O grande eleitor de 2022

O que têm em comum os primeiros ministros Viktor Orbán, Boris Johnson e Benjamin Netanyahu com o ex-presidente Jair Bolsonaro? Os quatro representam a direita em seus países. O que os distingue? Os líderes de Hungria, Inglaterra e Israel fizeram questão de liderar pelo exemplo as campanhas de vacinação em seus países. Bolsonaro, não.

De nada adiantou dizer que “quem quis se vacinar teve vacina”, o que é verdade. Disponibilizar vacinas é muito, mas longe de ser o suficiente. Um líder lidera pelo exemplo, e uma campanha de vacinação começa com o exemplo que vem de cima.

Ao jogar a vacinação para o campo ideológico (a direita que defende a liberdade contra a esquerda totalitária que quer impor o que você deve fazer), Bolsonaro se desligou do que queria a maioria da população, que era simplesmente se livrar o quanto antes do vírus. Líderes de direita do mundo inteiro entenderam isso. Bolsonaro, não.

Lula, obviamente, se deixou fotografar sendo vacinado durante a campanha nacional e, ontem, novamente. Não precisa ser muito esperto politicamente para sacar que esse é o contraponto por excelência em relação a Bolsonaro. O ex-presidente perdeu a eleição para um ex-presidiário por meros 1,8% dos votos. Não tenho dúvida de que, se Bolsonaro tivesse seguido o exemplo de seus pares Orbán, Johnson e Netanyahu, a história teria sido diferente. A Covid foi o grande eleitor dessas eleições.

As mentiras convenientes dos políticos

A Economist traz um artigo (traduzido pelo Estadão) criticando as “mentiras” contadas pelos políticos de todas as colorações. Quando você vai ler, as “mentiras” não passam do que conhecemos como “promessas de campanha”.

Em uma campanha política, cabe aos candidatos inculcar nos eleitores “ideias de esperança” em relação a si próprios e “ideias de medo” em relação aos seus adversários. Quando o PT prometia pleno emprego, ou quando dizia que seus adversários iriam acabar com o bolsa-família, estava obviamente mentindo. Mas eram mentiras dentro do contexto de uma eleição. Cabe aos eleitores discernirem o que é factível daquilo que não passa de promessas delirantes.

Aí é que mora o problema. As pessoas querem ouvir notícias boas e rejeitam ouvir as más notícias, mesmo sendo verdadeiras. Muitas vezes não estão preparadas para a verdade nua e crua dos fatos. No mundo dos investimentos, por exemplo, as pessoas tendem a não gostar quando ouvem que “não tem como gerar esse nível de retorno que você quer”. Essa é a mensagem verdadeira, mas que é rejeitada por muitos investidores, que acabam caindo em arapucas que prometem “muita rentabilidade sem risco”.

Vão longe os tempos em que um Churchill não prometia nada além de “sangue, suor e lágrimas”. Hoje todos os políticos mentem. A sociedade assim o quer.

Brexit, a batalha final

Um primeiro-ministro como Boris Johnson foi a melhor coisa que podia acontecer para o Reino Unido nesse momento.

Era necessário um primeiro-ministro que colocasse de maneira selvagem todas as cartas na mesa, para forçar todas as posições. E o que vimos é que o parlamento britânico está longe de estar pronto para o Brexit. Muito longe.

Um acordo com a UE envolve resolver a quadratura do círculo: uma fronteira de Heidegger entre as duas Irlandas. Não tem solução. Portanto, não tem Brexit, a não ser que seja sem acordo. Boris Johnson colocou exatamente isso na mesa, e saiu derrotado. Ou seja, não tem Brexit.