Colocar a culpa no Parlamento é o esporte predileto de qualquer presidente em qualquer país. Em seu livro de memórias, FHC é pródigo em críticas à “sede de cargos” por parte dos parlamentares, sentindo-se, muitas vezes, refém de chantagens. Assim foi com Lula, Dilma e Bolsonaro. A única exceção foi Temer, que era “um deles”.
Assim, as críticas de Haddad não são originais, a não ser pelo fato de terem sido feitas à luz do dia. Para quem estava admirado com a “habilidade política” do professor da USP, foi um wake up call para o fato de que Haddad é, antes de tudo, um intelectual, que às vezes se esquece de que não está na academia, mas em meio ao jogo bruto da política. A sua análise, certa ou errada, cairia bem em um debate acadêmico, mas obviamente desceu mal junto de quem ele depende para os seus planos.
Além do mais, Haddad está sendo injusto. A Câmara lhe entregou um pacote de gastos de quase R$ 200 bilhões antes mesmo da posse, a aprovação do arcabouço fiscal e da reforma tributária. Não é pouco. Mas Haddad e o PT querem mais. Querem a submissão, impossível de conseguir sem um Mensalão ou um Petrolão. Resta o lamento acadêmico do ministro linguarudo.
No final, tudo se ajeitará. Mas a fatura será mais cara.