O movimento Diretas Já tem sido citado com cada vez mais frequência como o paradigma daqueles que querem o impeachment de Bolsonaro. Existe até um movimento intitulado Direitos Já, que tenta emular o movimento de 1984, ao pregar a união de todas as “forças democráticas” em torno do objetivo de derrubar o presidente. Este movimento foi idealizado e é coordenado pelo sociólogo Fernando Guimarães, ex-coordenador da ala Esquerda Pra Valer do PSDB, e que foi expulso do partido justamente por ter se aproximado do PT para fundar o tal movimento. Isso já nos diz alguma coisa.
Voltemos ao paralelo com as Diretas Já. Na época, Lula, Brizola, Covas, Ulysses e várias outras lideranças de oposição ao regime militar subiram unidos no palanque para pedir eleições diretas. Era o primeiro grande movimento de rua desde a Marcha pela Família de 1964. Tudo era novo, uma página em branco, o PT era só um amontoado de intelectuais e sindicalistas, o PSDB nem existia, Ulysses pairava soberano sobre a incipiente democracia brasileira. Não havia história para nublar aquele céu limpo e radiante da união contra a ditadura militar.
Fast forward para 2021. O PT é a força hegemônica da esquerda, tendo todos os outros partidos desse lado do espectro político como seus satélites. Qualquer aliança com a esquerda passa necessariamente pelo PT. E o que é o PT? Não se trata mais daquele partido de 1984, prenhe de esperanças de um novo amanhã. O PT é o partido do Mensalão, do Petrolão e da maior recessão da história do Brasil. Competentes na corrupção e incompetentes na economia. Portanto, um palanque como o das Diretas Já só pode ser defendido por alguém que tenha ficado em uma câmara criogênica de 1984 a 2021 e tenha sido despertado agora.
Não custa lembrar o fim melancólico do Diretas Já, com a derrota, no plenário da Câmara, da emenda Dante de Oliveira. Sou capaz de arriscar que uma votação pelo impeachment de Bolsonaro, hoje, teria o mesmo destino. O problema não é Arthur Lira não avançar com os pedidos de impeachment. O problema é que não há votos para o sucesso da empreitada. Aquele povo na rua em 1984 não representava os votos no Congresso. Hoje, sequer há povo na rua, mas somente esses movimentos que são, no final do dia, satélites do PT.