Motivos para o impeachment

Várias pessoas, compreensivelmente cansadas e desiludidas com a atual situação política e econômica, não se animam com o impeachment, porque não veem em Michel Temer algo melhor que Dilma Rousseff. Trocar um pelo outro seria trocar seis por meia dúzia, dizem.

Não é verdade por vários motivos combinados:

1. Temer é político profissional (e dos bons), Dilma é amadora. Mário Covas dizia que se orgulhava de ser um Político, com P maiúsculo. Ele queria dizer que a política se faz com políticos, não com mentes brilhantes ou com gerentes.

2. Temer pertence ao PMDB, um partido que não comunga da ideologia burra do PT e seus satélites, e que nos meteu nesse buraco em que estamos.

3. O PMDB é e sempre foi fisiológico. Mas não temos nada parecido com o Mensalão e o Petrolão, em dimensão e profundidade, antes do PT assumir o poder. O PT deu o novo tom da roubalheira, o PMDB e os outros partidos do condomínio só dançaram conforme a música. Não me entendam mal, o PMDB também tem culpa no cartório, mas foi o PT que liderou o processo.

4. Dilma perdeu a capacidade de governar, é preciso começar de novo. Com qualquer um.

5. O PMDB é um partido com qualidades e defeitos, feito por seres humanos. Não é como o PT, feito de redentores da humanidade, com quem não há diálogo, apenas submissão religiosa.

6. Temer não faz discursos que nos fazem sentir vergonha alheia do presidente.

7. Last, but not least: teremos uma primeira dama de primeira.

Monotonamente previsível

David Kupfer, diretor do Instituto de Economia da UFRJ, em artigo no valor de hoje corrobora meu post de hoje cedo.

Depois de dizer que o modelo de “integração financeira internacional” iniciado em 1994 esgotou-se (?!?) e outras barbaridades do mesmo nível para explicar a atual crise, fecha o artigo com a sentença que é o sonho de consumo de toda doutrina autoritária:

“Essa enorme engenharia política terá de ser conduzida diretamente pela sociedade organizada, já que a atual legislatura perdeu quase toda, senão toda, a capacidade de liderar um processo de tal envergadura”.

Só faltou pedir o fechamento do Congresso. E provavelmente, se perguntado, dirá que é contra o impeachment, pois “enfraquece a democracia”.

Esse pessoal é monotonamente previsível.

A legitimidade do impeachment

Os argumentos dos que se posicionam contra o impeachment podem ser resumidos no seguinte: não há motivação séria e objetiva que embase o pedido e, portanto, a sua aceitação representaria uma ameaça às instituições democráticas.

Não vou aqui discutir se o pedido tem embasamento ou não, ou quais são as motivações dos que são contra ou a favor do impeachment. Eu também tenho uma opinião sobre o pedido de impeachment, mas o que eu acho ou deixo de achar importa tanto quanto as opiniões de CNBB, OAB, FIESP, Dalmo Dallari, Mailson da Nóbrega, Hélio Bicudo, Lula, Barack Obama: nada.

O que importa, pela Constituição Brasileira, é a opinião dos 513 deputados eleitos. São eles que decidem o destino do pedido de impeachment. Golpe, ou “ameaça às instituições democráticas” é não reconhecer que os deputados têm o poder, dado pela Constituição e pelos votos que receberam, de aceitar ou não o pedido de impeachment. Mais do que isso: ameaça à democracia é afirmar que uma eventual decisão pelo impeachment por parte dos deputados enfraquece a democracia. Como se a democracia representativa pudesse ser substituída por uma “democracia dos iluminados”, que tomariam decisões “mais corretas” em nome da “preservação das instituições democráticas”. É assim que se legitimam os totalitarismos.

Portanto, quando você ouvir ou ler alguém dizendo que teme que a democracia saia enfraquecida se o impeachment for aprovado (o que não passa de uma forma elegante de dizer que é um golpe), pergunte a você mesmo: exatamente qual artigo da Constituição estes deputados violarão se votarem pelo impeachment?

Quem precisa ir para a rua

“O impeachment de Collor nasceu na rua e veio para o Congresso Nacional. Agora, o pedido nasce no Congresso e tem que ir para a rua”. De um senador tucano.

Em 2015, foram três manifestações com mais de um milhão de pessoas nas ruas pedindo o impeachment. São 66% os que pedem o impeachment nas pesquisas.

Quem tem que ir pra rua são os políticos tucanos.

Os ventos da política

Dilma sabe (ou deveria saber) que a admissibilidade do processo de impeachment cria uma dinâmica política que se retroalimenta. Há os deputados que são absolutamente contra e aqueles absolutamente a favor. Esses fazem mais barulho.

Mas há um grande deserto de ideias (ou selva de interesses, como queiram) no meio do caminho. São os deputados que votam para o lado que sentem tomará o poder logo adiante. E isto depende do posicionamento do establishment político e econômico. Foi assim com Collor: o seu afastamento foi definido por mais de 440 votos, mas certamente havia muito menos votos no momento da admissibilidade.

