Em direção ao centro

O 2o turno obriga os candidatos a procurarem acenar para um espectro mais amplo do eleitorado. Isso começou a ficar claro ontem, nas entrevistas de Bolsonaro e Haddad no JN. Tanto um quanto o outro desautorizaram declarações que poderiam colocar em dúvida seus compromissos com as instituições democráticas.

Ao longo da campanha, é provável que Haddad também acene para o centro em questões econômicas, enquanto Bolsonaro deve reafirmar seu compromisso com os mais pobres, que é o eleitorado do PT.

O 2o turno, no mínimo, eleva o preço de um estelionato eleitoral.

No final do dia, é bom que tenhamos um 2o turno. A votação do vencedor será maior do que teve no 1o turno, conferindo-lhe ainda mais legitimidade, além de termos uma plataforma mais “centrista” no final. O candidato vence porque conseguiu atrair mais eleitores fora do seu campo político, o que é bom.

Saldão do 1o dia de campanha no 2o turno

Saldão do 1o dia de campanha no 2o turno:

– Haddad foi a Curitiba, receber novas orientações de seu chefe. Levou uma bronca, porque é claro que não deveria estar ali, aquilo seria visto como um radicalismo, como ele não sabia disso? Foi dispensado de novas visitas, e orientado a “amaciar” alguns pontos do seu Programa de Governo, como uma nova constituinte. Haddad, que estava pouco à vontade em seu figurino radical, vai poder finalmente despir a fantasia e assumir toda a moderação que Deus lhe deu. (Deus não, que ele é ateu. Lula.)

– FHC declarou sua neutralidade. Nada que resista ao Haddad “social-democrata” que se apresentou na entrevista ao JN.

– Bolsonaro recebeu apoios políticos: Ana Amélia, tentando reconstruir suas pontes com o PP do RS, Amazonino Mendes e João Doria, procurando surfar na popularidade do ex-capitão no 2o turno de seus respectivos estados. O caso de Amazonino Mendes é interessante: é do PDT, mesmo partido de Ciro, e no Amazonas a disputa foi muito igual entre Bolsonaro e Haddad. Ou seja, não teria motivo para não apoiar Haddad. No caso de Doria, o amor não foi correspondido: Bolsonaro disse que será neutro na disputa paulista.

– Haddad também recebeu apoio político. De Boulos. […] Não, Haddad ainda não recebeu apoio político.

– Bolsonaro mesmo não fez nada, a não ser a entrevista no JN. Deu um puxão de orelhas ao vivo e em cores no General Mourão por suas declarações desastradas. Só faltou dizer: “Mourão, aprende com a Manu D’Ávila, fica calado no canto aí”.

– Um capoeirista petista foi morto por um maluco bolsonarista. Foi facada. Haddad, provavelmente, já deve estar pensando em um estatuto do desarmamento envolvendo armas brancas.

O moderado

Quando você for ler um artigo de Eugênio Bucci, saiba disso que vai abaixo.

Em tempo: Dilma foi “vendida” no mercado eleitoral como “a gerentona competente”. Lembre-se disso quando tentarem vender Haddad como “o moderado”.

Os desafios de cada um

Bolsonaro e Haddad (mais este último), terão que fazer acenos para o centro.

Bolsonaro, em seu discurso pós-resultado, repisou todos os pontos de sua campanha, que lhe garantiram 46% dos votos válidos. Mas acrescentou algo importante: falou em bancada no Congresso, em 300 deputados honestos com os quais pode contar. Com essa sinalização, mata dois coelhos com uma cajadada só: demonstra apreço pelo Congresso e, indiretamente, pela democracia e, além disso, mostra que pode ter governabilidade, que é o grande receio do establishment empresarial.

Haddad, por outro lado, tem como seu primeiro compromisso de campanha a sua visita semanal ao presidiário de Curitiba. Não consigo pensar em coisa mais sectária do que isso. Se tem algo que Haddad não precisa, neste momento, é reforçar seus laços com o lulismo. A única chance de Haddad é ser mais Haddad e menos Lula. Os eleitores de Lula ele já os tem todos, ele precisa conquistar aqueles que não gostam de Lula, mas não têm nada contra o ex-prefeito de São Paulo.

Os dois candidatos têm o desafio (muito maior no caso de Haddad, obviamente) de não perder os votos do 1o turno e conquistar votos no 2o turno. Os primeiros movimentos de ambos mostram que Bolsonaro sai em vantagem, e não só nos votos que recebeu. Mas o 2o turno será longo.

Talkey

Para a S&P, é melhor ter um presidente insider que vai tentar fazer a coisa errada do que um presidente outsider que vai tentar fazer a coisa certa.

Talkey, S&P.

Crescimento de Bolsonaro

O Ibope mostra um crescimento de Bolsonaro que nenhum outro instituto mostrou até o momento.

A outra novidade foi o crescimento da rejeição a Haddad, que ficou a apenas 6 pp da rejeição de Bolsonaro (44 x 38). Chama a atenção o fato da rejeição ter aumentado sem aumento da intenção de voto, o que não acontecia desde a impugnação da candidatura Lula. No Datafolha de 28/09, a rejeição era de 32%, comparada com 27% do Ibope de 26/09. Ou seja, já podia ser detectado um aumento da rejeição, que mostrou continuidade nesta pesquisa do Ibope. E tudo isso sem uma campanha contra como a que está sendo feita contra Bolsonaro.

A pesquisa foi a campo nos dias 29 e 30/09, dias, respectivamente, das manifestações elenão e a favor de Bolsonaro. Aparentemente, as manifestações, se algum efeito tiveram, foram a favor do candidato do PSL.

Haddad não cresce desde o dia 24/09, ou seja, há uma semana. Se de fato atingiu o seu pico neste 1o turno, isso significa uma taxa de transferência de pouco mais de 50% das intenções de voto de Lula, que havia atingido a marca de 39% antes de ter a candidatura impugnada.

O índice de votos válidos de Bolsonaro é de 37%, ainda distante de uma vitória no 1o turno. Vamos ver as próximas pesquisas. Se este número atingir algo como 45%, poderá estimular o voto útil.

Auditoria da dívida

Haddad hoje em Curitiba: “vamos fazer a auditoria da dívida pública”.

Auditoria da dívida é apenas um outro nome para calote.

Você, que investe no Tesouro Direto, ou compra fundos de investimento de Renda Fixa, pode ir colocando suas barbas de molho.

Alvo de ruídos

“Alvo de ruídos”

Como se o programa econômico do petista fosse bom, mas não estivesse sendo bem entendido.

O que ocorre é o inverso.

O mercado entendeu muito bem do que se trata: o programa econômico do PT, se implementado 100%, é um voo para a Venezuela com escala na Argentina.

E não, este programa não foi enfiado goela abaixo do candidato. Haddad foi o seu coordenador.

Claro, o mercado sempre conta com algum nível de estelionato eleitoral. Mas não sem antes ajustar os preços. Cachorro mordido por cobra tem medo de linguiça.