O lugar perfeito para Dilma

Dilma Rousseff foi escolhida para presidir o New Development Bank (NDB), o chamado “Banco dos BRICS”, com sede na China. Eu era um dos que achavam inadmissível que Dilma não tivesse uma posição de destaque no governo Lula, dada a sua larga experiência nessas políticas que o PT quer implementar. Finalmente foi feita justiça, e Dilma foi nomeada para um cargo chave para o futuro do País. As más línguas dirão que Lula escolheu a China para mandar Dilma porque ainda não há representação brasileira na Lua, então foi o ponto mais distante possível. Pura fofoca, a presidência do NDB é a cara da Dilma. Vejamos.

A ideia inicial do NDB foi lançada em 2012 e o seu início de operação se deu em 2015. Ou seja, dentro do governo Dilma. Seus fundadores (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) entraram com cotas iguais: US$ 2 bilhões em cash, totalizando US$ 10 bi. Além disso, o banco emitiu outros US$ 10,5 bi em bônus de dívida. Foram aprovados os seguintes montantes em projetos até 2021:

– Brasil: US$ 4,9 bi

– Rússia: US$ 4,5 bi

– Índia: US$ 7,1 bi

– China: US$ 7,4 bi

– África do Sul: US$ 5,3 bi

Tota: US$ 29, 2 bi

O total de volumes aprovados supera o de cash+dívida porque esses volumes foram aprovados mas ainda não desembolsados. Corrigindo pelos montantes já aprovados para projetos, cada um dos países têm um capital empatado no NDB até o momento de US$ 5,8 bi. Ou seja, o Brasil gastou (ou está devendo) um montante de US$ 5,8 bi e teve montante aprovado de projetos de US$ 4,9 bi. Portanto, nesses 6 anos, o Brasil gastou (ou vai gastar) liquidamente US$ 900 milhões com o NDB para financiar projetos na Índia e na China, os países superavitários da “parceria”. Belo negócio, a cara da Dilma.

Visto de outra forma: se esses projetos fossem financiados pelo BNDES, teríamos economizado US$ 900 milhões. Mas a criação de “bancos de desenvolvimento” está no DNA de pessoas como Dilma. Por isso, nenhum lugar melhor para a ex-presidenta.

Sociedades em bancos globais de desenvolvimento fazem sentido quando países ricos ajudam países pobres. Por exemplo, no Banco Mundial, segundo o balanço de junho/22, o Brasil entra com 6,9% do total de empréstimos e contribui com 2,1% do capital do banco. Isso acontece porque os maiores contribuidores são os países mais ricos. Qual o sentido de se associar com iguais e uns emprestarem dinheiro para os outros para, no final, todo mundo sair como entrou, a menos da estrutura montada para abrigar pessoas como Dilma?

Sim, Dilma está no lugar certo: longe do Brasil, perto de ideias que queimam o dinheiro do contribuinte.

Como um plano para salvar o Museu Nacional fracassou

Dando continuidade ao assunto, leia a história de Israel Klabin e sua tentativa de arrumar um empréstimo de US$80 milhões do Banco Mundial para o Museu Nacional, e que esbarrou na negativa da então diretoria da UFRJ de abrir mão da governança do Museu:

Como já dissemos, ninguém é louco de dar dinheiro na mão dessa patota.

O Estado não cria riqueza

O Banco Mundial sugeriu uma série de medidas para racionalizar o uso dos recursos públicos, direcionando-os para o benefício dos mais pobres. Se fossem adotadas, essas medidas proporcionariam a queda da taxa estrutural de juros da economia, com todos os benefícios daí advindos.

Adivinha quantas dessas medidas sairão do nosso Congresso?

Certo: nenhuma.

E não é culpa do Congresso. Os parlamentares refletem a opinião e a prática média da sociedade brasileira. Os mais ricos com suas universidades gratuitas, seus supersalários e aposentadorias do setor público, suas Leis Rouanet, seus inúmeros incentivos tributários às suas empresas e consultórios e escritórios, enfim, com o seu sem-número de meias-entradas. Os mais pobres, satisfeitos com as migalhas que caem das mesas dos ricos.

Em algum momento, o castelo de cartas cai, resultando em inflação, recessão e juros altos, repetindo o velho ciclo das economias reféns do populismo.

Os “rentistas”, os “especuladores”, os “imperialistas”, enfim, os culpados de sempre são então chamados à cena para justificar um estado de coisas que só tem um culpado: a incapacidade da sociedade brasileira de entender que o Estado não cria riqueza, apenas a distribui. No nosso caso, dos mais pobres para os mais ricos.