Um museu de grandes novidades

Com todas as atenções voltadas para o grande palco da guerra entre Lula e o BC, pequenas batalhas em regiões secundárias acabam não chamando a atenção. Mas o somatório dessas pequenas batalhas acaba por definir o rumo da guerra. É o que temos nessa quase nota de rodapé.

Tive a oportunidade de escrever sobre essa Ceitec em abril de 2021. À época, o TCU barrou o fechamento da empresa pela “ameaça de demissão de funcionários”. A empresa foi fundado por Lula em 2008 e, desde então, nunca gerou lucro. No final, dependia de aportes de mais de R$ 50 milhões/ano para pagar seus funcionários. Era quase como pagar operários para cavar buracos e tampá-los novamente.

É óbvio que Lula reverteria o fechamento da empresa. Para tanto, estabeleceu um “grupo de trabalho” com representantes da AGU e Ministérios da Fazenda, Gestão e Indústria e Comércio, sob a coordenação do Ministério da Ciência e Tecnologia. Olha quantos homens e mulheres-hora estarão sendo desperdiçados na tentativa de encontrar argumentos para manter a empresa aberta. O governo Lula faria bem em poupá-los, dado que a decisão já está tomada, e não tem nada de técnica.

Lula ganhou a eleição e, como afirmou ontem, não precisa pedir licença para implementar o seu plano de governo. Sem dúvida, está no seu direito. Quem não está no seu direito de se surpreender é o eleitor que achou que Lula 3 seria um repeteco de Lula 1. Estava tudo muito claro, desde o início.

O TCU e os empregos improdutivos

A Ceitec, conhecida por ser a empresa do “chip do boi”, foi criada em 2008, no governo Lula, para servir de polo de desenvolvimento tecnológico na área de semicondutores.

O PPI, órgão responsável pelas privatizações, recomendou a extinção pura e simples da empresa. Será que o governo resolveu rasgar dinheiro e abriu mão de vender a empresa, faturando algumas centenas de milhões de reais? Vejamos.

A Ceitec faturou, em 2020, R$ 9,7 milhões. Com certeza tem padaria em São Paulo que fatura mais do que isso. Teve gastos com pessoal de R$ 36,5 milhões e com outras despesas administrativas de R$ 29,4 milhões. Para fechar o buraco, recebeu “subvenções” do governo brasileiro de R$ 57,8 milhões.

Poderíamos pensar que a empresa ocupa um espaço estratégico no desenvolvimento tecnológico brasileiro. Mas, com um faturamento de menos de R$ 10 milhões anuais, difícil imaginar que vá fazer alguma falta, a não ser como ganha-pão para os seus funcionários. Mas chegaremos lá.

Segundo a World Semiconductor Trade Statistics, a indústria de chips movimenta mais de 400 bilhões por ano. De dólares. Metade desse volume é produzido nos EUA, 20% na Coreia e o restante é dividido entre Japão, China, Taiwan e União Europeia. Por outro lado, o mercado consumidor está concentrado na China (cerca de 1/3) e outros países do Sudeste Asiático (outros 25%), que produzem as quinquilharias eletrônicas que todos amamos.

O que faz uma empresa que fatura 2 milhões de dólares anuais nesse jogo de gigantes? Difícil dizer. Já tivemos uma empresa estatal que conseguiu se destacar no mundo tecnológico: a Embraer. A fabricante do Bandeirante foi privatizada, não liquidada. Tinha algum valor comercial e estratégico. Em um mundo com abundância de capitais, onde empresas recém saída das fraldas levantam centenas de milhões de reais em rodadas de aporte de recursos, não seria difícil encontrar alguém interessado na Ceitec, se a empresa tivesse algum valor. Faz 12 anos que a Ceitec foi fundada. Se nesse tempo não conseguiu sequer andar com as próprias pernas e fatura menos que uma padaria, alguma coisa está muito errada.

Aqui não vai nenhum julgamento sobre os funcionários da Ceitec. Tenho certeza de que se trata de técnicos capacitados e dedicados. Infelizmente, no entanto, trabalham em uma empresa que suga mais de R$ 50 milhões por ano dos magros cofres do Tesouro, para fabricar um punhado de coisas sem escala, em uma indústria que deixou de estar na fronteira da tecnologia há alguns anos. Infelizmente, os seus empregos não se justificam. Tenho certeza de que, se forem realmente qualificados, não terão dificuldades em encontrar outros empregos neste mundo sedento por profissionais de tecnologia.

O TCU está preocupado com a demissão dos funcionários da Ceitec. Faria bem o TCU em se preocupar em como o dinheiro do contribuinte está sendo gasto para sustentar esses empregos. Cumpriria melhor a sua função institucional.