Pense bem antes de responder

Ainda sobre a isenção de tarifa de bagagem aprovada ontem pela Câmara, notinha no Estadão descreve em detalhe as consequências não intencionais da medida.

Por incrível que pareça, as ações das cias aéreas subiram ontem. Os analistas apontaram dois motivos:

1) As empresas vão assumir que 50% dos passageiros despacharão bagagens para calcular os novos preços das passagens aéreas. Como esse número é conservador, pois normalmente apenas 30% dos passageiros despacham bagagens, as empresas terão lucro maior.

2) Ao incorporar o despacho de bagagem ao preço da passagem, a medida dificulta a vinda de empresas “low-cost”, garantindo o “triopólio” atualmente vigente.

A notinha peca somente por não considerar a elasticidade da demanda ao preço da passagem. Será que o número de passageiros será o mesmo com uma passagem mais cara? Pode ser que sim, mas seria necessário considerar também este fator na análise.

Agora, a pergunta que não quer calar: se essa medida é boa para os passageiros e é boa também para as empresas, os deputados fizeram bem em aprová-la? Pense bem antes de responder.

Passageiros da classe econômica, uni-vos!

A Câmara dos Deputados já se debruçou sobre os principais problemas do país e resolveu-os todos. Assim, sobrou um tempo para que uma deputada do PCdoB, partido sempre cioso dos problemas que afligem os mais pobres, propusesse uma lei que interfere no livre contrato privado entre empresas e consumidores de classe média, e fosse acompanhada pela maioria de seus companheiros, preocupados com a “falta de lanche” nos voos e pelo “enriquecimento” das companhias aéreas.

No intuito de ajudar os nobres deputados em sua missão de introduzir um “capitalismo justo”, proponho uma lei que obrigue as companhias aéreas a oferecerem experiência de 1a classe a todos os seus passageiros. Essa discriminação odiosa entre “classes” de voo precisa acabar. O tratamento desumano aos passageiros da chamada classe econômica é uma afronta aos direitos fundamentais do ser humano. Enquanto negam um mínimo de conforto para seus clientes nessa “economia de palitinhos”, as empresas aéreas nadam em dinheiro.

Passageiros da classe econômica do mundo, uni-vos!

Startups jabuticaba

Startups brasileiras estão ajudando passageiros a processarem companhias aéreas.

As startups de tecnologia normalmente surgem lá fora para atender problemas universais, que afetam pessoas de todos os países. Se uma startup para resolver um determinado problema nasceu no Brasil e, o que é o pior, só tem no Brasil, então pode ter certeza de que aquele problema só existe no Brasil.

E não estou me referindo a atrasos em voos e malas extraviadas. Isso acontece no mundo inteiro. O que provavelmente é único do Brasil seja uma mistura de um setor que trata o consumidor com desprezo com um sistema judiciário de difícil acesso e que trata o empresário como bandido. Esta mistura é explosiva, e criou um mercado explorado por essas startups.

Os EUA é um exemplo notório de país onde tudo se judicializa, é a terra dos advogados. Se há muito menos judicialização lá no setor aéreo, deve ser porque as companhias aéreas tratam melhor seus clientes em caso de problemas, ou porque o judiciário não dá ganho de causa para qualquer demanda ou, o que é mais provável, uma combinação de ambas.

Essas startups estão aproveitando uma oportunidade de mercado que só existe no Brasil. Não adianta culpá-las pelo excesso de judicialização no setor (um “câncer”, segundo o presidente da Latam). É preciso que as empresas aéreas e o judiciário fechem essa “oportunidade de mercado”.