A conta sempre chega

Por ocasião da aprovação do projeto de privatização da Eletrobras, os senhores parlamentares aproveitaram o ensejo para aprovar a construção de termelétricas movidas a gás em seus redutos eleitorais. Detalhe: sem infraestrutura de transporte do gás.

Daqui a alguns anos, os próximos parlamentares terão esquecido o custo adicional dessas termelétricas, e estarão reclamando da “insensibilidade” agência reguladora ao incorporar esse custo na tarifa.

Da mesma forma, os parlamentares atuais já se esqueceram dos custos acrescentados à conta de luz fruto do populismo de seus antecessores.

A conta de luz não é cara no Brasil por causa da “insensibilidade” da agência reguladora ou das distribuidoras, que têm o direito de terem seus contratos respeitados. A conta de luz no Brasil é cara por causa da “sensibilidade” de nossos parlamentares, que penduram benesses na conta de luz sem se preocuparem com quem vai pagar a conta. E a conta sempre chega. Sempre.

A dura realidade das mulheres comuns no mercado de trabalho

A jornalista Natuza Nery coloca-se como exemplo de como a maternidade pode tornar as mulheres mais produtivas (pelo que entendi, porque ficam gratas pelo acolhimento da empresa em que trabalham e procuram compensar trabalhando ainda mais).

Natuza Nery é uma das principais jornalistas da principal empresa de comunicação do Brasil. Seu passe deve ser bem caro e seu salário deve lhe permitir contratar mais de uma babá. Poucas mulheres no Brasil realmente podem se comparar profissionalmente com Natuza Nery. Esse fato simples e facilmente verificável não a impede, no entanto, de se colocar como exemplo para todas as mulheres do Brasil, e de comparar a Globo com todas as empresas do Brasil.

Essa declaração de Natuza foi feita a respeito de uma frase do novo ministro das Minas e Energia, Adolfo Sachsida, que ousou afirmar que as mulheres ganham menos provavelmente porque engravidam, o que, obviamente, foi classificada como uma fala machista.

Tive oportunidade de escrever um post a respeito desse assunto, em que recupero alguns artigos acadêmicos que levantam a possibilidade de que mulheres ganhem menos do que homens com mesma idade porque a maternidade lhes exige dupla jornada, o que, na média, poderia atrasar ou até mesmo interromper suas carreiras. Podemos gastar rios de tinta e horas de TV falando sobre a injustiça dessa situação, mas essa é a situação, e há muito pouco o que a maioria das empresas pequenas e médias possa fazer a respeito.

Lacrar sendo uma jornalista superstar da Rede Globo, ainda mais quando quer passar a mensagem de que esse presidente não passa de um misógino, é fácil. Difícil mesmo é tratar um assunto desses com objetividade.