A sua lingerie não mente

A OPEP é um cartel. Isso significa que seus participantes determinam o preço de seu produto de maneira coordenada. No caso da OPEP, esse produto é o petróleo. No início, havia realmente esse poder de determinar preços, em um mundo em que a oferta excedente estava basicamente concentrada no Oriente Médio. Com o tempo e a crescente complexidade do mercado de petróleo, a determinação de preços foi sendo substituída pela limitação de cotas de produção. Assim, ao diminuir a oferta de maneira controlada, os fornecedores esperam aumentar os preços, de modo a maximizar os lucros.

Esse breve preâmbulo vai nos permitir entender o tamanho da sandice que Lula disse para justificar a entrada do Brasil na OPEP+. Tal qual uma freira que veste lingerie provocativa e entra em um bordel dizendo que seu objetivo é convencer as outra prostitutas a largarem a profissão, Lula jura que vai estar na OPEP+ para convencer os outros produtores de petróleo a diminuírem a sua produção. Alguém precisa avisá-lo que a OPEP existe justamente para controlar a produção de seus participantes, não com nobres objetivos climáticos, mas simplesmente para fazer aumentar o preço do produto no mercado. Aliás, o próprio Ministério das Minas e Enetgia de Lula já esclareceu que aquilo que o chefe prometeu (pedir para que os países diminuam a produção de petróleo) o próprio país não irá fazê-lo, ao não participar das cotas de produção. Ou seja, diminui o seu aí enquanto eu aumento o meu aqui.

A Petrobras é, de longe, a maior empresa brasileira em vendas e lucros, o que não deixa de ser sintomático. Seu grandioso plano de investimentos prevê algo sim em energia renovável, mas o grosso é no bom e velho petróleo, seja na exploração (olá, foz amazônica!), seja no refino. O Brasil foi convidado para a OPEP+ não pela pauta ambiental, mas porque é um grande produtor de petróleo. Lula pode posar de freira quanto quiser, a sua lingerie não mente.

“Ciência”

De todas as catástrofes climáticas previstas, a que sempre mais me encafifou é o aumento do nível dos oceanos em função do degelo dos polos. Artigo de hoje do escritor Flávio Tavares nos alerta que a Holanda irá desaparecer, enquanto o Rio de Janeiro será inundado, fazendo do piscinão de Ramos o novo mar.

Reportagem sobre a COP 28 nos informa que um fundo de ajuda dará prioridade para pequenas ilhas que correm o risco de desaparecer.

A coisa começa a ficar confusa quando se lê, em outra matéria, que 2023 será o ano mais quente da história, causando nível recorde de recuo do gelo na Antártida.

Ora, esses fenômenos têm um comportamento contínuo: se uma quantidade recorde de gelo derreteu, já deveríamos estar observando algum aumento, mesmo que mínimo, do nível do mar. No entanto, Copacabana continua exatamente onde está, e não há notícia de alguma ilha remota perdendo um centímetro quadrado sequer de território. Como pode?

O enigma se resolve através da ciência. Água é água, qualquer que seja o seu estado físico. O seu volume é o mesmo, seja em estado líquido, seja em estado sólido. As geleiras impressionam, parecem montanhas feitas de gelo, e causam a sensação de que, uma vez derretidas, o que antes estava na superfície vai aumentar o volume da água, como ocorreria se se tratasse de uma montanha de verdade. Mas essas montanhas de gelo só existem porque a água tem uma característica única na natureza: a sua densidade em estado sólido é menor que sua densidade em estado líquido. Cerca de 10% menor. Por isso o gelo flutua na água, deixando cerca de 10% de seu volume acima da superfície. Uma vez derretida, a água passa a ocupar o mesmo volume anterior, só que com maior densidade. Por isso, o nível da água permanece rigorosamente o mesmo, conforme podemos ver no esquema abaixo.

Isso é ciência do Ensino Fundamental. Fico realmente espantado quando ouço e leio esse tipo de coisa de pessoas que enchem a boca para pronunciar a palavra “ciência”.