelo projeto chegou a sair da sala no meio da reunião para verificar o tempo de entrega do “sistema”. Um pequeno detalhe, claro.

Em toda reportagem que leio sobre o assunto, menciona-se que o Serpro e a Dataprev estarão envolvidos no desenvolvimento do “sistema”. Na reportagem de hoje no Valor, o repórter procurou as duas agências governamentais. O Serpro afirmou que “não tinha informações sobre o Desnrola”. Já a Dataprev disse que “não está envolvida, até o momento, na elaboração do programa”. Bem, se o pessoal que escreve os programas ainda não foi envolvido, isso significa que o tal sistema não foi sequer especificado.

A capacidade de execução de governos normalmente é abaixo da média. Quando se trata de um governo do PT, a coisa complica ainda mais. E quando é Fernando Haddad o responsável pelo projeto, podemos puxar um banquinho.

Reportagem de hoje no Estadão nos informa que o governo Lula, até o momento, já revogou 231 decretos de governos anteriores, uma média de quase 2,5 revogações por dia útil de governo. Está mais para um governo de desconstrução do que de reconstrução nacional. Construir dá trabalho. Não tem coisa mais difícil do que dar um check em uma tarefa e passar para a próxima. O Desenrola que o diga.

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