“Problema estrutural”

Os usuários de crack são os novos pichadores. Os auto-proclamados “defensores dos direitos humanos” usam os pobres coitados para emplacar sua agenda política.

Na verdade, esse pessoal não quer resolver o problema. Interessa-lhes que a cidade fique suja, que haja moradores de rua e fumadores de crack. Assim, fica mais claro e evidente que o capitalismo degrada o ser humano, e somente com o advento do socialismo, regime da solidariedade e da paz, esses problemas todos serão resolvidos.

Quando você ouvir que o problema é “estrutural”, que não dá para ser resolvido “da noite para o dia”, não se engane: é disso que se trata.

Viu como é fácil?

A 99 Táxis recebeu aporte de US$ 100 milhões para a sua expansão.

Não foi do BNDES.

Foi da japonesa SoftBank.

Viu, FIESP? Viu, Joesley? Dá pra crescer sem a ajuda do governo. Basta ter um projeto que pare em pé.

A verdadeira “mais-valia”

Passeando pela livraria, deparo-me com a nova edição de O Capital, de Karl Marx. Confesso, nunca tinha lido uma única página. Conheço a teoria marxista apenas pelos seus resultados, que não são lá muito animadores.

Curioso, fui para o capítulo onde se define a mais-valia. Lê-se lá: “Sabemos que o valor de qualquer mercadoria é determinado pela quantidade de trabalho materializado em seu valor de uso, pelo tempo de trabalho socialmente necessário à sua produção.”

Pronto. Não precisa ler mais nada. Tudo o que se construir a partir dessa premissa terá o valor de uma nota de 3 reais. O valor de uma mercadoria é dado pelo quanto alguém está disposto a pagar por ela, pouco importando os insumos, incluindo o trabalho, empregados.

Digamos, por hipótese, que alguém faça um buraco e o tampe. Terá gasto um “tempo de trabalho”. Segundo Marx, este buraco tampado tem o valor do trabalho empregado em fazê-lo. Segundo qualquer pessoa de bom senso, não vale nada. O marxismo carece de bom senso.

Agora, por hipótese, suponhamos uma sociedade construída segundo a premissa marxista. Haverá muitos “buracos tampados” que devem ser remunerados. Como ninguém está disposto, individualmente, a pagar, resta ao Estado fazê-lo. No limite, todos os meios de produção pertencem ao Estado, que remunera “o trabalho socialmente necessário à produção”. No fim, todos se matam de trabalhar e não se produz nada de valor. Resultado: o muro cai.

Mas, dirá alguém, mesmo o mais obtuso marxista sabe que um buraco tampado não tem valor. A sociedade organizada com base na premissa marxista ainda assim saberá produzir coisas de valor, com a vantagem de não precisar remunerar o capitalista.

É justamente aí que está o busílis do capitalismo: o capitalista, o empreendedor, é o sujeito que ganha a mais-valia justamente por criar valor. Ou, para ser mais exato, por identificar corretamente o que será valorizado pelo consumidor da sua mercadoria. Nenhuma organização estatal consegue substituir o empreendedor na criação de valor. Desde um Steve Jobs até o dono da padaria da esquina, todos eles vivem de criar valor, não de “tempo de trabalho”. Nenhum burocrata estatal cria valor. Por isso, as sociedades fundadas no marxismo são invariavelmente pobres.

Observação final: você, jovem, que não tolera a mais-valia do capitalismo e não quer ser explorado, você tem uma saída: empreenda! Seja seu próprio patrão! E tente criar valor para os seus clientes. Das duas uma: ou você terá sucesso e ganhará muito dinheiro, ou, no caso de fracasso, passará a dar valor àqueles que conseguem criar valor de verdade para a sociedade.

Pés de brownies

Estudando História com meu filho, que está no 7º ano e vai ter prova na semana que vem.

O assunto: Idade Média. Estávamos na parte do livro que descrevia a vida nos feudos, descritos como autossuficientes, praticamente sem comércio exterior.

– O que é “autossuficiente”, pai?

