Só um gole

Um gole de pinga pode ser apenas uma diversão ou uma tragédia. Depende da pessoa.

Para uma pessoa que sempre teve comportamento sóbrio, um gole de pinga é apenas uma diversão inofensiva. Para um ex-alcoólatra, é uma tragédia.

O Brasil é um ex-alcoólatra da intervenção. E não foi só o governo Dilma não. Getúlio Vargas era um grande intervencionista (leiam Lanterna na Popa, de Roberto Campos). Os generais eram intervencionistas. A Nova República de Sarney era o supra-sumo do intervencionismo. Dilma foi apenas a continuidade de uma tradição.

Paulo Guedes é o rehab da nossa última aventura intervencionista, que destruiu a economia brasileira.

Mas aí, Bolsonaro resolveu tomar um gole de pinga.

Pés de brownies

Estudando História com meu filho, que está no 7º ano e vai ter prova na semana que vem.

O assunto: Idade Média. Estávamos na parte do livro que descrevia a vida nos feudos, descritos como autossuficientes, praticamente sem comércio exterior.

– O que é “autossuficiente”, pai?

– É que não precisa de ninguém para viver. Seria como se não precisássemos mais ir ao supermercado, pois plantaríamos tudo em casa.

– Legal! Um pé de Hershey’s, um pé de pizza…

Demos boas gargalhadas só de pensar nos pés de Hershey’s e de pizzas na varanda de casa. Depois pensei: nesta pequena sacada, meu filho de 12 anos de idade desmontou o tal de “projeto Brasil” do Bresser Pereira, e todo o chamado “pensamento desenvolvimentista”. Explico.

A sociedade atual é muito, mas muito mais complexa que a sociedade medieval. O feudo podia ser autossuficiente, pois o mais rico lá vivia uma qualidade de vida imensamente inferior em comparação ao mais pobre do mundo atual. Não havia eletricidade. Não havia banheiro. Não havia livro. Não havia vacinas nem antibióticos. A comida era aquela plantada e criada no feudo, e só. A expectativa de vida ao nascer era pouco mais de 30 anos. Dava para ser autossuficiente.

Hoje não dá. Seria impossível o acesso à quantidade de bens e serviços que temos à disposição sem comércio. E o comércio só existe com preços livres. Preços controlados tornam o comércio disfuncional, até, em alguns casos, torná-lo impossível. O sistema de preços livres faz com que a alocação de capital seja a melhor possível, a menos de distorções localizadas e não permanentes.

Todo sistema econômico que tentou controlar preços, de uma maneira ou de outra, acabou por tornar a economia um caos. Estes controles podem ser explícitos (congelamentos de preços) ou implícitos (controle de taxa de câmbio, de taxa de juros, subsídios dos mais diversos tipos, etc). Vivemos, aqui mesmo, o congelamento de preços de quatro planos heterodoxos, que resultaram em desabastecimento e, no final, não controlaram a inflação. Também vivemos a tentativa de controlar o câmbio, no governo FHC, com o resultado sabido. E vivemos os diversos subsídios na era Lula/Dilma, com as distorções que levaram à maior recessão da história brasileira.

O ideario “desenvolvimentista” tem como pressuposto o Estado ditando os preços da economia. O empresário é visto como um sanguessuga, que deve ser trazido com cabresto curto, senão acaba acumulando toda a riqueza da sociedade. A burocracia estatal teria este condão de acertar o “preço justo” dos juros, o “preço justo” do câmbio, o “preço justo” da eletricidade, etc, etc, etc. No fim, temos a destruição do sistema de preços.

Uma sociedade que destrói o sistema de preços volta a ser medieval. Não é à toa que Maduro tem estimulado o plantio de hortaliças nas casas de seus compatriotas (ele próprio cria galinhas em seu palácio). A economia medieval é autossuficiente, e a Venezuela caminha célere nesta direção. Os padeiros já estão proibidos de produzirem brownies, somente podem produzir pães básicos, pois falta matéria-prima, em função dos controles cambiais. Resta aos venezuelanos plantarem pés de brownies em suas casas.