A panaceia dos estoques reguladores

Assim como o nobre deputado Alessandro Molon, tenho lido de fontes, digamos, a sinistra, que o governo Bolsonaro poderia estar controlando os preços do arroz se tivesse mantido a política de estoques reguladores. Tenho uma opinião, mas como costumo não dar palpite antes de verificar os números, fui atrás.

O gráfico abaixo mostra a evolução dos estoques de arroz desde o governo Sarney, em toneladas.

Apenas para se ter uma ideia da ordem de grandeza, consumimos algo como 12 milhões de toneladas/ano ou 1 milhão de tonelada/mês de arroz (fonte: brazilianrice). Se assumirmos que o consumo per capita não deve ter mudado muito ao longo do tempo, o consumo durante o governo Sarney devia ser cerca de 30% a menos do que hoje, ou 8 milhões de toneladas/ano, crescendo ao longo do tempo até chegar nos atuais 12 milhões.

Uma primeira coisa que chama a atenção é o imenso estoque de arroz durante os últimos anos do governo Sarney, em média 4 milhões de toneladas, ou 6 meses do consumo nacional. Era a época da hiperinflação, em que instrumentos de intervenção no mercado eram usados sem cerimônia.

O governo Collor baixou estes estoques para cerca de 1 milhão de toneladas, que foi mais ou menos o novo patamar vigente ao longo do tempo. Durante o governo FHC os estoques variaram de zero a 2 milhões de toneladas, enquanto nos governos Lula e Dilma estes estoques variaram entre zero e 1 milhão, com alguns raros momentos em que atingiram 1,5 milhão.

Duas coisas chamam a atenção no período dos governos do PT: o longo período (quase 3 anos) em que os estoques de arroz ficaram zerados no início do governo Lula e, isso é o mais importante, a diminuição e, por fim, a zeragem dos estoques na segunda metade do governo Dilma.

Poderíamos pensar que estes estoques foram zerados para combater altas de preços de alimentos. Mas não foi o caso. Observando o gráfico da inflação de alimentos (que reproduzo novamente abaixo), notamos que os períodos de zeragem dos estoques não coincidem com os períodos de alta dos preços. A zeragem se deu, portanto, por outro motivo. Minha hipótese é que acabou o dinheiro. Para manter estoques, é óbvio que é preciso empatar algum dinheiro. No final do ano passado, uma tonelada de arroz custava, no atacado, cerca de R$ 1.800. Para manter um estoque de um milhão de toneladas, é preciso desembolsar R$ 1,8 bilhões. E isso só para o arroz. Some a isso outros itens da cesta básica, a conta sai cara.

O ponto que quero fazer, portanto, é que não foi Bolsonaro, nem tampouco Temer, que acabaram com os estoques reguladores. Foi o governo Dilma. Justamente o governo que amava um intervenção no mercado. Só que o dinheiro acabou.