Entrevista de página inteira, hoje, no Valor Econômico, do embaixador da Argentina no Brasil e pré-candidato à presidência, Daniel Scioli. Destaco abaixo dois trechos de interesse.
Antes de comentar, devo dizer que, ao ler a entrevista, não pude deixar de lembrar o caso de um grande amigo meu, sempre, sempre, sempre em dificuldades financeiras. Esse meu amigo sempre está envolvido em “grandes negócios”, que vão dar a receita mais do que suficiente para ele sair da enrascada em que se encontra. É um eterno otimista, o pote de ouro está ali na esquina, sem risco. Vive do favor de amigos e da família (que é abastada), e só a muito custo corta despesas incompatíveis com sua renda. Essa é a Argentina de Scioli.
No primeiro trecho, o embaixador afirma que não há “nenhum risco” de as empresas argentinas não conseguirem pagar pelas importações de produtos brasileiros, pois “ano que vem” a safra será maravilhosa e todos os problemas do país, que são apenas conjunturais, terão ficado para trás. É ou não é o meu amigo? Cita o exemplo da China, que tem aceitado yuans no comércio. Como se o problema fosse a moeda em que a importação é paga, e não o risco de não arrumar yuans (ou dólares, ou euros ou reais ou qualquer outra moeda que não seja o peso argentino) para pagar pelas importações.
No segundo, Scioli dá a sua receita para a Argentina sair da crise: “desenvolvimento”. O crescimento econômico dará jeito em tudo, inclusive na crise fiscal, pois o aumento da receita evitará o corte de “direitos sociais”. Novamente, temos o meu amigo dizendo que a solução para os seus problemas é “fechar o próximo grande negócio”, e tudo vai dar certo.
A Argentina é problema dos argentinos. O mundo é grande, e se nossos empresários tiverem dificuldades para vender seus produtos para os nossos vizinhos, certamente encontrarão outros mercados neste vasto mundo. O que realmente me preocupa é que essas ideias de Scioli são exatamente as mesmas que agora nos presidem, a nós, brasileiros. A diferença é que estamos com a casa mais bem arrumada, então ainda demorará para que este tipo de mentalidade nos leve ao poço onde hoje estão los hermanos. Mas o caminho é este, sem dúvida: disciplina fiscal frouxa, política monetária frouxa, desenvolvimento via incentivos do Estado ao invés de reformas microeconômicas. Não vamos virar uma Argentina amanhã. Mas o caminho é este.