Ponto para o TSE

Creio que já deixei claro aqui meu desconforto com o papel que o TSE se autoconcedeu de “juiz da verdade” nessas eleições. Por isso, sinto-me à vontade para elogiar o TSE quando acredito que o tribunal acertou.

Refiro-me a três decisões do tribunal, duas impondo a retirada de conteúdos e uma negando a demanda. Acredito que os juízes do TSE acertaram nos três casos.

No primeiro, um áudio atribuído a Aldo Rebelo culpa o PT pela alta dos combustíveis. O problema, no caso, é que o áudio não é de Aldo Rebelo. O juiz não julgou o conteúdo em si, mas a autenticidade do áudio. Colocado na boca de um aliado de Lula, o discurso torna-se muito mais crível. Portanto, a forma importa. E a forma é falsa. Fosse Bolsonaro ou Guedes dizendo a mesma coisa, teríamos um discurso político, e o TSE não teria nada a ver com isso. Portanto, o TSE acertou neste caso.

No segundo, um vídeo de humor mostrando um advogado do PT dizendo que as pesquisas são manipuladas é apresentado como uma denúncia séria. Obviamente, trata-se de uma manipulação grosseira. O TSE, novamente, não julgou o conteúdo, mas a forma. Não existe um advogado do PT denunciando a manipulação de pesquisas. Uma coisa é alguém com nome e sobrenome fazer a denúncia, tendo o ônus de sustenta-la perante a justiça, dado que os institutos podem processar o denunciante. Outra bem diferente é um programa de humor ser apresentado como “prova” da manipulação. O TSE acertou nesse segundo caso.

O terceiro é um post de Carlos Bolsonaro, em que o filho do presidente comenta uma entrevista de Lula ao jornal El País, onde o presidente afirma que ”não vai enganar o povo mais uma vez”. Carlos, obviamente, deita e rola em cima da frase. O juiz considerou que o video de Carlos Bolsonaro pertence à esfera da luta política, dado que o ex-presidente efetivamente falou o que falou. A acusação é de “descontextualização”, como se fosse obrigação do político contextualizar a fala de um adversário. Cada um fala o que quer e depois aguenta as consequências. O juiz entendeu que não se tratava de falsidade, mas de “tom crítico ou satírico”. Mais uma vez, ponto para o TSE.

Se continuar seguindo nessa linha, o TSE terá um papel importante nessas eleições.

O português nosso de cada dia

O problema do 02 é que ele escreve mal. Não sei se algum dia prestou o ENEM, mas sua redação não teria uma nota das melhores. E não por motivos ideológicos.

O caso do tuíte-bomba é exemplar. A diferença de interpretação do texto é esta: Carlos faz uma constatação, que ele acha que deveria levar à conclusão de que devemos ter paciência, enquanto a interpretação geral é de que ele incitava a um golpe contra as instituições democráticas.

Tanto seu tuíte deu margem a esse tipo de interpretação que uma fã bolsonarista (veja acima), insuspeita portanto, acha isso “muito grave”, e afirma que “por vias democráticas é o único jeito” para alcançar o sucesso. Ao que Carlos responde “óbvio!”. A esta altura, ele já deveria ter percebido a m… que fez.

O que deu origem a essa interpretação foi o uso da expressão “por vias democráticas”. Se ele tivesse começado, por exemplo, com um “Em uma democracia”, a repercussão seria mínima, se é que haveria alguma. O “por vias democráticas” passa a ideia de que há outras vias. “Em uma democracia”, por outro lado, dá como certo de que este é o regime, não há outro. E o pior é que o restante do tuíte só reforça a ideia de que “outras vias” deveriam ser buscadas. Afinal, é tudo muito lento, e somos dominados pelos mesmos de sempre.

Carlos se notabilizou pelos seus tuítes sem sentido, da mesma forma que Dilma pelos seus discursos destrambelhados. A fala e a escrita de qualquer pessoa bebem da sua organização mental. Ouvir Dilma falar ou ler os tuítes de Carlos informam muito sobre os seus respectivos mundos mentais. Alguns ainda tentam encontrar nos tuítes do 02 algum sentido oculto, como se fosse uma mensagem cifrada para os Illuminati. Bobagem. São simplesmente mal escritos.

No fim, Carlos, ao invés de vir a público humildemente pedir desculpas, como faria qualquer pessoa civilizada, põe a culpa na imprensa. Como se as pessoas, incluindo a sua fã bolsonarista, não soubessem interpretar um texto e precisassem, para isso, do auxílio de jornalistas. Se o primeiro tuíte pode ser creditado à sua inabilidade para escrever, o segundo não deixa margem a dúvidas sobre o seu caráter.

Patetice

Talvez a genialidade política de Bolsonaro seja tão genial, que os pobres mortais não a estejamos alcançando.

Ou talvez Bolsonaro seja apenas um pateta.

Saberemos dentro de poucos meses.