A coluna do Estadão do domingo nos informa que o ex-presidente do BNDES, Luciano Coutinho, é o encarregado de Lula para negociar a recuperação da Avibras. Detalhe: Coutinho não é funcionário do governo, ele é sócio de uma consultoria chamada MTempo Capital.
Em abril deste ano, escrevi artigo comentando sobre outra notinha na mesma coluna, em que éramos informados de que o governo buscava uma “solução” para a empresa. Luciano Coutinho é citado naquela notinha, mas não havia informação de qual era o seu papel. O foco estava no aumento dos gastos do governo em defesa, o que, supostamente, salvaria a Avibras.
Na notinha de hoje, por outro lado, é o papel de Luciano Coutinho no negócio que está em foco. Fazendo uma rápida busca, a única menção à consultoria do ex-presidente do BNDES é um site de CNPJs. Não há um website próprio e, tampouco, uma página no LinkedIn. Estranha maneira de fazer marketing.
Luciano Coutinho afirma que não está sendo remunerado pelo governo. Bem, como ainda não foi inventada uma forma de viver do ar, Coutinho deve estar sendo remunerado por alguém. Se não é o governo, só pode ser a Avibras, que contratou o seu principal expertise: ser amigo dos amigos de Lula.
A Avibrás é uma empresa privada fundada na década de 60 por engenheiros do ITA. Dedica-se à fabricação de armamentos militares. Já pediu concordata três vezes: em 1990, em 2008 e há um ano, em março de 2022. Já pode pedir música no Fantástico.
Note que os três anos em que a empresa pediu concordata foram anos de grandes choques econômicos: Plano Collor, crise financeira do subprime e, agora, a pandemia. Note também que a concordata (hoje chamada de Recuperação Judicial) foi pedida antes de o BC iniciar a escalada dos juros. Pelo menos este cadáver não tem as digitais de Roberto Campos.
Notinha hoje no jornal traz ao nosso conhecimento de que o governo do PT está muito preocupado com a possibilidade de que o controle da Avibrás passe ao domínio estrangeiro.
Teríamos, então, uma empresa estratégica, importantíssima para a soberania brasileira, em mãos alienígenas. Por isso, o BNDES já está preparando uma grande estratégia de proteção a este setor. Que, claro, envolveria exceções tributárias a serem incluídas naquela reforma que, diz a lenda, viria para acabar com as exceções que infernizam a vida das empresas.
Mas voltemos à importância estratégica da Avibrás. Fui buscar nos balanços da empresa a fonte de seu faturamento. O último balanço publicado foi o de 2021, e a empresa só começou a abrir a origem de seu faturamento a partir de 2016. O gráfico mostrando esse break-down está abaixo.
Observe como o governo brasileiro vem sendo responsável por uma parte muito pequena do faturamento da empresa nos últimos anos. Quando a demanda internacional sumiu a partir de 2021, a empresa quebrou. Ou seja, somente a demanda nacional não foi capaz de sustentar a empresa.
Como o governo poderia ajudar a empresa? De duas formas:
1) Aumentando a demanda doméstica por armamentos militares. Em 2019, o governo Bolsonaro capitalizou a Emgepron (Empresa Gerencial de Projetos Navais) com nada menos que R$ 7,6 bilhões para que a Marinha pudesse construir navios. Tenho certeza que o governo do PT não se deixará vencer na preocupação com nossa soberania nacional nessa área, brindando a Avibrás com contratos bilionários, e não as migalhas que o governo brasileiro vem gastando nos últimos anos.
2) O BNDES entrando como agente financiador de compradores externos. Imagine os negócios que a Avibrás poderia fechar com parceiros preferenciais, como Venezuela, Nicarágua e Angola, a juros módicos dentro do programa “a defesa é nossa”. Segundo o último balanço, o BNDES representa apenas 14% da dívida da empresa. Há, portanto, muito espaço aí para ajudar.
Sim, amigos, o Brasil é um país grande, com grandes necessidades. Quando você acha que todas foram atendidas, aparece mais uma no jornal. Nada que não possa ser acomodado com mais um pouquinho de aumento de carga tributária.