A utilidade da autonomia do BC

Imagine se Temer começasse a fazer comentários sobre a política monetária. Seria um Deus nos acuda! Mesmo Dilma, apesar de sua merecida fama de intervencionista, sempre teve muito cuidado com suas declarações em relação à atuação do Copom.

Mas Trump pode falar o que quiser. Pode falar porque o BC americano tem autonomia formal em relação ao governante de plantão. Seus diretores têm mandatos fixos, e só saem se quiserem. Além disso, o Fed tem algo que nenhuma legislação supre: credibilidade de mais de 100 anos de atuação independente.

Aqui, mesmo Dilma não fazendo declarações bombásticas como as de Trump, sempre ficou a desconfiança de que Tombini era apenas o executor da política monetária decidida no Palácio do Planalto. Nada mais natural, em um país onde o presidente da república, segundo a tradição certa vez verbalizada por Costa e Silva, acha-se o guardião último da moeda.

Claro que Trump não é um cidadão qualquer, e deveria cuidar melhor do que fala. Mesmo porque, pode estar dando a entender que vai usar de seu poder para contrapor a política restritiva do Fed, através de incentivos fiscais, o que seria um desastre.

Mas a sua fala é um bom exemplo de quão útil pode ser a autonomia formal do Banco Central em um país como o Brasil. Ainda mais com a perspectiva da eleição de um Bolsonaro, que tem toda a pinta de que vai se achar o guardião último da moeda, e que, assim como Trump, não tem papas na língua.