– É que não precisa de ninguém para viver. Seria como se não precisássemos mais ir ao supermercado, pois plantaríamos tudo em casa.

– Legal! Um pé de Hershey’s, um pé de pizza…

Demos boas gargalhadas só de pensar nos pés de Hershey’s e de pizzas na varanda de casa. Depois pensei: nesta pequena sacada, meu filho de 12 anos de idade desmontou o tal de “projeto Brasil” do Bresser Pereira, e todo o chamado “pensamento desenvolvimentista”. Explico.

A sociedade atual é muito, mas muito mais complexa que a sociedade medieval. O feudo podia ser autossuficiente, pois o mais rico lá vivia uma qualidade de vida imensamente inferior em comparação ao mais pobre do mundo atual. Não havia eletricidade. Não havia banheiro. Não havia livro. Não havia vacinas nem antibióticos. A comida era aquela plantada e criada no feudo, e só. A expectativa de vida ao nascer era pouco mais de 30 anos. Dava para ser autossuficiente.

Hoje não dá. Seria impossível o acesso à quantidade de bens e serviços que temos à disposição sem comércio. E o comércio só existe com preços livres. Preços controlados tornam o comércio disfuncional, até, em alguns casos, torná-lo impossível. O sistema de preços livres faz com que a alocação de capital seja a melhor possível, a menos de distorções localizadas e não permanentes.

Todo sistema econômico que tentou controlar preços, de uma maneira ou de outra, acabou por tornar a economia um caos. Estes controles podem ser explícitos (congelamentos de preços) ou implícitos (controle de taxa de câmbio, de taxa de juros, subsídios dos mais diversos tipos, etc). Vivemos, aqui mesmo, o congelamento de preços de quatro planos heterodoxos, que resultaram em desabastecimento e, no final, não controlaram a inflação. Também vivemos a tentativa de controlar o câmbio, no governo FHC, com o resultado sabido. E vivemos os diversos subsídios na era Lula/Dilma, com as distorções que levaram à maior recessão da história brasileira.

O ideario “desenvolvimentista” tem como pressuposto o Estado ditando os preços da economia. O empresário é visto como um sanguessuga, que deve ser trazido com cabresto curto, senão acaba acumulando toda a riqueza da sociedade. A burocracia estatal teria este condão de acertar o “preço justo” dos juros, o “preço justo” do câmbio, o “preço justo” da eletricidade, etc, etc, etc. No fim, temos a destruição do sistema de preços.

Uma sociedade que destrói o sistema de preços volta a ser medieval. Não é à toa que Maduro tem estimulado o plantio de hortaliças nas casas de seus compatriotas (ele próprio cria galinhas em seu palácio). A economia medieval é autossuficiente, e a Venezuela caminha célere nesta direção. Os padeiros já estão proibidos de produzirem brownies, somente podem produzir pães básicos, pois falta matéria-prima, em função dos controles cambiais. Resta aos venezuelanos plantarem pés de brownies em suas casas.

O gênio de Roberto Campos

Se juntar todos os manifestantes contra as reformas no Brasil inteiro não enche uma Kombi.

Em homenagem a eles, vão aí algumas palavras de Roberto Campos em 1999, publicadas hoje no Estadão.

O gênio de Campos fica cada vez mais claro quanto mais passa o tempo.

Construtores de utopias

“Na década de 90, aceitou algo do capitalismo mas, à diferença dos chineses, preservou o máximo de conquistas sociais. Sempre acreditou no “homem novo”, na vida sem egoísmo. Este, o seu maior mérito: não repudiou o que havia de ideais no comunismo. Sua meta estava na independência de Cuba e na justiça social; para isso incorporou o comunismo.”

Este é Renato Janine Ribeiro, hoje, no Valor Econômico. Entre ontem e hoje, li algumas análises sobre Fidel escritas por intelectuais de esquerda, para tentar entender a cabeça desse pessoal. Acho que esse trecho resume bem a coisa toda.

