Nem vou entrar no mérito das preferências políticas de André Fran, quem quiser saber é só dar uma googlada. O ponto não é este.
A questão é chamar de doente (ou de gado, ou de idiota, ou de esquerdopata, ou de <complete aqui>) quem pensa diferente. Cada ser humano tem sua própria escala de valores, construída desde o útero materno e forjada pelas mais diferentes experiências de vida. Não concordar com a escala de valores de alguém porque não bate com a nossa é uma coisa. Outra coisa é atribuir algum desvio de caráter ou alguma falha na saúde mental de quem pensa diferente.
Essa discussão é muito delicada. Afinal, há realmente desvios de caráter ou doenças mentais que podem levar a comportamentos socialmente indesejáveis. Por exemplo, ninguém, em sã consciência, aprovaria o comportamento dos Nardonis.
Mas há uma linha que separa o crime ou a doença da preferência política. Muitos atribuem ao mau caráter ou a uma doença o apoio a este ou àquele político, quando, na verdade, há uma diferença de escala de valores. E, por que não dizer, preferências subconscientes que fazem as pessoas simpatizar e antipatizar com políticos diferentes. Aliás, desconfio de que seja este o fator determinante, muito mais importante do que um check list de atributos morais.
Partir do pressuposto de que o outro lado é doente ou canalha não é um bom começo para qualquer discussão. Claro, se há o interesse de se ter alguma discussão. A política é o campo onde se procura chegar a consensos em meio à discórdia e é impossível fazer política em clima de torcida organizada. Os políticos profissionais sabem disso, e é por isso que se dão muito melhor entre si do que os seus respectivos apoiadores admitem.
Não se trata aqui de achar que todos os atos dos políticos são defensáveis, a depender da escala de valores de cada um. O único ponto é admitir que o outro pode não ser doente ou canalha por não concordar conosco. Isso já seria um bom começo.