Vamos ver um primeiro sinal no tom do JN de hoje.

O que vai ser história

São milhares de notícias todos os dias. É virtualmente impossível distinguir aquelas que são irrelavantes daquelas que mudarão os rumos do país.

No já longínquo 18/03/2014, o Estadão publicava em um canto da primeira página o resultado da 1a fase da operação Lava-Jato.

O destaque fica para um obscuro condenado do Mensalão, Enivaldo Quadrado. Na reportagem interna é citado o doleiro Alberto Youssef, mas não o juíz Sérgio Moro. Todos foram presos na hoje famosa carceragem da PF do Paraná.

A manchete deste dia é “Procuradoria se une à PF e vai investigar a Petrobrás”, referindo-se aos negócios com a holandesa SBM Offshore. Neste dia, Dilma dava posse a 6 ministros, com direito à frase “povo percebe quem está do lado dele”.

Uma nova página da história do Brasil começava a ser escrita neste dia. Mas ninguém percebeu.

Tudo acaba em triplex no Guarujá

Eliane Cantanhêde informa hoje que parlamentares de partidos de esquerda estão articulando a formação de um novo (mais um!) grande partido de esquerda, sucessor do PT, cujo ciclo teria acabado. Seria a hora de “resgatar as teses da esquerda que afundam junto com a era petista”.

Me faz lembrar o que dizem sobre o fim da URSS: que o socialismo verdadeiro não foi realmente implementado na URSS, com suas classes dirigentes tendo desvirtuado os ideais socialistas.

Não conseguem ver que o ideal socialista traz em si o germe totalitário, e com ele, a corrupção absoluta. O Manifesto Comunista, de Marx e Engels, já dizia: “O proletariado usará sua supremacia política para arrancar, gradualmente, todo o capital da burguesia, para centralizar todos os instrumentos de produção nas mãos do estado, isto é, do proletariado organizado como classe dominante; e para aumentar as forças produtivas tão rapidamente quanto possível. Claro que, no início, isto não pode ser obtido exceto por meio de intervenções despóticas nos direitos de propriedade, e nas condições de produção burguesas”.

A utopia está em que, ainda segundo o Manifesto Comunista, “quando, no curso do desenvolvimento, as distinções de classe tiverem desaparecido, e toda produção estiver concentrada nas mãos de uma vasta associação de toda a nação, o poder público perderá o seu caráter político. […] No lugar da velha sociedade burguesa, com suas classes e seus antagonismos de classes, deveremos ter uma associação, na qual o desenvolvimento livre de cada um é a condição para o desenvolvimento livre de todos.”

Fica difícil entender como conjugar “intervenção despótica” com “desenvolvimento livre” no mesmo texto, e é justamente essa contradição insolúvel que torna o socialismo uma utopia: os “homens livres” em uma “sociedade livre” sempre ficam para depois, porque agora precisamos continuar “intervindo despoticamente” nas instituições burguesas.

O poder corrompe, e o poder absoluto corrompe absolutamente. O socialismo fracassou onde quer que tenha se tentado implementar seriamente porque precisa de homens incorruptíveis para a sua implantação. Homens utópicos, não reais. O estado é um ente abstrato, que é operado através de um governo, que é formado por homens. A concentração de poder no estado significa a concentração de poder na mão de poucos. E os revolucionários tornam-se a nova burguesia, a nova classe dominante, como magistralmente retratado na Revolução dos Bichos, de Orwell.

A criação de um novo partido de esquerda, para manter acesa a chama dos ideais socialistas, é só o reinício do ciclo: a busca da utopia, que acaba em um triplex com elevador no Guarujá.

Quem eles pensam que são?

Quem esses caminhoneiros pensam que são? Não são filiados a nenhum sindicato, não estão defendendo a pauta da catchiguria, não estão protestando a favor do governo, tem alguns até que têm o displante de serem frotistas, dando emprego a outros caminhoneiros!

Multa e prisão neles!!!!

Sempre brilhante

“O governo elegeu-se com verba de corrupção, descumpriu a Lei de Responsabilidade Fiscal, manteve uma quadrilha na Petrobras. Enquanto estiver no poder, o relógio do recomeço está desligado. Não adianta tocar para a frente, como se não tivesse acontecido. Nem mantê-lo desligado até 2018. Não se para o tempo.”

O sempre brilhante Fernando Gabeira.

Processo de petização completo

Levy quer fazer uma enquete para descobrir porque o brasileiro não quer a CPMF. As perguntas procurariam saber se a rejeição seria por conta da “transparência” ou “facilidade da arrecadação”. Vai na mesma linha de Lula, que afirma que a elite não gosta dele porque “ajudou os pobres”.

O processo de petização de Levy está completo.