Eles simplesmente não ligam a miséria econômica e a ditadura feroz com a ideologia comunista. Todas as análises (e incluo aqui FHC) ressalvam o “grande ideal de Fidel”, e colocam o Estado policial e a perseguição política quase como acidentes de percurso, que não são suficientes para tisnar a Grande Obra do Homem, do Mito, do Herói.

Renato Janine e seus companheiros de ideologia não veem, ou não conseguem admitir, que a “construção do Homem Novo, solidário, sem egoísmo”, tem como instrumento necessário o estabelecimento de um Estado Totalitário. Sobre isto, recomendo a entrevista de Natan Sharansky, ontem, no Estadão. O dissidente soviético descreve com rara precisão o controle do pensamento em Estados Totalitários, único modo conhecido de implantar a Revolução do Homem Novo.

É curioso como esses intelectuais não conseguem (ou não querem) ver a contradição entre a comemoração das supostas “conquistas sociais” do regime cubano e a necessidade de “aceitar algo do capitalismo”. Ora, se as tais conquistas sociais são tudo o que o povo quer e precisa, pra que capitalismo? De onde essa necessidade de comércio e de livre iniciativa, na Sociedade do Homem Novo? Renato Janine termina seu texto perguntando se a figura de Fidel continuará inspirando aqueles que “lutam contra a miséria”! Caramba, então pra que capitalismo, se está tudo bem na ilha?

Renato Janine condena o regime chinês, “um capitalismo selvagem somado a uma ditadura, que se diz comunista mas é selvagem”. Ou seja, apesar de se dizer comunista, o regime chinês é selvagem. Aqui está, me parece, a grande desonestidade intelectual desse pessoal: se é selvagem, não é comunismo. O comunismo é virtude, e quem é contra não passa de um egoísta. A realidade das coisas é um mero detalhe para esses construtores de utopias.

A riqueza como virtude

Em determinado momento do debate de ontem nos EUA, Hillary Clinton começa a listar alguns motivos pelos quais Donald Trump se recusa a mostrar a sua declaração de imposto de renda. “Talvez porque ele não seja tão rico quanto diz, talvez porque ele não seja tão bem-sucedido quanto diz, talvez seja porque ele não faça tantas doações filantrópicas quanto diz”. Chamou-me a atenção porque Hillary lista “ser rico” e “ser bem-sucedido” como virtudes que Trump não tem como provar.

Corta para a eleição paulistana. Erundina, em debate, “acusa” Doria de morar em uma mansão que vale milhões de reais, e Lula, em comício, “acusa” Doria de vestir um casaco que compraria não sei quantos cisnes do sítio que não é dele.

João Doria acaba de assumir a liderança na corrida eleitoral paulistana. Difícil identificar o motivo do sucesso de sua campanha. Na minha opinião, ele é o candidato que melhor conseguiu encarnar o anti-petismo, e isso explica a sua espetacular ascensão. Mas é só um chute, pode estar certo ou errado. O que é absolutamente certo é que a “riqueza” de Doria não está atrapalhando.

Doria, guardadas as devidas distâncias, tem o mesmo perfil de Trump: outsider da política, Trump se coloca como o self-made man que vai usar a fórmula do seu sucesso empresarial para governar. Nos EUA, terra em que o sucesso é admirado, costuma funcionar. No Brasil, terra onde, como uma vez disse Tom Jobim, o sucesso é ofensa pessoal, não.

A ascensão de Doria coloca em cheque esta visão. Os intelectuais da rota Rio-Paris e os sociólogos de bar da Vila Madalena juram que rico vota em rico e pobre vota em pobre. Os pobres, donos de seus votos, estão passando outra mensagem, imortalizada na célebre frase do filósofo Joãozinho Trinta: “Pobre gosta de luxo, quem gosta de miséria é intelectual”. Joãozinho Trinta era carnavalesco da Beija-Flor, e respondia deste modo aos críticos, que diziam que havia um excesso de luxo em seus desfiles, contrastando com as condições de pobreza em que vivia o povo que desfilava.

