Trump, o inimigo público número 1

A eleição de Trump representa o fim do mundo para os EUA e, por consequência, do mundo propriamente dito.

Afinal, Trump é um lunático, que pode adotar medidas insanas que vão destruir as bases mesmas da civilização tal qual a conhecemos.

Trump, por exemplo, pode congelar preços por tempo indeterminado.

Trump pode confiscar a poupança da população.

Trump pode decretar a moratória da dívida.

Trump pode armar um esquema de corrupção que desvie bilhões de dólares para sustentar o seu partido.

Trump pode destruir o setor elétrico com uma canetada.

Trump pode usar a empresa estatal de petróleo para sustentar políticas populistas irresponsáveis.

Trump pode impedir a saída do país de americanos insatisfeitos com suas condições de vida.

Trump pode confiscar fábricas de empresários gananciosos.

Trump pode mandar prender adversários políticos.

Coitados dos americanos. Ainda bem que vivemos em uma parte do mundo onde nada disso é possível.

A riqueza como virtude

Em determinado momento do debate de ontem nos EUA, Hillary Clinton começa a listar alguns motivos pelos quais Donald Trump se recusa a mostrar a sua declaração de imposto de renda. “Talvez porque ele não seja tão rico quanto diz, talvez porque ele não seja tão bem-sucedido quanto diz, talvez seja porque ele não faça tantas doações filantrópicas quanto diz”. Chamou-me a atenção porque Hillary lista “ser rico” e “ser bem-sucedido” como virtudes que Trump não tem como provar.

Corta para a eleição paulistana. Erundina, em debate, “acusa” Doria de morar em uma mansão que vale milhões de reais, e Lula, em comício, “acusa” Doria de vestir um casaco que compraria não sei quantos cisnes do sítio que não é dele.

João Doria acaba de assumir a liderança na corrida eleitoral paulistana. Difícil identificar o motivo do sucesso de sua campanha. Na minha opinião, ele é o candidato que melhor conseguiu encarnar o anti-petismo, e isso explica a sua espetacular ascensão. Mas é só um chute, pode estar certo ou errado. O que é absolutamente certo é que a “riqueza” de Doria não está atrapalhando.

Doria, guardadas as devidas distâncias, tem o mesmo perfil de Trump: outsider da política, Trump se coloca como o self-made man que vai usar a fórmula do seu sucesso empresarial para governar. Nos EUA, terra em que o sucesso é admirado, costuma funcionar. No Brasil, terra onde, como uma vez disse Tom Jobim, o sucesso é ofensa pessoal, não.

A ascensão de Doria coloca em cheque esta visão. Os intelectuais da rota Rio-Paris e os sociólogos de bar da Vila Madalena juram que rico vota em rico e pobre vota em pobre. Os pobres, donos de seus votos, estão passando outra mensagem, imortalizada na célebre frase do filósofo Joãozinho Trinta: “Pobre gosta de luxo, quem gosta de miséria é intelectual”. Joãozinho Trinta era carnavalesco da Beija-Flor, e respondia deste modo aos críticos, que diziam que havia um excesso de luxo em seus desfiles, contrastando com as condições de pobreza em que vivia o povo que desfilava.

Riqueza fruto do trabalho (e não da corrupção) deveria ser encarada como uma virtude. A eleição paulistana está mostrando que, pelo menos, não está sendo considerada um pecado.