O empresário é insubstituível

Já tive oportunidade de escrever aqui sobre uma falácia que sempre acompanha o nome de Elon Musk: a de que ele não seria nada não fosse a mão visível do governo dos Estados Unidos, em oposição à mão invisível do mercado. Está mãozinha estatal se daria na forma de subsídios para carros elétricos e polpudos contratos da NASA para as espaçonaves da Space X. Sobre os subsídios, recomendo a leitura do meu artigo Os Negócios de Elon Musk com o Governo Americano.

No jornal de hoje, ficamos sabendo que o governo brasileiro vai contratar a Starlink para conectar escolas na região amazônica, pois é a única empresa que fornece velocidade de 50 Mb. Bem, acho que vou substituir meu plano da Vivo por um da Starlink também…

Piadas à parte, é bem possível que, daqui a algum tempo, os crentes do Estado dos barzinhos Vila Madalena venham com a história de que Musk não prosperaria não fosse a mãozinha do governo brasileiro. Eu sei, é ridículo, mas, como sabemos, não há limites para o ridículo.

De qualquer forma, o contrato da Space X com a NASA chegou a ser uma parte relevante do negócio de Musk (hoje não mais). Ele próprio, em uma entrevista, reconheceu a importância desse contrato para a sobrevivência de seu negócio. Mas eis que, em reportagem publicada na sexta-feira, ficamos sabendo que a Boeing também firmou contrato com a NASA para o fornecimento de espaçonaves. A diferença para a empresa de Elon Musk é que a Boeing não entregou nada. Zero.

O grande erro de avaliação do papel do Estado é achar que sua ação é necessária E suficiente, e que empresários como Elon Musk seriam dispensáveis ou, no máximo, intercambiáveis. No limite, o próprio Estado poderia ser o empresário, dado que esse personagem, na melhor das hipóteses, não faria diferença, e na pior, cobraria sua parcela de lucros para não fazer nada que o Estado não pudesse fazer.

O outro extremo, o de que o Estado não seria necessário nem suficiente, também não é verdadeiro. Em certos setores embrionários e estratégicos, como é o caso das viagens espaciais, ou em que o Estado tem um papel relevante, como o da educação pública, ações do Estado podem fazer a diferença. Não como empresário, mas como financiador e consumidor.

Os episódios da Boeing e da Starlink mostram que o empresário faz TODA a diferença. No caso específico da internet nas escolas, causa uma sensação curiosa ver os nomes da Starlink e da Telebras no mesmo parágrafo. É a mesma sensação de estranheza que teríamos ao ver um homem das cavernas chegando em uma máquina do tempo ao século XXI. Se nem a Boeing conseguiu competir com Musk, imagine a Telebras. Pois é esse tipo de ilusão que mantém vivas as estatais brasileiras. Todas elas, sem exceção.

Discurso hegemônico

“Para os entrevistados […] todos são ‘vítimas’ do Estado que cobra impostos excessivos, impõe entraves burocráticos, gerencia mal o crescimento econômico e acaba por limitar ou “sufocar” a atividade das empresas.”

Trecho do estudo da Fundação Perseu Abramo, em que este instituto do PT “descobriu” o que pensa o cidadão da periferia de São Paulo. Segundo a Fundação, este pensamento é fruto do “discurso hegemônico da mídia e das elites”.

A julgar pela votação do PT ontem, inviabilizando os aplicativos de transporte individual, o tal do “discurso hegemônico” tem algum respaldo na realidade.

O gênio de Roberto Campos

Se juntar todos os manifestantes contra as reformas no Brasil inteiro não enche uma Kombi.

Em homenagem a eles, vão aí algumas palavras de Roberto Campos em 1999, publicadas hoje no Estadão.

O gênio de Campos fica cada vez mais claro quanto mais passa o tempo.

A mentalidade do brasileiro

Estamos ainda muito distantes de viver em uma sociedade em que a livre iniciativa, cláusula pétrea da Constituição brasileira, seja uma realidade nos corações e mentes dos brasileiros.

Hoje o Estadão traz uma reportagem em tom de denúncia sobre a “terceirização” dos serviços do Uber. Pessoas estariam montando pequenas frotas e contratando motoristas, cobrando taxas e, oh horror, exigindo parte dos lucros. Isso mesmo, exigindo! Esse foi o verbo usado no título da reportagem.

Os jornalistas que cometeram essa reportagem, coitados, não têm culpa. Foram formados no caldo de cultura do capitalismo de Estado, aquele em que o governo deve regular a atividade econômica, e em que lucro pode, desde que não seja “abusivo”. Os jornalistas refletem apenas a opinião do “brasileiro médio”.

A reportagem acusa os motoristas do Uber (com conivência e até incentivo da empresa, cabe notar) de caírem nas mesmas práticas dos taxistas, que compram alvarás para explorá-los comercialmente. Não entendem, os jornalistas e os brasileiros, a diferença básica, fundamental, filosófica, entre uma prática e outra. Enquanto os taxistas negociam uma benesse do Estado, em que este regula o tamanho do mercado, os motoristas do Uber podem, a qualquer tempo e hora, adquirir um carro e sub-contratar outro motorista. Não há limite, a não ser o tamanho do próprio mercado. Não há um ente superior, que decide quem pode ou quem não pode atuar. Há apenas o equilíbrio entre demanda e oferta.

Imagine, por um momento, que a Prefeitura regulamentasse o Uber, e proibisse a sub-contratação. Somente os motoristas que tivessem capital ou linha de crédito para adquirir um veículo poderiam atuar. O mercado de motoristas de Uber seria muito menor, e dois mercados ficariam desatendidos: o de motoristas que não podem adquirir um carro e, obviamente, o de usuários.

O tom da reportagem é de “exploração”, bem típico da leitura marxista do capitalismo. Os sub-contratados estariam “sofrendo exploração” na mão dos donos do capital. Quando, na verdade, estes “motoristas sem capital” conseguiram um emprego que, de outra forma, lhes estaria vedado. Estariam engrossando a lista dos 11 milhões de desempregados do país, muitos deles fruto de políticas que visam proteger os “direitos dos trabalhadores”.

O que os jornalistas não entendem é que possa haver um contrato livremente estabelecido entre duas pessoas adultas e responsáveis. E que isso a que eles chamam de “exigência de parte dos lucros” nada mais é do que uma cláusula livremente negociada, a que o motorista adere se lhe for conveniente. Sem as amarras da CLT, que só servem para discurso de sindicato.

Claro, não faltaram as vozes dos chamados “especialistas”, alertando para uma possível queda na “qualidade do serviço”. Fiquei sem entender porque um motorista dono do próprio carro serve melhor do que um outro motorista sem carro. Mas digamos, por hipótese, que isso aconteça de fato. Neste caso, o Uber deixaria aos poucos de ser usado, este negócio deixaria de ser lucrativo e, adivinha, os motoristas sem carro seriam demitidos. O mercado se ajustaria. Claro que ao Uber isso pouco interessa, e é o primeiro a se preocupar em manter o nível do serviço. Se a empresa incentiva a prática da terceirização, é porque se julga capaz de manter o nível do serviço.

Por fim, a cereja do bolo: o depoimento de um motorista do Uber que investiu no próprio veículo, e acha desleal a concorrência dos motoristas “sem-carro”. Ele espera que a Prefeitura regulamente logo a atividade para, segundo ele, “regular a concorrência”. Essa é a mentalidade! O que importa é proteger o mercado e os lucros. O usuário final que se lasque! De que lado você acha que a Prefeitura e os vereadores vão se postar?