Riqueza fruto do trabalho (e não da corrupção) deveria ser encarada como uma virtude. A eleição paulistana está mostrando que, pelo menos, não está sendo considerada um pecado.

A mentalidade do brasileiro

Estamos ainda muito distantes de viver em uma sociedade em que a livre iniciativa, cláusula pétrea da Constituição brasileira, seja uma realidade nos corações e mentes dos brasileiros.

Hoje o Estadão traz uma reportagem em tom de denúncia sobre a “terceirização” dos serviços do Uber. Pessoas estariam montando pequenas frotas e contratando motoristas, cobrando taxas e, oh horror, exigindo parte dos lucros. Isso mesmo, exigindo! Esse foi o verbo usado no título da reportagem.

Os jornalistas que cometeram essa reportagem, coitados, não têm culpa. Foram formados no caldo de cultura do capitalismo de Estado, aquele em que o governo deve regular a atividade econômica, e em que lucro pode, desde que não seja “abusivo”. Os jornalistas refletem apenas a opinião do “brasileiro médio”.

A reportagem acusa os motoristas do Uber (com conivência e até incentivo da empresa, cabe notar) de caírem nas mesmas práticas dos taxistas, que compram alvarás para explorá-los comercialmente. Não entendem, os jornalistas e os brasileiros, a diferença básica, fundamental, filosófica, entre uma prática e outra. Enquanto os taxistas negociam uma benesse do Estado, em que este regula o tamanho do mercado, os motoristas do Uber podem, a qualquer tempo e hora, adquirir um carro e sub-contratar outro motorista. Não há limite, a não ser o tamanho do próprio mercado. Não há um ente superior, que decide quem pode ou quem não pode atuar. Há apenas o equilíbrio entre demanda e oferta.

Imagine, por um momento, que a Prefeitura regulamentasse o Uber, e proibisse a sub-contratação. Somente os motoristas que tivessem capital ou linha de crédito para adquirir um veículo poderiam atuar. O mercado de motoristas de Uber seria muito menor, e dois mercados ficariam desatendidos: o de motoristas que não podem adquirir um carro e, obviamente, o de usuários.

O tom da reportagem é de “exploração”, bem típico da leitura marxista do capitalismo. Os sub-contratados estariam “sofrendo exploração” na mão dos donos do capital. Quando, na verdade, estes “motoristas sem capital” conseguiram um emprego que, de outra forma, lhes estaria vedado. Estariam engrossando a lista dos 11 milhões de desempregados do país, muitos deles fruto de políticas que visam proteger os “direitos dos trabalhadores”.

O que os jornalistas não entendem é que possa haver um contrato livremente estabelecido entre duas pessoas adultas e responsáveis. E que isso a que eles chamam de “exigência de parte dos lucros” nada mais é do que uma cláusula livremente negociada, a que o motorista adere se lhe for conveniente. Sem as amarras da CLT, que só servem para discurso de sindicato.

Claro, não faltaram as vozes dos chamados “especialistas”, alertando para uma possível queda na “qualidade do serviço”. Fiquei sem entender porque um motorista dono do próprio carro serve melhor do que um outro motorista sem carro. Mas digamos, por hipótese, que isso aconteça de fato. Neste caso, o Uber deixaria aos poucos de ser usado, este negócio deixaria de ser lucrativo e, adivinha, os motoristas sem carro seriam demitidos. O mercado se ajustaria. Claro que ao Uber isso pouco interessa, e é o primeiro a se preocupar em manter o nível do serviço. Se a empresa incentiva a prática da terceirização, é porque se julga capaz de manter o nível do serviço.

Por fim, a cereja do bolo: o depoimento de um motorista do Uber que investiu no próprio veículo, e acha desleal a concorrência dos motoristas “sem-carro”. Ele espera que a Prefeitura regulamente logo a atividade para, segundo ele, “regular a concorrência”. Essa é a mentalidade! O que importa é proteger o mercado e os lucros. O usuário final que se lasque! De que lado você acha que a Prefeitura e os vereadores vão se postar?